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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ARTIGOS DO " ESCOLA DE GENTE "

Vale a pena conferir: artigos que inclui temas referentes a inclusão social, acessibilidade, RESPEITO, dignidade, direitos e autoestima da pessoa com deficiência.


A cultura surda

Declaração de Atenas - reconhecimento x respeito

Deficiência e qualidade da notícia

O DIREITO DE SER, SENDO DIFERENTE, NA ESCOLA

Direitos humanos e a discriminação de...humanos

Acessibilidade na Comunicação para Surdos Oralizados: Contribuições das Tecnologias de Informação e Comunicação *

30/03/2012-15:49
por Anahi Guedes de Mello e Elisabeth Fátima Torres





Crianças e adolescentes com deficiência: seu direito à educação

14/02/2011-16:31

O direito de todas as pessoas à educação consta de inúmeros documentos jurídicos. Mas muitas crianças e adolescentes com deficiência permanecem em suas casas a vida toda. É muito comum, também, que essas pessoas sejam atendidas apenas em escolas especializadas sem freqüentarem, jamais, escolas comuns.
Nós entendemos que essas duas situações são indesejáveis, tendo em vista os princípios da igualdade e da não discriminação.


Aqui está o melhor da raça humana!

domingo, 29 de dezembro de 2013

A Metodologia das Oficinas Inclusivas

ESSE MARAVILHOSO TRABALHO, QUE REPASSO A TODOS OS LEITORES,  FOI RETIRADO DO SITIO:



Diagrama conceitual


                               pessoas com deficiência + pessoas sem deficiência
 
                                                 impasses de comunicação
 
                                           reflexões sobre diversidade humana
 
                           entendimento e vivência de uma nova ética inspirada na diversidade
 
                                                      conceito de inclusão
 
                                                      inclusão X integração
 
               visão crítica de projetos pessoais, sociais e políticas públicas que se dizem 
inclusivos
 
                                            adoção de medidas pró-inclusivas
 











































Resumo metodológico


A metodologia e o formato das oficinas, com suas Dinâmicas e Provocações, são iguais para todos os públicos beneficiários, diferenciando-se apenas na forma de convocação dos participantes.
           
1)    Oficina para adolescentes e jovens em ambientes educacionais - As Oficinas Inclusivas para adolescentes e jovens têm por objetivo promover um encontro inédito entre jovens da mesma geração, com e sem deficiência, suprindo uma lacuna deixada pela escola e pela vida em comunidade. A seleção dos alunos para participar das oficinas não deve obedecer a qualquer critério de escolha como convidar os melhores por nota ou bom comportamento. Do total de participantes - no máximo 25 - 15% devem ter algum tipo de deficiência (física,  intelectual, visual, auditiva ou múltipla). O percentual de 15% de pessoas com deficiência é compatível com a estimativa da Organização Mundial de Saúde sobre esta população para países em desenvolvimento e com os dados do Censo 2000 do IBGE.

Atenção: Critério idêntico deve ser adotado em universidades, mesmo que existam adultos na turma, e também em clubes, colônia de férias, grupos reunidos em função de  projetos sociais, religião etc. 


2)    Oficina para adultos em ambientes educacionais e profissionais – Nas Oficinas Inclusivas para adultos, é mais produtivo trabalhar com os grupos já constituídos nos seus ambientes de trabalho, ajudando-os a interagir com a diversidade do dia-a-dia, não sendo necessário levar pessoas com deficiência, mas forçar o grupo a admitir suas próprias deficiências, em geral disfarçadas, ou simplesmente, ignoradas como assunto-tabu. As oficinas deverão ter até 25 pessoas, sendo que 15% delas devem ser convocadas para a dinâmica por serem as mais “diferentes”. O objetivo desta proposta aparentemente segregadora é instigar os participantes, mesmo antes de a oficina começar, a se confrontarem com suas dificuldades para conceituar diversidade, desigualdade etc. Cada um pensará nessas diferenças de acordo com seus próprios critérios: etnia, religião, classe social, aparência física, gênero, cultura, região do país, entre outros. A partir dessa reflexão, se desenvolve a metodologia da oficina.

