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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Meios de Comunicação: O que usamos que nossos avós não usaram?

PÚBLICO ALVO:
Educação infantil – 1° Ano Ensino Fundamental

CONTEÚDO:
Meios de Comunicação – de antigamente aos dias de hoje

JUSTIFICATIVA:
A princípio achei que seria simples montar um plano com esse tema, me enchi de ideias, porém ao dar início percebi não ser assim tão fácil como pensava. Durante a pesquisa logo entendi que não poderia me aprofundar tanto, entrando na complexidade da história dos meios de comunicação para essa faixa de idade, em um espaço tão curto de tempo, porém, também não poderia deixar de dar importância devida ao seu conteúdo histórico. Então pensei em fazer um resgate dos meios de comunicação da época dos avós das crianças, incitando-os a reconhecer, pesquisando, do antigamente até hoje, e partindo deles, os avós, com a valorização da cultura dessa família, comparar com os existentes atualmente, vendo suas semelhanças e diferenças, para ir além, na pesquisa da comunicação do período pré-histórico. Pensei em um nome e me veio a mente “O que temos que nossos avós não tinham” e depois “O que usamos que nossos avós não usaram”.
O propósito a princípio foi construir um ambiente alfabetizador e para isso, entendi não bastar somente desenvolver uma rotina ou trabalhar o conteúdo contido no currículo, imprescindível entender que "[...] um ambiente é alfabetizador quando promove um conjunto de situações de usos reais de leitura e escrita das quais as crianças têm oportunidade de participar" (RCNEI; SEF, 1998, p. 154). Mas para isso, não basta encher a sala de objetos de leitura para que seja de fato um ambiente alfabetizador, necessário também, que haja a intervenção adequada, igualmente um comportamento leitor por parte do professor, e, de promover estratégias pedagógicas que reconheça o saber dessa criança.
Importa também que os alunos saibam da evolução dos meios de comunicação, pois grande parte considera que sempre foi da forma que eles conhecem hoje, não alcançando a dimensão das diferenças entre passado e presente. Nesse contorno, um planejamento que leve em conta os jeitos de viver e o uso tecnológico transpondo os tempos, além de colaborar com a noção de passado e presente, é, sobretudo, bastante significativo, para um aprendizado que leva em consideração o saber do aluno e a sua história de vida.
Para tanto se procura atingir um grau de participação tal que proporcione motivação para o aprendizado, no caso, dos meios de comunicação, utilizados antigamente e na atualidade, comparando e analisando as formas e as transformações. Pretende-se que percebam as mudanças e o avanço dos Meios de Comunicação, provocando interesse pela valorização das novas tecnologias a partir da reflexão e conhecimento de como surgiram no contexto histórico.

OBJETIVO GERAL:
  • Contribuir para que o aluno construa conhecimentos, com ludicidade, asseverando a participação de todos nas atividades que possibilite vivências reais de aprendizagem, através de manipulação de materiais concretos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Motivar os alunos a:
  • Identificar entre os Meios de Comunicação apresentados, aqueles que fazem parte da atualidade (da vida deles) e do passado distante (vida de seus avós e antes deles)
  • Desenvolver trabalhos em grupo e individual relacionado ao tema proposto;
  • Pesquisar meios de comunicação utilizados por seus familiares em diferentes épocas tecendo comparações entre os meios de comunicação da atualidade e de antigamente;
  • Produzir desenhos e pinturas e, criar com materiais diversos, adequados à idade, objetos relacionados ao tema;
  • Pesquisar os diferentes nomes dos meios de comunicação, a sua origem; significados e serventia, no passado e na atualidade;
  • Debater sobre os direitos sociais, culturais e políticos das pessoas, de acesso à tecnologia no tempo histórico.

