Universidade Federal Do Estado Do Rio De Janeiro
Centro de
Ciências Humanas e Sociais - CCH
Licenciatura em Pedagogia
LIPEAD/UNIRIO/Cederj
AVALIAÇÃO A
DISTÂNCIA (AD1)
Língua Portuguesa na Educação
II 2013.1
O aparecimento dos textos em uma sala
de aula deve pressupor a existência de um interesse comum dos alunos aos quais
a aula se dirige, um interesse comum que vai sendo produzido pelo
desenvolvimento de uma aproximação diferenciada a diferentes textos, com
diferentes formas de textualização, visando a diferentes situações de
interlocução.
Nas três questões
desta AD, vamos analisar o trabalho feito por uma professora a partir de uma atividade denominada “roda de
notícias” (cf. BRAUN et AL, 2009) que, neste dia, começa com a escolha da
notícia que a turma irá ler junto e cujo tema fará parte de uma séria de
atividades de leitura e escrita.
ATENÇÃO: Observe a diferença entre os exercícios
trazidos como proposta da professora (aos quais você NÃO irá responder) e às
questões que são para você, aluna (o) do curso de Pedagogia UNIRIO.
PARTE 1: Em uma turma do 3º ano do ensino fundamental, a professora entrega, a
cada grupo de crianças, diferentes exemplares do suplemento do jornal O GLOBO,
intitulado Globinho, dizendo:
“Vocês se lembram de que já lemos antes notícias retiradas desse jornal?
Quais foram ? » E as crianças vão se lembrando : « aquela
sobre o teatro de Maria Clara Machado e aquela sobre a Feira do Livro e...”
A tarefa pedida:
Vocês vão fazer uma leitura global das matérias e reportagens dos jornais
que distribuí para escolherem o texto que vamos ler por inteiro. Como já vimos,
a leitura global é aquela leitura
que olha os títulos, subtítulos, os diferentes tamanhos de letras, as figuras,
as fotografias... Vamos estabelecer um contato inicial com o texto e pensar
sobre ele, do que ele trata. Iremos fazer isso para escolher o texto que vamos ler por inteiro a fim de saber o
que é importante nele, os objetivos do autor, o que ele traz.
As crianças começam a folhear os jornais que
estão sobre a mesa de cada grupo e começam a ler e conversar. Pelo menos quatro
grupos se detêm na página onde há várias fotos de uma índia em momentos da vida
em sua tribo e onde está escrito com letras de tamanhos e cores diferentes:
INDIAZINHA
VIRA ESTRELA DE
CINEMA
“Vamos ler esta aqui, eu vi na televisão reportagem com essa indiazinha.
O filme dela é muito bom!”, diz uma das crianças para as outras de seu grupo. “Como
você sabe que ela fez um filme?” Eu vi na televisão. E está escrito aqui “
indiazinha vira estrela de cinema” (lendo)
Questão 01 – (3,5
pontos)
Escreva um texto objetivo e claro sobre como
os conceitos de “atitude responsiva ativa” e “compreensão responsiva” são
ferramentas do trabalho da professora que organiza a atividade descrita acima.
Para escrever sobre o trabalho dessa professora lancei mão de José Manuel Moran quando em entrevista ao Portal Escola Conectada da Fundação Ayrton
Senna, publicada em 01/08/2008, fala
sobre a aprendizagem significativa. Nessa entrevista moram afirma:
“A escola precisa partir de onde o aluno
está, das suas preocupações, necessidades, curiosidades e construir um
currículo que dialogue continuamente com a vida, com o cotidiano. Uma escola
centrada efetivamente no aluno e não no conteúdo; que desperte curiosidade,
interesse[...]Educadores que organizem mais atividades significativas do que
aulas expositivas, que sejam efetivamente mediadores mais do que informadores._
De tal modo, o trabalho da professora baseado na dialogicidade, favoreceu
que os alunos tivessem a oportunidade de uma resposta mais ativa, conectada
nas situações de ensino e aprendizagem com significado. Assim, a docente
estabeleceu vínculos de aprendizagem contextualizados possibilitando ao aluno
um conhecimento funcional e colaborativo.
Moran ainda reflexionando sobre
a forma como a escola deve atuar leva-nos ao pensamento crítico ao alegar que
“A escola precisa cada vez mais incorporar o
humano, a afetividade, a ética, mas também as tecnologias de pesquisa e
comunicação em tempo real. [...]