Atenção: No caso de escolas, as oficinas para professores, funcionários, gestores etc, devem seguir esta última organização.


Diferencial da metodologia

            Mais do que combater a discriminação de pessoas com deficiência pela sociedade, as Dinâmicas e as Provocações das Oficinas Inclusivas visam a identificar formas de segregação que só depois de reconhecidas poderão ter solução. Muitos tipos de segregação são sutis, principalmente os que se referem à comunicação. Manifestam-se, por exemplo, através da quase nenhuma preocupação em prever um intérprete da Libras para comunicação com pessoas surdas em eventos, teatros, escolas, reuniões comunitárias, apesar de a Lei Federal nº 10.098, de 2000, estabelecer critérios para a promoção da acessibilidade comunicacional de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida.
Essas são as principais diferenças entre a metodologia das Oficinas Inclusivas e outras metodologias:

Oficinas inclusivas
Outras metodologias
Proporcionam vivências inclusivas
Nem sempre há essa preocupação
Buscam acessibilidade total na comunicação
(Libras, braile, desenho e texto ampliados e tecnologias assistivas)

Acessibilidade parcial de comunicação
Pessoas com deficiência falam por si
Pessoas com deficiência raramente presentes
Participantes mobilizados para se tornarem agentes da inclusão
Participantes valorizados apenas como receptores da inclusão (“aceitar” ou não a pessoa com deficiência)
Exercício da ética na diversidade com a presença da diversidade e da deficiência
Exercício da ética na diversidade sem a presença da diversidade e da deficiência
Preocupação crescente em cumprir a legislação brasileira inclusiva
Nem sempre há essa preocupação


Valores e princípios que norteiam a metodologia

            Algumas idéias irão se repetir várias vezes no decorrer deste texto que descreve a metodologia das Oficinas Inclusivas. Isso é natural, afinal são os valores e princípios que precisam ser ancorados e muito bem assimilados por quem se dispuser a realizar uma Oficina Inclusiva. São eles:

. Todas as pessoas são gente.

. A humanidade encontra infinitas formas de se manifestar.

. A inclusão é incondicional.

. A busca de soluções para uma sociedade inclusiva passa, sempre, pela criatividade e pelo empreendedorismo dos jovens.

. Toda pessoa tem o direito de contribuir com seu talento para o bem comum.

. Toda criança e todo jovem têm o direito de conhecer a humanidade como ela é, não como os adultos gostariam que fosse.

. O direito à igualdade não pode ser desvinculado do reconhecimento das diferenças.

  
Diretrizes da metodologia


            - As Oficinas Inclusivas são um trabalho de construção coletiva, de co-responsabilidade e co-autoria. Não podem, portanto, lembrar uma sala de aula comum, na qual muitas vezes se exige dos alunos as mesmas respostas, as mesmas dúvidas, até os mesmos sentimentos.
            - A metodologia das Oficinas Inclusivas leva oficineiros e participantes a lidar melhor com seus próprios tempos; tempos psicológicos, tempos sociais, tempos de expressão e de escuta do outro.
            - Nas Oficinas Inclusivas, administrar o tempo é responsabilidade de todos, oficineiros e participantes, que devem aprender a brincar com seus tempos, aceitando o desafio de revê-los. Por exemplo: até quando eu devo esperar uma pessoa que é gaga terminar a frase sem atropelá-la, tentando presumir sem cerimônia o que ela vai dizer? Trabalhar com inclusão é entender que cada pessoa tem um tempo e um modo de  falar, andar, tentar ver, tentar se mexer etc.
            - As Oficinas Inclusivas baseiam-se em dinâmicas simples que serão mais ou menos produtivas em função da diversidade do grupo e do quanto o oficineiro conseguirá lidar com esta diversidade. O sucesso de cada Oficina Inclusiva dependerá principalmente da habilidade do grupo para encontrar novas e inusitadas formas de se comunicar. Quanto mais inovações forem propostas, mais interessante ficará o trabalho nas oficinas.
            - As tradicionais respostas prontas deverão ser, sempre, substituídas por questionamentos.
            - É fundamental que os oficineiros não hesitem em apontar seus deslizes, preconceitos e equívocos na abordagem do tema deficiência para os participantes das oficinas. É a partir dessas constatações que as dinâmicas ficam mais interessantes. Os oficineiros, portanto, não devem se colocar como profissionais. São facilitadores para uma reflexão conjunta sobre inclusão.