METODOLOGIA:
  • Roda de conversa
  • Trabalho em Grupo
  • Diálogo
  • Trabalho Individual
  • Aula interativa
  • Técnicas de arte

RECURSOS DIDÁTICOS:

  • Cartões com nomes dos alunos
  • Quadro magnético com referência a atualidade e ao passado, utilizando imagens e palavras.
  • Blocos
  • Tambor
  • Materiais para desenho e pintura
  • Imagens com o tema trabalhado, imantadas.
  • Material reciclável
  • Rádio
  • Aparelho celular
  • Aparelho fixo
  • Envelope de cartas
  • Telegrama
  • Vídeo
  • Laptop
  • Livros

CRONOGRAMA:
Uma semana – 5 dias letivos

DESENVOLVIMENTO:
Primeiro momento:
Chamadinha – utilizando os nomes previamente preparados em papel cartão: Mostrar a primeira letra de cada nome e a final, um por um e fazer suspense tampando as demais para tentarem descobrir quem é o dono daquele nome.
Hora da novidade – apresentar uma caixa surpresa e anunciar que tem uma novidade que todos gostarão. Fazer suspense. Antes de abrir a caixa contar uma estória inventada na hora, se inserindo nela, que dependa de uma comunicação rápida. Pode ser, por exemplo: Ah! Coloquei o feijão para cozinhar e vim pra cá, esqueci a panela no fogo, vê se pode isso? e agora, o que eu faço? / Ou, preciso dar um recado para uma amiga me encontrar amanhã no colégio, como faço isso, vocês podem me ajudar? / Tenho que marcar uma consulta nesse momento e não posso ir até lá agora, pois estou aqui. O que fazer? / Meu filho estuda muito longe e preciso da opinião dele na obra de casa. Como posso fazer isso? Etc. Lançar questões para que encontrem solução. Explicar que assim como seus nomes sevem a cada um de forma individual, também as coisas possuem nomes próprios delas. Logo após:
  1. Solicitar que um por vez enfie a mão na caixa e pegue uma surpresa. Apresentar os diversos meios de comunicação através de imagens, em diversas épocas desde a pré-história até hoje, em diferentes modelos para serem manipulados; levantar questões como: quem deu nome a vocês? Quem eles acham que deu nome a todas aquelas coisas?
  2. Perguntar aos alunos qual eles conhecem; qual eles acham que era da época da vovó e do vovô e por que; quais dos meios de comunicação são da época deles? Provocar reflexões de acordo com as respostas;
  3. Pedir para separarem na coluna certa: época da vovó e do vovô; minha época; antes da vovó e do vovô.
  4. Comparar e registrar a quantidade na lousa desenhando um gráfico de três colunas, podendo ser em papel pardo, previamente preparado. Fazer tudo com a participação dos alunos;
  5. Pesquisar junto a família, os meios de comunicação de quando eram crianças;;
  6. Participar de encontro, com a família trazendo seus conhecimentos através de depoimentos em que responderá perguntas dos alunos a respeito da sua cultura de seus antepassados relacionados ao tema em questão;
  7. Montar cartazes com a representação do tema pesquisado, utilizando as figuras da caixa.
.
Segundo momento:
Sempre utilizando a rotina, na hora da novidade para avançar no conhecimento do tema proposto:
  • Pedir para reconhecerem as letras iniciais e finais buscando em seus nomes próprios as semelhanças nas letras iniciais e finais nos nomes dos meios de comunicação;
  • Fazer listas de nomes com a inicial do seu nome próprio e relaciona-los a respectiva imagem;
  • Colocar em ordem alfabética um conjunto de palavras com os nomes dos meios de comunicação e ordena-los segundo a sua época antiga/ atual: tambores, fumaça, televisão, máquina fotográfica, computador, internet, telefone, celular, desenhos, cartas, pombos etc;
  • No Laboratório de Informática, utilizando o computador e a navegação pela internet pesquisar os meios de comunicação que resiste ao tempo, e a sua  origem;
  • Debater sobre os direitos das pessoas ao acesso a tecnologia: quem tem ou não e por que; Quem teve acesso antigamente? E agora, na nossa época?

  • Registrar em forma de texto e desenhos, do jeito deles, o que apreenderam nas atividades investigativas.

