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domingo, 14 de abril de 2013

"Atitude responsiva ativa” e “compreensão responsiva" - AD1 de Língua Portuguesa na Educação II 2013.1


Universidade Federal Do Estado Do Rio De Janeiro
Centro de Ciências Humanas e Sociais - CCH

 

  Licenciatura em Pedagogia

LIPEAD/UNIRIO/Cederj

AVALIAÇÃO A DISTÂNCIA (AD1)

Língua Portuguesa na Educação II     2013.1
 
 
O aparecimento dos textos em uma sala de aula deve pressupor a existência de um interesse comum dos alunos aos quais a aula se dirige, um interesse comum que vai sendo produzido pelo desenvolvimento de uma aproximação diferenciada a diferentes textos, com diferentes formas de textualização, visando a diferentes situações de interlocução.
Nas três questões desta AD, vamos analisar o trabalho feito por uma professora a partir de uma atividade denominada “roda de notícias” (cf. BRAUN et AL, 2009) que, neste dia, começa com a escolha da notícia que a turma irá ler junto e cujo tema fará parte de uma séria de atividades de leitura e escrita.

ATENÇÃO: Observe a diferença entre os exercícios trazidos como proposta da professora (aos quais você NÃO irá responder) e às questões que são para você, aluna (o) do curso de Pedagogia UNIRIO.
 
PARTE 1: Em uma turma do 3º ano do ensino fundamental, a professora entrega, a cada grupo de crianças, diferentes exemplares do suplemento do jornal O GLOBO, intitulado Globinho, dizendo:
“Vocês se lembram de que já lemos antes notícias retiradas desse jornal? Quais foram ? » E as crianças vão se lembrando : « aquela sobre o teatro de Maria Clara Machado e aquela sobre a Feira do Livro e...”
 
A tarefa pedida:
Vocês vão fazer uma leitura global das matérias e reportagens dos jornais que distribuí para escolherem o texto que vamos ler por inteiro. Como já vimos, a leitura global é aquela leitura que olha os títulos, subtítulos, os diferentes tamanhos de letras, as figuras, as fotografias... Vamos estabelecer um contato inicial com o texto e pensar sobre ele, do que ele trata. Iremos fazer isso para escolher o texto que vamos ler por inteiro a fim de saber o que é importante nele, os objetivos do autor, o que ele traz.
As crianças começam a folhear os jornais que estão sobre a mesa de cada grupo e começam a ler e conversar. Pelo menos quatro grupos se detêm na página onde há várias fotos de uma índia em momentos da vida em sua tribo e onde está escrito com letras de tamanhos e cores diferentes:               
INDIAZINHA
VIRA ESTRELA DE
CINEMA
“Vamos ler esta aqui, eu vi na televisão reportagem com essa indiazinha. O filme dela é muito bom!”, diz uma das crianças para as outras de seu grupo. “Como você sabe que ela fez um filme?” Eu vi na televisão. E está escrito aqui “ indiazinha vira estrela de cinema” (lendo)
     

Questão 01 – (3,5 pontos)

Escreva um texto objetivo e claro sobre como os conceitos de “atitude responsiva ativa” e “compreensão responsiva” são ferramentas do trabalho da professora que organiza a atividade descrita acima.
 
Para escrever sobre o trabalho dessa professora lancei mão de José Manuel Moran quando em entrevista ao Portal Escola Conectada da Fundação Ayrton Senna, publicada em 01/08/2008, fala sobre a aprendizagem significativa. Nessa entrevista moram afirma:
“A escola precisa partir de onde o aluno está, das suas preocupações, necessidades, curiosidades e construir um currículo que dialogue continuamente com a vida, com o cotidiano. Uma escola centrada efetivamente no aluno e não no conteúdo; que desperte curiosidade, interesse[...]Educadores que organizem mais atividades significativas do que aulas expositivas, que sejam efetivamente mediadores mais do que informadores._
 
De tal modo, o trabalho da professora baseado na dialogicidade, favoreceu que os alunos tivessem a oportunidade de uma resposta mais ativa, conectada nas situações de ensino e aprendizagem com significado. Assim, a docente estabeleceu vínculos de aprendizagem contextualizados possibilitando ao aluno um conhecimento funcional e colaborativo.
Moran ainda reflexionando sobre a forma como a escola deve atuar leva-nos ao pensamento crítico ao alegar que
“A escola precisa cada vez mais incorporar o humano, a afetividade, a ética, mas também as tecnologias de pesquisa e comunicação em tempo real. [...]
 