O Oficineiro...

Quem é o oficineiro? O mais extrovertido? O menos tímido? O mais falante?

Nada disso.

O oficineiro deve ser alguém com:

-          muita capacidade de reflexão
-          disponibilidade para realizar atividades junto à comunidade
-          humildade para assumir seus deslizes em público e transformá-los em oportunidades de aprendizagem para si e para o grupo
-          persistência para aprender e inovar
-          facilidade de comunicação, no sentido de expressar idéias sob qualquer modo
-          bom humor
-          entusiasmo pelas descobertas que faz e que o outro faz
-          total interesse pelo conceito de inclusão
-          aptidão para conhecer pessoas


 Roteiro de trabalho para realizar a Oficina Inclusiva

Identificar os custos para a realização de uma oficina
- Selecionar os parceiros que ajudarão na organização da oficina
- Pesquisar o local no qual se realizará a oficina
- Verificar a acessibilidade do local escolhido
- Marcar data e hora
- Contratar intérprete de Libras pelo tempo de duração da oficina
- Preparar convites para os parceiros
- Preparar convites para os participantes
- Providenciar cópias do Teste seu TODOS, inclusive em braile, em desenho, em tinta com letras maiores para pessoas com baixa visão etc
- Esclarecer que não se admitirá atraso na oficina
- Enviar convites para parceiros e participantes, sempre atento para que estes convites contemplem, em sua forma, a acessibilidade para o maior número possível de condições humanas
- Conferir o recebimento dos convites
- Comprar papel, caneta, crachás, hidrocor, grampeador etc
- Providenciar lista de presença para o dia da oficina
- Comprar lanche para o intervalo
- Conferir limpeza do local no dia da oficina
- Chegar pelo menos meia hora antes da oficina começar
- Arrumar cadeiras em círculo
- Conferir com parceiros detalhes da oficina
- Definir os critérios que serão utilizados para avaliar o resultado das oficinas e preparar o material para uma auto avaliação do trabalho a ser realizado pelo oficineiro (lembrar que este material também deve ser reproduzido mantendo a preocupação com a acessibilidade)


Ferramentas de auto-avaliação das Oficinas Inclusivas

            O processo de avaliação do projeto Quem cabe no seu TODOS? é sistemático e está em curso. Novas avaliações, com consultoria externa, estão previstas. Sugerimos que seja acessado o site da Escola de Gente para conhecer os resultados já obtidos e os esperados.
Neste capítulo, daremos apenas algumas sugestões que podem ser usadas como ferramentas de auto-avaliação dos oficineiros. São elas:

1) a longo prazo -  A melhor forma de avaliar o resultado de uma Oficina Inclusiva é acompanhar os participantes no dia-a-dia, conhecendo suas ações e conversando com eles. No caso dos adolescentes e jovens, quando o ambiente educacional os estimula a participar e a se expressar, naturalmente eles têm mais estímulo e melhores condições para colocar em prática o conceito de inclusão. A longo prazo, o efeito transformador das dinâmicas deve ser medido por meio de encontros pessoais e duradouros com quem participou das oficinas. Melhor ainda quando é possível fazer um encontro com essas pessoas antes das oficinas e meses depois. Nessas oportunidades, o avaliador deverá verificar se os resultados esperados e definidos antes da realização das oficinas foram alcançados. Essas são algumas sugestões da Escola de Gente:

Resultado esperado em oficinas para adolescentes e jovens em ambientes educacionais
Transformar cada estudante em um multiplicador do conceito e da prática da sociedade inclusiva em sua escola e comunidade, estimulando-o a trabalhar em parceria com seus professores, envolvendo, ainda, grêmios, representantes de turma etc. Observe, por exemplo:
-          o número de participantes das oficinas que realizaram alguma ação pró-inclusiva
-          o número de participantes que efetivamente se tornaram agentes da inclusão, buscando soluções para que a escola seja um espaço social inclusivo
-          o número de eventos organizados para discussão e/ou reflexão sobre o conceito de inclusão
-          a qualidade da acessibilidade nos locais onde ocorreram esses encontros
-          o que foi feito pela acessibilidade arquitetônica e de sinalização da escola
-          a contribuição dos alunos para garantir que os eventos na escola tenham: acessibilidade na comunicação, intérprete de Libras nas salas de aula, jornal-mural em braile etc

Resultado esperado em oficinas para adultos em ambientes educacionais
Os resultados a serem medidos vão depender exclusivamente do ambiente no qual as Oficinas Inclusivas para adultos se inserirem. Em ambientes educacionais, o mais provável é que a demanda pelas oficinas venha atender o interesse dos professores em saber o que é uma escola inclusiva e como construí-la no dia-a-dia, a partir do momento em que a instituição se abre para a diversidade humana. Observe, por exemplo:

-          o número de professores que após participarem das oficinas realizaram alguma ação inovadora e pró-inclusão na escola
-          o número de professores que multiplicaram as dinâmicas aprendidas nas Oficinas Inclusivas com outros professores ou com outros alunos
-          as decisões pró-inclusão que foram tomadas pelos professores para extingüir as classes especiais da escola
-          se foram feitos convênios com instituições de pessoas surdas para a presença de intérprete de Libras na escola
-          que outras ações pró-inclusão inéditas foram desenvolvidas pelos professores em parceria com a comunidade escolar, especialmente os próprios alunos

Resultado esperado em oficinas para adultos em ambientes profissionais
Em ambientes profissionais, o mais provável é que a demanda pelas oficinas venha atender o interesse dos funcionários em saber o que é um ambiente de trabalho inclusivo e como construí-lo no dia-a-dia. Observe, por exemplo:
-          o número de funcionários que pleitearam pela realização de mais Oficinas Inclusivas
-          o número de funcionários que multiplicaram as dinâmicas das oficinas entre seus colegas
-  as decisões pró-inclusão tomadas pela empresa graças à mobilização dos funcionários que participaram das oficinas, tais como revisão de acessibilidade arquitetônica, do sistema de sinalização interna e externa, das propostas de prevenção de acidentes (CIPA), da acessibilidade na comunicação com o público e entre os funcionários, na adoção de uma tecnologia de inclusão digital que contemple pessoas cegas, surdas, com mobilidade reduzida etc.
           -  os processos que as Oficinas Inclusivas desencadearam ou aceleraram, dentro das organizações, provocando reflexões capazes de disseminar e manter uma cultura inclusiva em constante evolução
        
          2) a curto prazo – São as ferramentas de auto-avaliação utilizadas para medir o efeito transformador das oficinas em seus participantes logo após o seu término. Sugerimos que o questionário a seguir seja distribuído e respondido antes da oficina começar e redistribuído (uma nova cópia em branco) logo após o término da sétima dinâmica. Os participantes não precisam assinar as duas avaliações, que contêm idênticas perguntas. Basta que as guardem consigo devolvendo-as juntas. Quem for pegá-las, deverá grampeá-las imediatamente.


Sugestão de questionário para auto-avaliação
Este questionário deverá ser distribuído duas vezes: antes do início das oficinas e antes da partilha dos sonhos.


