Juraci Reis
Pensemos numa turma, que em aula, precisa aprender um determinado conteúdo, e o professor presente, afoito com suas ideias bem planejadas, está equipado com todos os recursos necessários para dar uma excelente aula. Pois é, esse professor atento às diferenças em sala de aula pensou em tudo, ou melhor, em quase tudo. Somente pelo detalhe de que os alunos além de diferentes entre si, também apresentam diferenças em cada dia de aula, que vivenciam em seus dias fatos diferentes também. Pois bem, neste dia especial a classe vivenciaria uma das maiores guerras do tráfico já presenciado pelo contexto escolar. Assim sendo, de que maneira o profissional encararia este pormenor com sua aula bem preparada? E essa é a realidade de muitos professores e alunos brasileiros das grandes metrópoles.
Pensemos numa turma, que em aula, precisa aprender um determinado conteúdo, e o professor presente, afoito com suas ideias bem planejadas, está equipado com todos os recursos necessários para dar uma excelente aula. Pois é, esse professor atento às diferenças em sala de aula pensou em tudo, ou melhor, em quase tudo. Somente pelo detalhe de que os alunos além de diferentes entre si, também apresentam diferenças em cada dia de aula, que vivenciam em seus dias fatos diferentes também. Pois bem, neste dia especial a classe vivenciaria uma das maiores guerras do tráfico já presenciado pelo contexto escolar. Assim sendo, de que maneira o profissional encararia este pormenor com sua aula bem preparada? E essa é a realidade de muitos professores e alunos brasileiros das grandes metrópoles.
Outro contexto também ilustrado aqui é o vivenciado
recentemente na chacina dentro de um colégio, onde um ex-aluno que sofrera
bullying quando estudou ali, volta completamente perturbado, em sua psique
doente, para se vingar de uma sociedade que não perdoa as diferenças. O que
será que os professores pensaram? De que forma atuaram naquele momento e como foram
as aulas pós-trauma, em suas mentes? Onde estavam esses atores em momentos tão
distintos e como se lida com questões tão complexas? E a cada dia se lida mais
com elas! Certamente o único lugar que eles não gostariam de estar era naquela
sala de aula. Mas estavam!
Em uma sociedade repleta, infelizmente, de
violência de toda ordem, de problemas a serem resolvidos, emoções e conflitos
sentidos, o difícil é prever onde cada indivíduo estará quando estiver em sala
de aula.
Sabemos que o dia-a-dia de uma sala de aula é
sempre incerto e demanda do educador um olhar diferenciado para cada acontecimento
problemático decorrente do confronto entre as experiências vividas e os novos
percursos que rompem com a ideia de fracasso e de exclusão de tantos alunos. Nessas
aulas, o significado do aprendizado é relacionado a eles e daí, também sabemos
que o conhecimento só se estabelece se motivado nas inter-relações entre os sujeitos
no contexto em que vive. Dessa forma, para que haja uma apropriação desse
conhecimento, é preciso criar um ambiente propício de aprendizagem, onde as
informações sejam pertinentes e a interação valorizada.
Nesse ponto de vista, o professor deve ser um
pesquisador da alma humana e como tal precisa questionar-se o tempo todo sobre sua
prática, sendo, portanto, crítico de seu trabalho.
Desse modo, quando estivermos em sala de aula, local onde o
aprendizado de cada um deve ser respeitado e as necessidades atendidas, indo
muito além de conteúdos programáticos, teremos a abordagem até mesmo daqueles ocultos, dos
quais nem vemos, mas está lá, aguardando que a sensibilidade aguce e transcenda
o farol da compreensão.
Decerto, como não somos máquinas e nem sempre nos colocamos em
posição de recebimento de informações passivas, ainda mais quando nosso
interlocutor não é ativo, o esforço que fazemos para o entendimento age de
forma contrária na interação, ficando mesmo prejudicada ou quase nula, e acaba até
por inutilizar qualquer tentativa de aprender. Ainda mais quando estamos em um
lugar sem saber qual e para onde vão aqueles ao nosso redor.
João Batista Duarte Junior, no livro “O que é a realidade?”, nos elucida
que “o
homem não é um ser passivo, que apenas grava aquilo que se apresenta aos seus
sentidos. Pelo contrário: o homem é o construtor do mundo, o edificador da
realidade. Esta é construída, forjada no encontro incessantemente entre os
sujeitos humanos e o mundo em que vivem”. (p. 12)
Assim, quando pensamos em uma sala de aula, nos vem à mente, um
espaço de construção: de identidades; de conhecimentos; de cidadãos que busca
serem conscientes não somente de seus deveres, mas também atuante no processo de
garantia de direitos. Afinal é lá, na sala de aula, que paira as mais
heterogêneas das relações culturais; componente que
proporciona percepção do mundo a partir da experiência, e mesmo que nos falte a
consciência disso, é muito enriquecedor nas nossas vidas.
Dessa forma, o atuar em sala de aula assume um
papel investigativo, ético e crítico que exige que o professor tenha seriedade
e estabeleça interações, capaz de possibilitar mudanças, e oportunizar
condições aos alunos para expressar suas ideias e sentimentos.
Para isso é imprescindível levar em conta o
sujeito concreto, diferente de qualquer outro, que mesmo em detrimento de tudo
e todos, em qualquer circunstância vai demonstrar sentimentos, vai precisar de
atenção e proteção.
E imperioso criar um ambiente onde os envolvidos possam demonstrar
sua afetividade sem risco de violação de direitos, do qual o relacionamento entre alunos e professores, se
dê naturalmente. Para isso a sala de aula precisa ser espaço de formação de
fato, lugar onde se enfrenta os problemas decorrentes das diversidades, com
ideal relevância, em um clima de respeito, ou seja, adequado à participação de
todos da comunidade escolar.
Em outras palavras, afirmamos que podemos estar em qualquer lugar quando estamos em sala de aula,
pois este é um espaço vivo. Nele,
tem momentos de conflitos, mas também de intensa interação; tem lugar para
sonhar e repensar valores; ambiente de criar e solucionar desafios;
perspectivas de formação e de rompimento de conceitos conflituosos.
De posse dessa concepção, visando maior lucidez, entendemos que somente no diálogo estimularemos
a vontade em todos de se empenhar na relação ensino-aprendizagem e juntos
colaborar para a harmonização entre a afetividade e o instruir-se. Irrompendo,
portanto, com a mecanicidade do dia a dia de uma sala de aula, aonde seus
atores nem sempre sabem de onde vieram e tão pouco para onde vão. Então é
imperioso se tecer um ambiente seguro, com respeito às diferenças, que colabore
para o crescimento coletivo.
Fonte:
PANIZZI, Conceição Aparecida Fernandes
Lima – ISEP, A RELAÇÃO AFETIVIDADE-APRENDIZAGEM NO
COTIDIANO DA SALA DE AULA: ENFOCANDO SITUAÇÕES DE CONFLITO.
http://www.abed.org.br/congresso2005/por/pdf/164tcf3.pdf
MARTINS, João Carlos - Vygotsky e o papel das interações sociais na sala de
aula: reconhecer e desvendar o mundo.