Dessa forma vimos nas atividades propostas pela professora uma atitude
responsiva com relação a seus alunos que imediatamente responderam as
expectativas prenunciadas. A sua prática beneficiou a compreensão responsiva ativa, permitindo com muito
mais significado, que o aprendizado se instalasse.
Com
relação a responsividade, BAKHTIN (1998) afirma que toda compreensão quando
concreta, é ativa, avaliando como uma abstração a compreensão passiva. Bakhtin
nos alerta para o entendimento de que tanto a compreensão quanto a resposta não
estão dissociadas, elas se fundem na dialeticidade, ou seja, uma não existe sem
a outra.
Essa
prática fez com que o ensino fosse além da proposta estagnada que prevê uma
educação voltada para memorização e repetição de conteúdos. Vimos então, nesse
trabalho, que a compreensão responsiva
ativa iniciou-se com a compreensão para advir à atitude responsiva, através da interação verbal e não verbal. De
forma significativa, a professora incluiu temas do interesse dos alunos.
PARTE 2: Depois de muito debaterem, as crianças escolhem ler por
inteiro a notícia sobre o lançamento do filme “Tainá – A origem”,
publicada no suplemento do dia 02 de fevereiro de 2013, transcrita a seguir:
Nascida no Pará, a menina Wiranu Tembé vive a
personagem principal de “Tainá – a origem”, que estreia sexta-feira.
Marina Cohen
A indiazinha mais famosa do
Brasil está de volta! Depois de dois filmes que mostraram as aventuras da
garotinha nascida numa aldeia da Floresta Amazônica, o longa-metragem “Tainá
– A origem”, que estreia na sexta-feira, contará como começou a história
dessa pequena guerreira. Na nova jornada, a menina órfã precisa descobrir
quem é sua mãe e também ajudar sua tribo a enfrentar o inimigo Jurupari, que
quer destruir a floresta. Mas a personagem não está sozinha. Sua amiga
Laurinha, vinda da cidade grande, e o índio Gobi, um verdadeiro nerd, serão
seus companheiros.
– Por que uma menina não pode ser guerreira? E
por que um menino indígena não pode ter um laptop? Além de mostrar as
peripécias desse trio diferente, o filme também questiona esses padrões –
explica a diretora, Rosane Svartman. –
Esse também é um jeito de as crianças conhecerem melhor os povos da floresta
e a Amazônia, uma região linda que fica no Norte do nosso país.
Esse é o terceiro longa da série “Tainá”. O
primeiro foi lançado em 2000 e o segundo , em 2004, sempre com índias de
verdade interpretando a personagem principal. O novo filme mantém a tradição.
Assim como Tainá, a menina Wiranu També, de 8 anos, adora subir em árvores,
andar de canoa, brincar com macacos e de arco e flecha.
Wiranu foi descoberta pela equipe de produção na
aldeia Tekohaw, no Pará, quando tinha 5 anos. Cerca de 2.200 meninas fizeram
o teste para interpretar Tainá, mas o preparador de elenco Cláudio Barros se
impressionou com a esperteza de Wiranu logo que a conheceu. Ela não falava
português, mas aprendeu muito rápido. Para a indiazinha, a parte mais
divertida da filmagem foi andar de balão – sim., tem um balão todo colorido
no filme!
– Adorei
passear de balão. Também me diverti muito com a música que a gente canta no
filme para espantar o medo – lembra Wiranu, se referindo à canção folclórica
“Toque Patoque”, que é tema do longa-metragem.
A menina garante que não teve medo de nada, nem
de contracenar com filhotes de onça, com macacos e araras. Pelo contrário,
Wiranu adora bichos.
– Tainá não tem medo de nada. Nem eu! – avisa
ela.
Mas nem tudo é trabalho. Nos intervalos das
gravações, Wiranu, a lourinha Beatriz Noskoski (que interpreta Laurinha) e
Igor Ozzy (o Gobi) se divertiam na floresta.
– Adorávamos tomar banho de rio no fim do dia,
depois das filmagens, e brincar no meio das árvores – conta Bia, que, como
muitas crianças da cidade grande, nunca havia entrado em uma floresta.
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Antes da leitura por inteiro da notícia, a professora
escreveu no quadro:
A notícia é sobre o lançamento de um filme. Será
que nela encontraremos:
1) um resumo da história do filme?
2) as características das personagens do filme?
3) informações sobre a indiazinha Wiranu Tembé que virou
estrela de cinema?
4) palavras específicas da área do cinema? Quais?
5) Palavras com as letras “w”, “k”? Quais? Por quê?
Questão 02 – (3,5
pontos)
De que modo as
perguntas colocadas pela professora podem ser descritas em termos do trabalho
com diferentes níveis de conhecimento prévio da criança? Explique.