Dessa forma vimos nas atividades propostas pela professora uma atitude responsiva com relação a seus alunos que imediatamente responderam as expectativas prenunciadas. A sua prática beneficiou a compreensão responsiva ativa, permitindo com muito mais significado, que o aprendizado se instalasse.
Com relação a responsividade, BAKHTIN (1998) afirma que toda compreensão quando concreta, é ativa, avaliando como uma abstração a compreensão passiva. Bakhtin nos alerta para o entendimento de que tanto a compreensão quanto a resposta não estão dissociadas, elas se fundem na dialeticidade, ou seja, uma não existe sem a outra.
Essa prática fez com que o ensino fosse além da proposta estagnada que prevê uma educação voltada para memorização e repetição de conteúdos. Vimos então, nesse trabalho, que a compreensão responsiva ativa iniciou-se com a compreensão para advir à atitude responsiva, através da interação verbal e não verbal. De forma significativa, a professora incluiu temas do interesse dos alunos.
 
 
PARTE 2: Depois de muito debaterem, as crianças escolhem ler por inteiro a notícia sobre o lançamento do filme “Tainá – A origem”, publicada no suplemento do dia 02 de fevereiro de 2013, transcrita a seguir:
Nascida no Pará, a menina Wiranu Tembé vive a personagem principal de “Tainá – a origem”, que estreia sexta-feira.
Marina Cohen

  A indiazinha mais famosa do Brasil está de volta! Depois de dois filmes que mostraram as aventuras da garotinha nascida numa aldeia da Floresta Amazônica, o longa-metragem “Tainá – A origem”, que estreia na sexta-feira, contará como começou a história dessa pequena guerreira. Na nova jornada, a menina órfã precisa descobrir quem é sua mãe e também ajudar sua tribo a enfrentar o inimigo Jurupari, que quer destruir a floresta. Mas a personagem não está sozinha. Sua amiga Laurinha, vinda da cidade grande, e o índio Gobi, um verdadeiro nerd, serão seus companheiros.
– Por que uma menina não pode ser guerreira? E por que um menino indígena não pode ter um laptop? Além de mostrar as peripécias desse trio diferente, o filme também questiona esses padrões – explica a diretora, Rosane Svartman.  – Esse também é um jeito de as crianças conhecerem melhor os povos da floresta e a Amazônia, uma região linda que fica no Norte do nosso país.
Esse é o terceiro longa da série “Tainá”. O primeiro foi lançado em 2000 e o segundo , em 2004, sempre com índias de verdade interpretando a personagem principal. O novo filme mantém a tradição. Assim como Tainá, a menina Wiranu També, de 8 anos, adora subir em árvores, andar de canoa, brincar com macacos e de arco e flecha.
Wiranu foi descoberta pela equipe de produção na aldeia Tekohaw, no Pará, quando tinha 5 anos. Cerca de 2.200 meninas fizeram o teste para interpretar Tainá, mas o preparador de elenco Cláudio Barros se impressionou com a esperteza de Wiranu logo que a conheceu. Ela não falava português, mas aprendeu muito rápido. Para a indiazinha, a parte mais divertida da filmagem foi andar de balão – sim., tem um balão todo colorido no filme!
 – Adorei passear de balão. Também me diverti muito com a música que a gente canta no filme para espantar o medo – lembra Wiranu, se referindo à canção folclórica “Toque Patoque”, que é tema do longa-metragem.
A menina garante que não teve medo de nada, nem de contracenar com filhotes de onça, com macacos e araras. Pelo contrário, Wiranu adora bichos.
– Tainá não tem medo de nada. Nem eu! – avisa ela.
Mas nem tudo é trabalho. Nos intervalos das gravações, Wiranu, a lourinha Beatriz Noskoski (que interpreta Laurinha) e Igor Ozzy (o Gobi) se divertiam na floresta.
– Adorávamos tomar banho de rio no fim do dia, depois das filmagens, e brincar no meio das árvores – conta Bia, que, como muitas crianças da cidade grande, nunca havia entrado em uma floresta.

Antes da leitura por inteiro da notícia, a professora escreveu no quadro:
A notícia é sobre o lançamento de um filme. Será que nela encontraremos:

1)    um resumo da história do filme?

2)    as características das personagens do filme?

3)    informações sobre a indiazinha Wiranu Tembé que virou estrela de cinema?

4)    palavras específicas da área do cinema? Quais?

5)    Palavras com as letras “w”, “k”? Quais? Por quê?

 

Questão 02 – (3,5 pontos)


De que modo as perguntas colocadas pela professora podem ser descritas em termos do trabalho com diferentes níveis de conhecimento prévio da criança? Explique.