Terceiro momento: Atividade - coordenação

·         Passar vídeo contando a história dos meios de comunicação ou de um dos meios de comunicação e sua evolução como no caso da televisão – o vídeo: Kika- De onde vem a televisão?
·         Diante dos meios de comunicação estudados, solicitar separem em conjuntos aqueles dos quais fazem uso do que não fazem. Pedir que expliquem porque não usam.
·         Manipular objetos representando os meios de comunicação atuais, classificando-os pelo grau de importância na vida deles;
·         Confecção de um dos meios de comunicação utilizando diferentes técnicas: material reciclável, modelagem em massinha ou papel mascado, desenho e pintura livre.

Quarto momento: Letramento/Matemática – tratamento da informação

  1. Utilizando materiais como potes de margarina, blocos ou caixas de fósforo, por exemplo, pesquisar meios de comunicação utilizados nas casas dos alunos, montando gráfico de barras ao vivo:
·         Todos sentados ao chão receberão instruções de como será a brincadeira de contar;
·         Previamente, preparar na mesa do professor ou juntar as mesas dos alunos, com várias figuras de diferentes meios de comunicação atuais com seus respectivos nomes;
·         Pedir aos alunos que um por vez coloque o seu pote acima da figura, se em sua casa possui aquele meio de comunicação e assim por diante;
·         Fazer isso com todos em no máximo cinco tipos, utilizando a quantidade de potes, blocos ou caixa de fósforos necessário;
  1. Montar ao vivo um gráfico contando cada peça com os alunos;
  2. Entregar papel e lápis coloridos, solicitar que representem com desenhos, o gráfico montado com potes e figuras;
  3. Acompanhar o desenvolvimento da atividade dando suporte em caso de necessidade.

Quinto momento:
Fazer uma linha do tempo marcando os meios de comunicação no tempo;
Montar um jornal mural com toda pesquisa realizada, para expor o trabalho a toda unidade Escolar.

ESPAÇO FÍSICO:
Será aproveitado todo espaço possível da escola tais como: biblioteca; laboratório de informática, sala de aula, sala multimeios; também outros locais da cidade: museu da comunicação (se existir), locais da cidade que conta a história da evolução dos meios de comunicação desde a chegada deles, monumentos históricos da cidade; residência dos alunos e de seus familiares.

AVALIAÇÃO:
A avaliação se dará durante a aula, pela observação da participação, do interesse, do relacionamento e desempenho de cada aluno, entendendo as peculiaridades e aceitando-as como diferenças capazes de promover o enriquecimento da prática pedagógica.
Também será possível observar a cooperação, o respeito e o cuidado com o outro durante a execução das tarefas. Sendo essa parte da avaliação, a meu ver, de muita valia, por tratar-se de atitudes relativo a valores sociais que refletem por toda vida.

REFERÊNCIA

BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil /Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998.
__________.Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional No 9.394/96
 __________. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria da Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
MARINS, Escola Municipal Edilson Vignoli. Projeto Político Pedagógico, 2013.
Kika - De onde vem a televisão? disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=3nC_QF7u24o> acesso as 20:34 de 12 AGOS. 2014.
LUCKESI, Cipriano Carlos. O QUE É MESMO O ATO DE AVALIAR A APRENDIZAGEM? . Pátio. Porto alegre: ARTMED. Ano 3, n. 12 fev./abr. 2000.
Memória das palavras / coordenação do projeto Ana Paula Brandão. - Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2006.

A idade do Brasil 2 -Brasília : Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância, 1999.: 64 p.: il. ; 16 cm.- (Cadernos da TV Escola. Idade do Brasil ISSN 1517-4425 n.2) 

Educação Prisional no Brasil

Embora exista no mundo desde o século XVIII, aqui no Brasil somente no século XX se cogitou pensar uma educação capaz de transformar e formar pessoas à margem da lei. Com os novos paradigmas da sociedade moderna não se concebia mais enclausurar pessoas, isolando-as do mundo, sem dar a elas a chance de uma nova vida e oportunidades para se sentir gente, capaz de transformar-se.
No Brasil, pensando uma atenção voltada para uma formação educacional e o respeito aos direitos humanistas, podemos citar de inicio “o direito à educação do preso n Constituição Federal, no Código Penal (lei 2.848/40), na Lei de Execução Penal (lei nº. 7.210/84), nas resoluções e orientações do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) “.