1)    Você acha que crianças com e sem deficiência devem estudar:

a.    (  )  na mesma sala de aula.
b.    (  )  na mesma escola, mas em salas separadas.
c.    (  )  em escolas separadas.
d.    (  )  as crianças com deficiência não devem estudar.


2)    Você acha que jovens com e sem deficiência têm os mesmos direitos para estudar, para trabalhar e para se divertir?

a.    (  ) sim, pois com ou sem deficiência somos todos seres humanos.
b.    (  ) sim, pois com ou sem deficiência somos todos iguais.
c.    (  ) não, pois as pessoas com deficiência não são capazes de exercer os mesmos direitos de pessoas sem deficiência.
d.    (  ) não, as pessoas com deficiência devem ter direitos diferentes.


3)    Quem é responsável pela inclusão de pessoas com deficiência na sociedade?

a.    (  ) o governo.
b.    (  ) os pais das pessoas com deficiência.
c.    (  ) as próprias pessoas com deficiência.
d.    (  ) toda a sociedade.


4)    Você convive (mora, estuda, trabalha, tem familiares, amigos) ou já conviveu com pessoas com deficiência de sua idade?

a.    (  ) sim.  Onde?
b.    (  ) não.


5)    Quando você escuta a frase “educação para todos”, você acha que este “todos” inclui pessoas com deficiência?

a.    (  ) sim.
b.    (  ) não.


Características das Oficinas Inclusivas

- Tempo de duração: de 3 a 3h e meia, com intervalo de 10 minutos após a quarta dinâmica (3 horas é o tempo mínimo, utilizado durante o projeto Quem cabe no seu TODOS?, mas este tempo pode ser prolongado para 4 ou 5 horas, com dois intervalos mais longos)

- Número de participantes: de 20 a 25, incluindo pessoas com e sem deficiência, lembrando que o tempo de 3h e meia é o ideal para 25 participantes 

- Espaço físico: amplo, arejado, no qual as pessoas possam estar em círculo, em pé ou sentadas, com conforto para se olharem e para se movimentarem dentro da roda. Pode ser uma sala de aula, um jardim etc, mas nunca um local que impeça ou dificulte os participantes de se observarem. Verifique se o local é silencioso, para que as pessoas possam se ouvir e a concentração seja maior.

- Material de apoio: papel, caneta e hidrocor para trabalhos em diferentes formas de comunicação e expressão (português, braile, desenho, letras ampliadas para quem tem baixa visão, notebook e outras tecnologias assistivas para permitir a comunicação, dispositivos com letras e figuras utilizados por pessoas com déficit na coordenação motora etc)

- Equipe: dois oficineiros e uma intérprete de Língua de sinais brasileira.

  
Situações de risco

            A pessoa responsável pela organização das oficinas (não necessariamente o oficineiro) deve ficar atenta às situações de risco, que podem comprometer o sucesso do trabalho, e encontrar meios próprios de superá-las.
            Aqui enumeramos apenas algumas dessas situações; outras surgirão dependendo das particularidades de cada comunidade.

            Situações de risco mais comuns:

1)    Não conseguir o percentual de 15% de jovens com deficiências diversas ou, ao contrário, ter bem mais do que 15% de jovens com deficiências diversas nas oficinas
      Para diminuir este risco: explicar com detalhes e, se necessário, até escrever, porque é necessária a presença dos 15%. Quanto mais clara ficarem essas explicações, menos risco se corre. Veja como explicar.
      Por que os 15% de participantes com deficiência são necessários?
      Porque as Oficinas Inclusivas têm como meta reproduzir o percentual de             pessoas com deficiência que vivem na sociedade, de acordo com o Censo 2000  do IBGE. Dessa forma, estaremos atuando em um ambiente o mais próximo do real possível.