 

A professora ofertou aos alunos subsídios para que eles mesmos encontrassem caminhos para compreender e interpretar o texto, respeitando o conhecimento de mundo que cada um traz, previamente, antes mesmo de saber ler palavras. Ao invés de perguntas vazias tão em voga nas interpretações de textos nas escolas, a professora, de maneira inteligente, instigou seus alunos vontade, na busca de  solucionar os questionamentos, pelo prazer de saber.

Dessa forma, a educadora, proporcionou autonomia aos pequenos leitores, instigando a curiosidade tão presente nos meninos, muitas vezes destruída por práticas pedagógicas arcaicas. A leitura de mundo pertencente a cada ser, portanto intrínseca, nada existe de homogêneo nessa interpretação, visto que a cada pessoa uma visão diferente de um mundo próprio e intransferível. Embora, ouvir o outro e o sentido que a leitura teve para cada um, discutir argumentos a fim e respeitar os componentes exigidos pelo texto, deva fazer parte dessa prática.

Sendo a leitura uma prática social para melhor entender o mundo, a professora organizou o trabalho para que os alunos tivessem oportunidade de ativar seus conhecimentos e assim atribuir significados as questões. Além de utilizar os conhecimentos de que o aluno dispõe, fez o tipo de pergunta que induz ao aprendizado daquilo que ele ainda não sabe.

 

PARTE 3: Em outro dia de aula, a pedido das crianças, a professora apresentou a canção “Toque Patoque” citada na notícia. Primeiro ela apresentou uma versão com regência de Ederson Teixeira e Ana Carolina Marques, a fim de mostrá-la como existente antes do filme, já que faz parte do folclore de Recife, Pernambuco. Assista em http://www.youtube.com/watch?v=9nJCe0F6Xl8

Depois ela apresentou um vídeo promocional do filme “Tainá – A origem” no qual as personagens infantis cantam e dançam a canção. Assista em:     http://www.youtube.com/watch?v=--1P7YvcFQk

No quadro colocou:

Toque Patoque

 

Toque patoque
Patoque toque
tiquetê tiquetê
tumba tumba tumba tumba

Depois de brincarem com a letra e com a música, a professora pediu às crianças que pegassem os cadernos e escrevessem uma carta para a redação do jornal Globinho pedindo a eles que lhes informassem sobre a língua e o significado da letra da canção. Antes, porém, conversaram sobre as condições de produção de uma carta.

Questão 03 – (3,0 pontos)


Explique a atividade proposta pela professora com base na noção de “escrita como atividade produtora de sentido”. 

Perguntado como favorecer a aprendizagem significativa no contexto escolar, Moran na mesma entrevista descrita acima responde o seguinte:

[...] Partindo de situações concretas, de histórias, casos, vídeos, jogos, pesquisas, práticas e ir incorporando informações, reflexões, teoria a partir do concreto. Quanto menor é o aluno, mais práticas precisam ser as situações para que ele as perceba como importantes para ele. Não podemos dar tudo pronto no processo de ensino e aprendizagem. Aprender exige envolver-se, pesquisar, ir atrás, produzir novas sínteses fruto de descobertas.

Os conteúdos precisam ter uma utilidade para despertar nos alunos a vontade de aprendê-los, além do que, deve aproximar-se do aluno e de suas vivências, expressivamente. Para tanto é imprescindível que as atividades de escrita para ser uma atividade produtora de sentido, tenham como produto fim, o leitor. Afinal, escreve-se para quê, se não for para ter seu texto lido?

Dessa forma, a professora deu sentido à escrita de seus alunos tornando-a funcional e com significado. Ao partir de situações concretas e lúdicas como pronunciou Moran, os alunos foram levados ao conhecimento acadêmico de maneira prazerosa, com envolvimento, sem serem passivos e estanques. Ao final ainda terão a possibilidade de ampliar seus conhecimentos sem com isso tê-lo recebido pronto, aprisionado dentro de um currículo já ultrapassado. Esta metodologia, proposta de um trabalho inovador, imprime significado ao ato de aprender, pois leitura e escrita foram carregadas de sentidos, capazes de promover transformações, objetivando letrar, muito além de que ensinar a ler e escrever.


Fonte:



ZOZZOLI, Rita Maria Diniz - A noção de compreensão responsiva ativa no ensino e na aprendizagem

MORAN, José Manuel - Aprendizagem significativa

 

Um comentário:

  1. "...a professora pediu às crianças que pegassem os cadernos e escrevessem uma carta para a redação do jornal Globinho pedindo a eles que lhes informassem sobre a língua e o significado da letra da canção." Gostaria muito de saber o significado da música.

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