Seguindo a ordem sobressaímos algumas transformações merecedoras de destaque:

1.
 Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/1984
2. Em 1988 - Constituição Federal Brasileira.
3. Resolução nº. 14 de 1994 – através do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária instituem Regras Mínimas para o Tratamento de Presos no Brasil.
4. Lei complementar nº. 79/94 institui o Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), com a finalidade de proporcionar recursos e meios de financiamento aos programas de modernização do sistema penitenciário brasileiro.
5. Programa Nacional de Direitos Humanos em 1996 com trabalho específico na reeducação e recuperação através de treinamento profissionalizante.
6. 2001 - Lei nº 10.172/2001 Plano Nacional de Educação
7. Decreto nº. 1.093 de 03 de março - regulamenta a lei 79 sobre a aplicabilidade dos recursos a serem usados na formação cultural e educacional do preso.
8. Em 2005:
a) Implantado o Projeto Educando para a Liberdade, parceria com a UNESCO e patrocínio do governo do Japão.

b) Também neste mesmo ano, segundo Macedo, em Tocantins, foi implementado o Projeto Ressocialização Educativa, tendo as Secretarias de Educação e Cultura, Cidadania e Justiça e Segurança Pública como parceiras, cuja finalidade era de ofertar a educação formal para pessoas recolhidas pela lei no cumprimento de pena. Porém, para conquistar  esse benefício os presos, deveriam atender algumas características tais como: baixa escolaridade, bom comportamento e aqueles cuja avaliação fosse positiva e aprovada pela equipe multiprofissional.

c)
 Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI) implementado através da Lei nº. 11.530 e alterada pela lei nº. 11.707/2008 - Ministério da Justiça junto aos estados, municípios e Distrito Federal.
  9. Em 2006: Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394/1996
10.  Em 2007: elaboração do Plano Nacional de Política Penitenciária em 2007, pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária com orientações a todos os órgãos administrativos penitenciário relativos a instrução escolar e formação profissional. 

11. Em 2008: lançado o Plano Diretor do Sistema Penitenciário Brasileiro pelo Departamento Penitenciário Nacional contem,plando a educaç~çao profissionalizante e instituindo as bibliotecas nas prisões.

12. Em 2009:
a) Março - Lançado as Diretrizes Nacionais para a Oferta de Educação nos Estabelecimentos Penais, através do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária.
b) Agosto - 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (CONSEG), realizado pelo Ministério da Justiça com intuito de  discutir dentre várias diretrizes, a escolarização, integração social e da cidadania.

13.  Em 2010:
a) Maio - fixado as Diretrizes Nacionais para Oferta de Educação para Jovens e Adultos Privados de Liberdade, pelo Conselho Nacional de Educação a qual estabelece:
“que a educação nas prisões do Brasil deverá estar associada às ações complementares de cultura, esporte, inclusão digital, educação profissional, fomento à leitura e a programas de implantação, recuperação e manutenção de bibliotecas destinadas ao atendimento à população privada de liberdade, inclusive as ações de valorização dos profissionais que trabalham nesses estabelecimentos”.(SILVA, 2011)
b) Junho - em parceria com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), promovem o seminário internacional Educação em Prisões, promovido pelo Ministério da Justiça e o Ministério da Educação discute-se o “fortalecimento do direito à educação na prisão”.

14.
 Em 24 de novembro de 2011 foi instituído o Decreto nº 7.626 pela então Presidente da República Dilma Rousseff, instituindo o “Plano Estratégico de Educação no âmbito do Sistema Prisional”. Este empreendimento explicita as competências dos Ministérios da Educação e da Justiça, bem como os objetivos na execução de Planos de Ações com estratégias que definem e programam atitudes referentes a oferta educacional no âmbito do Sistema Prisional.

De lá para cá foram vários seminários e sempre as mesmas situações debatidas e ali no papel parece resolvida, entretanto, a reincidência de metade dos detentos evidencia o fracasso das instituições responsáveis pela educação prisional. A história educacional do Sistema penitenciário reflete uma sociedade, com suas deficiências em vários setores. Da mesma forma em que todas as esferas caminham a passos lentos, não seria de esperar o contrário em um sistema tão complexo quanto o prisional.