2)    Ter o percentual de 15% de jovens com deficiência sendo a maioria com a mesma  deficiência
            Para diminuir este risco: explicar com detalhes e, se necessário, até escrever, qual a importância das deficiências serem diferentes. Veja como explicar.
      Por que as deficiências devem ser diferentes?  
            Porque cada tipo de deficiência gera um impasse de comunicação diferente, uma situação e um desafio inusitados para o grupo. Quanto mais desafios, mais interessante fica a oficina. Em aproximadamente 25 pessoas, haverá em média quatro jovens com deficiência. O ideal é que cada um tenha uma deficiência física, intelectual, visual ou auditiva.

3)    Não conseguir ter um número mínimo de pessoas na hora da realização das oficinas  
            Para diminuir o risco: enviar convite com antecedência, pedindo que as pessoas envolvidas na realização da oficina, tanto parceiros quanto participantes, confirmem sua parceria ou a presença por meio de internet, fax, correio, ou telefone, assim que for possível e respeitando prazos, colocando a data para a realização das oficinas e se dispondo a cumprir outros compromissos que o responsável pela organização e os oficineiros acharem necessários.  Este livro traz uma sugestão de convite.

4)    Sofrer pressão para realizar a Oficina para grupos homogêneos, por qualquer razão
            Para diminuir o risco: explicar que a metodologia das Oficinas Inclusivas se propõe a reproduzir um ambiente real sob a ótica da diversidade humana. 

5)    Descobrir que a convocação dos jovens para a oficina foi baseada em critérios que não combinam com a metodologia, como reunir apenas os alunos com notas mais altas, ou os com notas mais baixas, ou os mais desinibidos, ou os alunos considerados “problema” etc 
            Para diminuir o risco: dizer que a oficina não é um prêmio ou um castigo, apenas uma oportunidade de reunir pessoas que acreditam na construção de um mundo que não admite discriminação e querem encontrar meios de colaborar para a construção desse mundo.