A professora ofertou aos alunos subsídios
para que eles mesmos encontrassem caminhos para compreender e interpretar o
texto, respeitando o conhecimento de mundo que cada um traz, previamente, antes
mesmo de saber ler palavras. Ao invés de perguntas vazias tão em voga nas
interpretações de textos nas escolas, a professora, de maneira inteligente,
instigou seus alunos vontade, na busca de solucionar os questionamentos, pelo prazer de
saber.
Dessa forma, a educadora, proporcionou
autonomia aos pequenos leitores, instigando a curiosidade tão presente nos
meninos, muitas vezes destruída por práticas pedagógicas arcaicas. A leitura de
mundo pertencente a cada ser, portanto intrínseca, nada existe de homogêneo nessa
interpretação, visto que a cada pessoa uma visão diferente de um mundo próprio
e intransferível. Embora, ouvir o outro e o sentido que a leitura teve para
cada um, discutir argumentos a fim e respeitar os componentes exigidos pelo
texto, deva fazer parte dessa prática.
Sendo a leitura uma prática social para
melhor entender o mundo, a professora organizou o trabalho para que os alunos
tivessem oportunidade de ativar seus conhecimentos e assim atribuir significados
as questões. Além de utilizar os conhecimentos de que o aluno dispõe, fez o
tipo de pergunta que induz ao aprendizado daquilo que ele ainda não sabe.
PARTE 3: Em outro dia de aula, a pedido das crianças, a professora apresentou a
canção “Toque Patoque” citada na notícia. Primeiro ela apresentou uma versão
com regência de Ederson Teixeira e Ana Carolina Marques, a fim de mostrá-la como
existente antes do filme, já que faz parte do folclore de Recife, Pernambuco.
Assista em http://www.youtube.com/watch?v=9nJCe0F6Xl8
Depois ela
apresentou um vídeo promocional do filme “Tainá – A origem” no qual as personagens
infantis cantam e dançam a canção. Assista em: http://www.youtube.com/watch?v=--1P7YvcFQk
No quadro colocou:
Toque Patoque
Toque patoque
Patoque toque
tiquetê tiquetê
tumba tumba tumba tumba
Depois de brincarem com a letra e com a música, a professora pediu às
crianças que pegassem os cadernos e escrevessem uma carta para a redação
do jornal Globinho pedindo a eles que lhes informassem sobre a língua e o
significado da letra da canção. Antes, porém, conversaram sobre as condições de
produção de uma carta.
Questão 03 – (3,0
pontos)
Explique a atividade proposta pela professora com base na noção de “escrita como atividade produtora de
sentido”.
Perguntado como favorecer a aprendizagem significativa no contexto
escolar, Moran na mesma entrevista descrita acima responde o seguinte:
[...] Partindo de situações concretas, de histórias, casos, vídeos, jogos,
pesquisas, práticas e ir incorporando informações, reflexões, teoria a partir
do concreto. Quanto menor é o aluno, mais práticas precisam ser as situações
para que ele as perceba como importantes para ele. Não podemos dar tudo pronto
no processo de ensino e aprendizagem. Aprender exige envolver-se, pesquisar, ir
atrás, produzir novas sínteses fruto de descobertas.
Os conteúdos precisam ter uma utilidade para despertar nos alunos a vontade
de aprendê-los, além do que, deve aproximar-se do aluno e de suas vivências, expressivamente.
Para tanto é imprescindível que as atividades de escrita para ser uma atividade produtora de sentido, tenham como
produto fim, o leitor. Afinal, escreve-se para quê, se não for para ter seu
texto lido?
Dessa forma, a professora deu
sentido à escrita de seus alunos tornando-a funcional e com significado. Ao
partir de situações concretas e lúdicas como pronunciou Moran, os alunos foram
levados ao conhecimento acadêmico de maneira prazerosa, com envolvimento, sem
serem passivos e estanques. Ao final ainda terão a possibilidade de ampliar
seus conhecimentos sem com isso tê-lo recebido pronto, aprisionado dentro de um
currículo já ultrapassado. Esta metodologia, proposta de um trabalho inovador,
imprime significado ao ato de aprender, pois leitura e escrita foram carregadas
de sentidos, capazes de promover transformações,
objetivando letrar, muito além de que ensinar a ler e escrever.
Fonte:
ZOZZOLI, Rita Maria Diniz -
A noção de compreensão responsiva
ativa no ensino e na aprendizagem
MORAN, José Manuel - Aprendizagem
significativa