Para esclarecer a problemática por que passa a educação do sistema penitenciário temos a informação de SILVA, ao citar JULIÃO enfatizando
que dentre os principais problemas identificados na oferta da educação no cenário brasileiro permanece a ausência de uma diretriz nacional que oriente as ações educativas prisionais nos estados, a precariedade material com as quais as iniciativas esparsas de educação prisional têm que conviver, a ausência de profissionais de pedagogia especificamente capacitados para este fim, e a falta de compreensão por parte dos profissionais penitenciários da importância da educação para os fins do tratamento penitenciário.

Os números não enganam

População Carcerária
Brasil – 574.027
Custodiados no Sistema Prisional
537.790

Penitenciárias
Brasil – 470

HOMENS:
Brasil – 93,70%
MULHERES:
Brasil – 6,30%
Vagas no Sistema Prisional
Brasil – 317.733
Presos em atividades educacionais
58.750 (10,92%)
Colônias Agr. e Industrial
Brasil - 73
Presos analfabetos
27.468 (5,1%)
Presos alfabetizados
65.567 (12,19%)
Déficit de vagas
Brasil – 256.294
Déficit de 479.040
Casa de Albergado
Brasil - 65
Presos com ensino fundamental
Incompleto
236.519 (43,97%)
Departamento Penitenciário Nacional

São muitas as dificuldades encontradas no âmbito prisional para empreender uma escola de qualidade que respeite os direitos que cada indivíduo tem de aprender. Isso sem contar o grande número de apenados sem qualquer tipo de atividade educacional, pela falta de estrutura ou até mesmo pelo descaso em implantar as classes.

Fonte:
SILVA, Mazukyevicz Ramon Santos do Nascimento. Educação prisional no Brasil: do ideal normativo às tentativas de efetivação. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 87, abr 2011. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9362>. Acesso em out 2014.

Interações linguísticas com filhos surdos

No inicio ao receber o diagnóstico de surdez, como esclarece Behares, a família se desespera e entra em conflito. Sentem dificuldade na aceitação e precisam de muita ajuda. Passam por várias situações desconfortáveis atrás de diagnósticos, muitas idas e vindas a consultórios e exames. Até se conscientizarem da real condição da surdez, são conduzidos pelas próprias vontades a ansiarem que o filho seja um ouvinte e colocam suas expectativas nos profissionais de forma traumática.
Essa família incide, logo após, em aprendizado diário, saindo com apoio, da difícil aceitação, para um esforço ainda maior, na tentativa de lidar com aquele ser que para grande maioria, será dependente a vida inteira.
Em muitos casos a família se dilui por conta de saberem-se pais de pessoas com qualquer diferença.
Pelo que nos confirma Behares (1991), O nascimento de uma criança surda supõe o largo processo de estabelecimento de um diagnóstico correto de surdez e um processo ainda mais prolongado para que os pais elaborem sua frustração e comecem a aceitar a identidade surda de seu filho”.
A aceitação da diferença é o primeiro passo para um desenvolvimento emocional e social equilibrado da criança surda de famílias ouvintes.
No inicio da vida, segundo Behares (p.4) a interação mãe/filho é uma relação, comum a todas as relações mãe/filho de qualquer família normal, equilibrada, não importando se surdo ou ouvinte. E ainda relata, “não temos razões para supor que as expectativas culturais e cognitivas das crianças surdas depois do primeiro ano de vida sejam inferiores as das crianças ouvintes”(p.4). Enfatiza que à vista de uma língua, compreendida na comunidade em que está inserido, o desenvolvimento social e emocional pode tomar seu curso normalmente. Porém para o individuo que nasce surdo, que passa por uma escalada tortuosa e adequações conflitantes, conseguir a aquisição da língua oral em comparação com a criança ouvinte é muito mais complicado, próximo do impossível.
A comunicação entre pais ouvintes e o filho surdo configura muitos medos por ser de difícil aquisição por ambas as partes. Partindo de uma reflexão mais aprofundada, Behares (1991, p.4) esclarece-nos que

As dificuldades lingüísticas que aparecem na interação de pais ouvintes e crianças surdas não podem, tampouco, observar-se de forma isolada. Nos fatos estão fortemente vinculadas as atitudes dos pais com respeito à aceitação real da surdez de seus filhos. A vinculação interativa precoce da criança é deficitária, não como um derivado exclusivo de suas carências de audição, mas também, e fundamentalmente, pelo meio sócio-interativo no qual esta se constrói.