6)    Ter participantes chegando atrasados à oficina e pedindo para entrar
            Para diminuir o risco: colocar no convite que atrasos não serão permitidos pois, além de prejudicarem quem já está na oficina, atrapalham os próprios atrasados, que perdem algumas Dinâmicas e Provocações, ficando perdidos por não terem acompanhado a linha principal de raciocínio desde o início.
Mas todo participante atrasado deve ficar de fora?
Esta é uma decisão sempre difícil. O ideal é manter isso à risca, mas em caso de dúvida, peça ajuda ao grupo. Às vezes, o participante que chega atrasado é peça fundamental para a reflexão do grupo e isto acontece quando ele é alguém com deficiência. Mas devemos mudar o critério nesse caso? Isso é correto? Isso é inclusão? Como agir, principalmente quando outras pessoas que já chegaram atrasadas foram impedidas de entrar? Lembro que o oficineiro não tem todas as respostas e que o seu papel é o de aproveitar, ao máximo, as oportunidades que surgem para instigar o grupo. Foi o que fizemos em uma Oficina organizada pelo Grupo 25 (nossa ONG hospedeira em São Paulo), em agosto de 2002, no Colégio Friburgo. O estagiário do projeto Quem cabe no seu TODOS?, Ivan Kasahara documentou o ocorrido, em seu relatório, em seu relatório:
            “... Mais de uma hora depois de iniciada a oficina, chegou um adulto com paralisia cerebral que havia sido convidado com antecedência de dias para participar. Coincidentemente, momentos antes, estávamos discutindo com o grupo de jovens sobre mudança de mentalidade, no caso, a mudança de mentalidade exigida para a construção de uma sociedade inclusiva, e abordamos a questão dos critérios.
Inclusão não é sinônimo de paternalismo ou condescendência extrema para com as pessoas com deficiência e, por isso, os critérios, depois de devidamente reformulados, têm que ser os mesmos para todos. Claudia exemplificou com a seguinte pergunta: ‘Se uma pessoa surda chegasse agora, ela poderia participar da oficina?’ (a regra das oficinas é não admitir atrasos). Diante dessa situação hipotética, e na presença da intérprete de Libras, os jovens responderam convictamente que sim, porque a Oficina estava preparada para atender à comunicação inerente aos surdos. Mas, para surpresa do grupo, Claudia lhes disse que não, porque essa pessoa estaria atrasada mais de 15 minutos, e o critério ‘ninguém entra com mais de 10 minutos de atraso’ deve ser válido para todos.
Ironicamente, logo depois desse exemplo, chegou o jovem com paralisia cerebral e seu acompanhante. Um ar de dúvida pairou no ar. O que fazer? Nas mentes dos participantes deveriam estar passando pensamentos do tipo ‘para ele é mais difícil chegar aqui’, ‘coitado, já fez um sacrifício tão grande para chegar’, ‘a presença dele é fundamental, nunca vi de perto alguém assim” etc, enfim, argumentos capazes de justificar mudanças no critério apenas para ele ficar.
 Claudia propôs, então, que nós analisássemos melhor a situação antes de definir se o convidado ficaria ou não, deixando que o grupo tomasse uma decisão. Perguntamos por que ele havia se atrasado e seu acompanhante disse que havia sido por causa do trânsito ruim e porque eles haviam saído tarde da USP, onde freqüentam juntos o curso de Jornalismo, como ouvintes. O fato era que a presença de uma pessoa com paralisia cerebral no grupo despertara muita curiosidade entre os presentes, principalmente pelo fato de toda comunicação com ele se dar através de uma espécie de tabuleiro com letras, números e figuras, anexada à sua cadeira de rodas, chamado Bliss, no qual a pessoa indica, com o dedo ou com o olhar, o que quer dizer. Depois de muita conversa, e devido aos argumentos apresentados pelo grupo, e ao provável enriquecimento que a presença de uma pessoa com paralisia cerebral traria à oficina, o grupo optou por sua permanência.
Antes que a decisão fosse tomada, no entanto, Claudia fomentou a reflexão do grupo perguntando se a partir daquela hora, caso uma outra pessoa chegasse atrasada, nós permitiríamos que ficasse conosco. A questão colocada era: para representantes de que diversidade mudaríamos nosso critério de avaliação? Como o Colégio Friburgo é um colégio particular, Claudia perguntou: ‘E se chegasse agora um menino em situação de rua e um outro desse mesmo colégio, juntos, nós permitiríamos a permanência destes? Ou só de um?’.
Eu realmente acho que nossa decisão foi correta. Não por tê-lo deixado participar, mas sim por termos discutido a situação e reavaliado nossos conceitos. Isto é algo que deve ser feito constantemente e um dos grandes obstáculos para a sociedade inclusiva é justamente o fato de muitas pessoas permanecerem estáticas e inertes em suas visões de mundo. Como Claudia diz, ‘a sociedade para TODOS há de ser construída, remodelada e melhorada a cada dia’. Contudo, se o jovem que chegou atrasado não tivesse deficiência alguma, nós estaríamos tão dispostos a refletir? Será que sequer lhe daríamos a chance de justificar seu atraso?
Como se não bastasse isso tudo, nossa reflexão se acirrou mais ainda quando o jovem com paralisia cerebral, além de chegar atrasado e apenas uma hora depois de provocar tantas questões no grupo para decidir se ele ficaria ou não, disse que ia sair naquela hora, uns 60 minutos antes do final da oficina, por ter outro compromisso. 
            Mesmo assim, durante o pequeno tempo em que ficou conosco, o grupo pôde perceber e comentar como muitas vezes o acompanhante do jovem com paralisia cerebral falava pelo mesmo, não lhe dando a oportunidade de se expressar e de apontar sozinho as letras e os símbolos que desejava para se comunicar. Mesmo quando começava a formar palavras usando os símbolos Bliss, o acompanhante se antecipava a ele, tentando adivinhar o que apontaria”.
           

