No inicio
ao receber o diagnóstico de surdez, como esclarece Behares, a família se
desespera e entra em conflito. Sentem dificuldade na aceitação e precisam de
muita ajuda. Passam por várias situações desconfortáveis atrás de diagnósticos,
muitas idas e vindas a consultórios e exames. Até se conscientizarem da real
condição da surdez, são conduzidos pelas próprias vontades a ansiarem que o
filho seja um ouvinte e colocam suas expectativas nos profissionais de forma
traumática.
Essa
família incide, logo após, em aprendizado diário, saindo com apoio, da difícil
aceitação, para um esforço ainda maior, na tentativa de lidar com aquele ser
que para grande maioria, será dependente a vida inteira.
Em muitos
casos a família se dilui por conta de saberem-se pais de pessoas com qualquer
diferença.
Pelo que
nos confirma Behares (1991), “O nascimento de uma criança surda
supõe o largo processo de estabelecimento de um diagnóstico correto de surdez e
um processo ainda mais prolongado para que os pais elaborem sua frustração e
comecem a aceitar a identidade surda de seu filho”.
A aceitação
da diferença é o primeiro passo para um desenvolvimento emocional e social
equilibrado da criança surda de famílias ouvintes.
No inicio
da vida, segundo Behares (p.4) a interação mãe/filho é uma relação, comum a
todas as relações mãe/filho de qualquer família normal, equilibrada, não
importando se surdo ou ouvinte. E ainda relata, “não temos razões
para supor que as expectativas culturais e cognitivas das crianças surdas
depois do primeiro ano de vida sejam inferiores as das crianças ouvintes”(p.4). Enfatiza
que à vista de uma língua, compreendida na comunidade em que está inserido, o
desenvolvimento social e emocional pode tomar seu curso normalmente. Porém para
o individuo que nasce surdo, que passa por uma escalada tortuosa e adequações
conflitantes, conseguir a aquisição da língua oral em comparação com a criança
ouvinte é muito mais complicado, próximo do impossível.
A
comunicação entre pais ouvintes e o filho surdo configura muitos medos por ser
de difícil aquisição por ambas as partes. Partindo de uma reflexão mais
aprofundada, Behares (1991, p.4) esclarece-nos que
As dificuldades lingüísticas que aparecem na interação de pais ouvintes e crianças surdas não podem, tampouco, observar-se de forma isolada. Nos fatos estão fortemente vinculadas as atitudes dos pais com respeito à aceitação real da surdez de seus filhos. A vinculação interativa precoce da criança é deficitária, não como um derivado exclusivo de suas carências de audição, mas também, e fundamentalmente, pelo meio sócio-interativo no qual esta se constrói.
Se a interação depende da aceitação do filho diferente, também a aquisição da linguagem e do nível de comunicação, igualmente, configura importantíssimo acoplamento neste conjunto de situações.
Nas
palavras de GUARINELLO et al. (2013, p. 158) encontramos reforço às de
Behares quando afirma que
Muitas vezes, os pais sentem-se incapazes de cuidar de um filho surdo. Sobre esta questão, é importante considerar que a pessoa com surdez já inicia sua comunicação de modo diferente do ouvinte, uma vez que são os seus olhos a sua principal (se não a única) fonte para apreensão de informações. Dessa forma, diferentemente dos ouvintes (que se utilizam dos olhos e dos ouvidos), a visão é para os surdos o único canal com o qual eles recebem, apreendem, transformam e dão significados ao mundo que os rodeiam. (Guarinello et al., 2013, p. 158)
Para se aperceberem disso, os pais ouvintes necessitam de um tempo maior de adaptação a essa nova realidade, além da ajuda de profissionais capacitados em lidar com a deficiência e toda gama de necessidades especiais por detrás dela.
Assim, as
formas como pais ouvintes se colocam diante da dificuldade em lidar com a
surdez, serão tão cruciais, quão graves os prejuízos para o desenvolvimento
sócio afetivo e, sobretudo cognitivo da pessoa surda. Ou seja, tudo dependerá
do contexto social dessa criança.
Uma
família, cujos pais surdos, recebem uma criança também surda, naturalmente
constrói a linguagem, sem nenhuma dificuldade, visto falarem uma mesma língua.
O desenvolvimento emocional nessas crianças é muito mais equilibrado em
comparação com aquela que nasce em família de ouvintes.
O grau de
dificuldades, evidentemente, diminui quando há comunicação. Portanto, a menos
que os pais ouvintes se dediquem a aprender as diversas formas de comunicação
com a sua criança, estará prejudicada a interação entre esses. E pela forma
como apreende tudo que a rodeia, para a criança surda, será tão menos
significante quanto o fato de que os pais ouvintes desejam que a cultura
ouvinte prevaleça sobre a cultura surda. Grandes dificuldades de interação
podem ocorrer trazendo prejuízo no relacionamento sócio afetivo desse indivíduo
que arrastará ao longo de toda vida adulta.
Dessa
forma, “apesar de que os pais adquiram precocemente línguas
sinalizadas, não podemos afirmar que a limitação de base deixe de existir” Behares (1991,
p.4).
Toda
criança ao nascer precisa criar uma identidade linguística com seus pares
independente de serem ouvintes ou não. Crianças surdas filhas de pais ouvintes,
desde cedo terão dificuldades em interagir pela falta de comunicação. Cabe aos
pais a tarefa de ir a busca dessa identidade, contatando pessoas surdas adultas
que farão acontecer oportunidades para garantir o desenvolvimento da linguagem,
construindo assim, caminhos para a comunicação.
Isso
segundo Behares, não ocorre com as crianças surdas, filhas de pais surdos, pois
nesse caso a identidade já existe e, por conseguinte, a comunicação se dará
naturalmente. Sendo a Língua de sinais sua primeira língua, - em comum - e toda
forma de comunicação visual de suporte, a criança junto à comunidade surda,
apresenta gradativamente, um desenvolvimento normal como qualquer criança.
Sendo neste caso, a crescente sensação de pertencimento, a responsável pela
valoração do sujeito que, em se sentindo semelhante, sem a cobrança da cultura
predominante, se estabelece como ser, legítimo, compatível ao que rege a
legislação de garantia de direitos.
Referências
Bibliográficas
BEHARES, Luis Ernesto. Novas
correntes na educação do surdo: dos enfoques clínicos aos
culturais. Santa Maria, UFSM,1991.
GUARINELLO,
Ana Cristina et al. Reflexões sobre as interações linguísticas entre
familiares ouvintes - filhos surdos. Curitiba, 2013
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