Juraci Reis
Não
dá para falar em superação da alienação sem lembrar Paulo Freire (1963), que
nos idos de 60, traz a Tendência Crítica Libertadora, em oposição a
Tradicional, com a preocupação de formar cidadãos críticos, capazes de atuar na
sua história. Esse tão renomado educador, de visão futurista, vê em cada
pessoa, um ser capaz de mudar a realidade em que vive, ou seja, capaz de
transformar de forma consciente a sociedade, libertando os indivíduos dos jugos
que o oprimem.
Freire
acreditava na capacidade do trabalhador mais humilde, de ser crítico da sua
realidade. Também valorizava o que cada um trazia de conhecimento e partia daí
os temas de discussão para o processo de alfabetização. Assim, através da
alfabetização esperava que o povo letrado, se libertasse da opressão e pela
educação, através de reflexões críticas, conseguisse de igualdade se libertar
dos opressores, tendo com isso melhor qualidade de vida.
Desta
forma, o trabalhador precisava pensar a sua vida e atuar em sua libertação,
como diz Mercado (1995):
"A
educação para ser libertadora precisa objetivar uma ação e reflexão consciente
e criadora das classes oprimidas sobre seu próprio processo de libertação
[...]"
"A
educação libertadora questiona concretamente a realidade das relações do homem
com o mundo e com os outros homens, buscando uma transformação."
Nessa
tendência, os conteúdos são abordados a partir de temáticas da vida cotidiana
de cada educando, dentro de uma dialética cujo pressuposto é trazer o conteúdo
necessário à formação, a qual o professor a partir daí, ou seja, partindo
daquilo que cada individuo carrega de bagagem vivida, aproveita o conhecimento
que vem da vivência, na construção do aprendizado dele e do grupo. Dessa forma,
a realidade é a mediadora de tudo que precisa ser aprendido, valorizando somente
aquilo quem tem real importância para uma sociedade verdadeiramente
democrática.
Essa
pedagogia tem como objetivo maior conforme Libânio (1996), atingir um estado de
consciência da realidade, com o professor sempre acompanhando o aluno nessa
procura sem fim, a cata da modificação social. Portanto, para esse teórico a
escola deve ser um local onde as camadas populares se sintam motivadas a luta
pelo processo de transformação tendo como principal função buscar esse nível de
consciência.
Paulo
Freire em seu fazer filosófico deixa-nos explicitado:
"A
liberdade, que é uma conquista, e não uma doação exige permanente busca. Busca
permanente que só existe no ato responsável de quem a faz. Ninguém tem
liberdade para ser livre: pelo contrário, luta por ela precisamente porque não
a tem. Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se
libertam em comunhão”. (FREIRE, 1987)
Freire
também ressaltava que deveria usar todas as suas possibilidades para participar
de práticas coerentes, que não estava no mundo para se adaptar a ele e sim para
transformá-lo. Igualmente, mostra afinidades com a dialética socrática em sua
práxis e em suas obras. Em Pedagogia da Esperança, seu legado permite as
gerações oprimidas retirar coragem de trabalhar a transformação social, virando
seres de inserção do mundo e não uma adaptação ao mundo. Formou pensadores que
atuam até os dias de hoje.
Por
conseguinte, é importante observar que uma mudança não constitui a solução dos
problemas da educação, mas sendo o homem um ser cultural, permite reconstruir a
ideia de que o conhecimento compõe um conjunto de assuntos a serem aprendidos,
adotando temas da atualidade como objeto de estudo, desenvolvendo uma educação
útil na realidade de ensino em que aparecem os problemas. Assim o professor
necessita estar sempre construindo mudanças em sua identidade docente e pensar
de que maneira essa construção pode se dar.
Relembrando
o mestre, Tfouni (2002) rememora o que Freire preconizou e exemplificou.
As técnicas utilizadas por esse cientista da pedagogia humanista deixou uma
herança perpétua de valor incomensurável. Ao promover a conscientização
política dos homens e mulheres na forma dialógica, colocando-os em pé de
igualdade com direitos a voz e vez; utilizando como temas a própria vida do
sujeito e do país, fazendo-os refletir e agir sobre os seus conflitos; quando
permitiu a esses homens e mulheres o direito de sonhar, lançou-se ao mundo como
um dos maiores educadores que já pisou nessa Terra. Através da pedagogia
intitulada “Pedagogia da Libertação”, Paulo Freire consagrou-se pela luta da
transformação social desses indivíduos, angariando assim, um respeito que se
produziu em todo o mundo.
Sua
capacidade de sonhar um sonho nunca antes sonhado transmitiu na história,
através da cultura de que todos independente de sua raça ou credo, se
libertaria pela educação. Essa prática que revolucionou um mundo interno, acostumado
a abaixar a cabeça para os poderosos e a cultivar a cultura da obediência, fez
que angariasse respeito de povos de todos os cantos dos cinco continentes.
Nessa pedagogia viva não cabia reificadores, portanto toda ação
remetia ao homem consciente, não sendo, portanto o valor do trabalho, mais que
o valor do ser que o produz.
Semelhantemente,
outros educadores sobrevieram, analisando comportamentos e colaborando para que
seres humanos saíssem da profunda sonolência pela qual século de dominação
conduziu. Tfouni vem nos inserir nesse debate, aludindo da importância do
letramento na condução de pessoas. Essa fala contrapõe muitos educadores que
defendem a alfabetização pelo aprendizado da escrita somente, ou seja, bastando
o indivíduo saber ler e escrever os códigos. Entretanto, isso só não basta,
segundo Tfouni, os dois, tanto alfabetização como letramento se complementa,
não sendo um mais importante que o outro. Ainda nos esclarece que a pessoa pode
até ser letrada sem que seja alfabetizada. Uma pessoa letrada consegue ser
crítica, participativa, o que nem sempre ocorre com quem é somente
alfabetizada. Assim, conhecimento de mundo e domínio da escrita deve caminhar
em prol do homem cidadão de direitos tirando-o da invisibilidade.
Referência:
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: a
pedagogia crítico-social dos conteúdos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1996.
MERCADO, Luís Paulo Leopoldo. A Questão dos Conteúdos numa Metodologia
Histórico-Crítica
FREIRE,
P. Pedagogia do
oprimido. 44º ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 2005.
FREIRE,
Paulo Régis Neve. Resenha. A Importância do Ato de Ler. Em três artigos que se
completam. São Paulo – SP. Editora Cortez, 1986
RIBEIRO, Claudio da Silva. Movimentos Sociais e Educação: Rede de ações e letramento para oi mundo v.2/ Claudio da Silva Oliveira ; Virgínia de Oliveira Silva – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2013.
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