Se a interação depende da aceitação do filho diferente, também a aquisição da linguagem e do nível de comunicação, igualmente, configura importantíssimo acoplamento neste conjunto de situações. 
Nas palavras de GUARINELLO et al. (2013, p. 158)  encontramos reforço às de Behares quando afirma que

Muitas vezes, os pais sentem-se incapazes de cuidar de um filho surdo. Sobre esta questão, é importante considerar que a pessoa com surdez já inicia sua comunicação de modo diferente do ouvinte, uma vez que são os seus olhos a sua principal (se não a única) fonte para apreensão de informações. Dessa forma, diferentemente dos ouvintes (que se utilizam dos olhos e dos ouvidos), a visão é para os surdos o único canal com o qual eles recebem, apreendem, transformam e dão significados ao mundo que os rodeiam. (Guarinello et al., 2013, p. 158)

Para se aperceberem disso, os pais ouvintes necessitam de um tempo maior de adaptação a essa nova realidade, além da ajuda de profissionais capacitados em lidar com a deficiência e toda gama de necessidades especiais por detrás dela.
Assim, as formas como pais ouvintes se colocam diante da dificuldade em lidar com a surdez, serão tão cruciais, quão graves os prejuízos para o desenvolvimento sócio afetivo e, sobretudo cognitivo da pessoa surda. Ou seja, tudo dependerá do contexto social dessa criança.
Uma família, cujos pais surdos, recebem uma criança também surda, naturalmente constrói a linguagem, sem nenhuma dificuldade, visto falarem uma mesma língua. O desenvolvimento emocional nessas crianças é muito mais equilibrado em comparação com aquela que nasce em família de ouvintes.
O grau de dificuldades, evidentemente, diminui quando há comunicação. Portanto, a menos que os pais ouvintes se dediquem a aprender as diversas formas de comunicação com a sua criança, estará prejudicada a interação entre esses. E pela forma como apreende tudo que a rodeia, para a criança surda, será tão menos significante quanto o fato de que os pais ouvintes desejam que a cultura ouvinte prevaleça sobre a cultura surda. Grandes dificuldades de interação podem ocorrer trazendo prejuízo no relacionamento sócio afetivo desse indivíduo que arrastará ao longo de toda vida adulta.
Dessa forma, apesar de que os pais adquiram precocemente línguas sinalizadas, não podemos afirmar que a limitação de base deixe de existir” Behares (1991, p.4).
Toda criança ao nascer precisa criar uma identidade linguística com seus pares independente de serem ouvintes ou não. Crianças surdas filhas de pais ouvintes, desde cedo terão dificuldades em interagir pela falta de comunicação. Cabe aos pais a tarefa de ir a busca dessa identidade, contatando pessoas surdas adultas que farão acontecer oportunidades para garantir o desenvolvimento da linguagem, construindo assim, caminhos para a comunicação.
Isso segundo Behares, não ocorre com as crianças surdas, filhas de pais surdos, pois nesse caso a identidade já existe e, por conseguinte, a comunicação se dará naturalmente. Sendo a Língua de sinais sua primeira língua, - em comum - e toda forma de comunicação visual de suporte, a criança junto à comunidade surda, apresenta gradativamente, um desenvolvimento normal como qualquer criança. Sendo neste caso, a crescente sensação de pertencimento, a responsável pela valoração do sujeito que, em se sentindo semelhante, sem a cobrança da cultura predominante, se estabelece como ser, legítimo, compatível ao que rege a legislação de garantia de direitos.

Referências Bibliográficas
BEHARES, Luis Ernesto. Novas correntes na educação do surdo: dos enfoques clínicos aos culturais. Santa Maria, UFSM,1991.
GUARINELLO, Ana Cristina et al. Reflexões sobre as interações linguísticas entre familiares ouvintes - filhos surdos. Curitiba, 2013