Juraci Reis
Quando
era criança me perguntava sempre, para quê servia algo tão chato. E de fato
era! Tratado como conteúdo apenas para cumprir o currículo, o ensino de fração
era na ocasião, para os alunos da minha classe, uma tortura difícil de
compreender. O aluno, mecanicamente, tinha a obrigatoriedade de memorizar
através dos exercícios trazidos nos parcos livros que existiam na época. Daí,
eu ter criado verdadeira ojeriza! Entretanto, aos poucos após o Curso Normal,
pude perceber que fração não era de tudo inútil. Mas, somente após me lançar na
carreira de docente é que fui levada a perceber o quanto era importante
compreender o uso da fração em nossas vidas, embora, o mais convencional dos
números racionais é a utilização dos decimais.
Para
melhor compreender a situação que vivencia o aluno no entendimento desse
conteúdo, somente tendo sido aluno, principalmente em meados do século XX em
que se via como ideia de medida, sem
qualquer material de apoio e nenhuma aplicabilidade. E nessa concepção
de fração como medida, a única que eu conseguia compreender era a metade. E não
porque tenha aprendido na escola, mas sim pelas instruções que recebia da minha
mãe: “parte no meio, metade para você e metade pro seu irmão”. Difícil neste
contexto foi quando vieram mais dois irmãos. Os pedaços ficaram cada vez
menores. Mas saber que isso era fração, isso não sabia, somente aprendendo mais
tarde a significação, sem, contudo, entender para que servisse.
Ao
iniciar minha saga docência, passei por vários fracassos e isso me fazia um
grande mal estar. Eu sabia que o fracasso era meu e não de meus alunos. Muitas
decepções comigo mesma me acometeram e a cada vez eu entrava em parafusos e me
deprimia. Buscava soluções sempre diferenciadas para que meus pequenos pudessem
ter as possibilidades que não tive.
Acariciava-me o ego todas as
vezes que conseguia aprender junto ao meu aluno em encontrarmos soluções para
as situações propostas. Aprendi a confeccionar material e a utilizar o contexto
do aluno nas aulas de fração. Facilitou muito as aulas, a decida do pedestal e
o entendimento de que não detinha o saber. Juntos construímos significados para
as frações que aparecem no dia a dia, transformamos em decimais com a maior
facilidade e na prática medíamos, comparávamos, criávamos, explorávamos. Em verdade
queria descobrir maneiras que pudesse produzir aprendizado, para enfim, que
meus alunos não tivessem as mesmas dificuldades que tive com relação a
Matemática, em toda minha vida.
Dizia sempre para mim mesma que
não poderia fazer aos meus alunos o que fizeram comigo. Pois que, se ensinasse
da forma como me ensinaram, eu nada estaria ensinando. Iniciei então, uma busca
sem fim por estratégias diversas para houvesse de fato aprendizado na minha
sala. Descobri com isso que aprendia fração à medida que adentrava na
construção de processo para facilitar a apreensão desse “bicho papão” chamado
fração.
Certa vez tivemos que trabalhar
porcentagem e a direção exigia que seguisse o livro didático sem a preocupação
com a flexibilidade que deve existir no planejamento. Nunca antes havia
aprendido, - sem vergonha de confessar-, e foi quando descobrimos que pela
simplificação de fração, conseguíamos chegar ao resultado esperado, envolvendo
percentagem. A cada descoberta meu entusiasmo crescia e me empolgava, contagiando
os meninos que já haviam passado por frações em três anos anteriores sem
assimilar qualquer coisa. Quando iniciei os estudos dos números racionais, foi
uma reclamação só. Ninguém queria saber. Dessa forma, tinha que fazer a
diferença, mas não sabia como. Construímos a partir de varias experimentações,
com material concreto, dos quais eram manipulados e não somente observados.
Situações vivenciadas em diferentes contextos dos meninos foram muito
investigadas e aproveitadas. Tudo que eles me perguntavam se soubesse, não
respondia, se não soubesse também não. Instigava-os a pesquisar, a pensar.
Saudades dessa turma! Aprendi mais que em qualquer banco de escola onde estive!
Nunca antes tinha sido tão aluna!
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