7)    Ter participantes querendo sair antes do término da oficina
            Para diminuir o risco: colocar no convite que para participar da oficina é indispensável poder ficar até o fim. Quem não puder ficar é melhor não entrar. Isto deve ficar claro, se possível, no convite. Garantir que as oficinas tenham o tempo estipulado pelo oficineiro (3 horas de duração, no mínimo) é prioritário. Qualquer diminuição de tempo previsto implicará no sub-aproveitamento do trabalho.

8)    Receber pedidos de pais e/ou professores de adolescentes com e sem deficiência para acompanhar as oficinas
            Para diminuir o risco: deixar bem claro, ao organizar as oficinas e convidar os participantes, que não será permitida a presença de acompanhantes, pois isso, na maioria das vezes, inibe o grupo e impede que as dinâmicas transcorram com qualidade.


As Oficinas quase impossíveis


            Apontamos as situação de risco e é importante ressaltar especialmente uma, a de número 4: “Sofrer pressão para realizar a oficina para grupos homogêneos, por qualquer razão”.
            Para explicar melhor o porquê desta preocupação, relato uma conversa minha com um empresário, há alguns anos:
Após termos participado juntos de uma mesa temática sobre inclusão e responsabilidade social em um congresso, o empresário me disse que apoiava financeiramente várias escolas e projetos educacionais nas comunidades ao redor de sua fábrica e por ter muita vontade de investir também em instituições só de crianças com deficiência, havia ido visitar uma escola especial. Mas, lá chegando, sentiu-se muito mal, um mal-estar real, físico, ao ver tantas pessoas com deficiência mental juntas, tão parecidas entre si nos seus comprometimentos. Ele então havia chegado à conclusão de que lhe seria impossível conviver com naturalidade em um ambiente assim. Eu lhe dei razão. E perguntei se ele também não se sentia mal quando entrava em um ambiente onde não tinha ninguém com deficiência (como provavelmente eram as salas de aulas das escolas regulares ao redor de sua fábrica). Ele me disse: “Não”. Eu respondi: “Que pena, eu também não, mas a situação é igualmente anômala. Deveríamos nos sentir mal”.
Se eu não passo mal quando entro em um local onde só haja pessoas sem deficiência como cinemas, praças, bancos, festas é porque, assim como o empresário com quem conversava, também já me habituei a achar que o saudável e o desejável é encontrar juntas pessoas que têm dois olhos, as partes visíveis do corpo funcionando razoavelmente bem, um intelecto que nos pareça em bom estado. Acho natural porque fui educada para achar isso natural. Assim como fui educada para achar anti-natural, pouco saudável e desejável um ambiente só de pessoas com deficiência.
Não deveríamos ficar à vontade em nenhuma das duas situações, porque elas são extremas e contrariam a forma como as condições humanas se apresentam na face da Terra, totalmente misturadas. As duas situações reproduzem uma farsa, a única diferença é que já nos habituamos a uma dessas farsas. À outra, não.
Nascemos embaralhados, sem qualquer ordem ou critério. Bebês de todos os tipos, totalmente diferentes entre si, alternam-se chegando ao mundo na mais aleatória das probabilidades. Portanto, seria lógico nos sentirmos profundamente constrangidos e violentados sempre que nos deparássemos com situações nas quais a humanidade estivesse reproduzida de forma anômala, ou seja, organizada por algum propósito ou critério.
Juntar na primeira fila do cinema pessoas com dedo mindinho quebrado, já imaginaram? Ou criar uma agência de empregos especializada em colocar índios no mercado de trabalho? Filas de supermercado divididas nas categorias obeso, anão, homossexual, filhos adotivos, loiras... Caso conseguíssemos nos sentir fisicamente mal diante de situações grotescas como essas, daríamos um salto qualitativo em nossas reflexões e ações. Mas isso raramente acontece.
A verdade é que apenas em duas das 89 Oficinas Inclusivas que realizamos pelo Brasil, tivemos dificuldade de ir adiante. Uma foi em Belo Horizonte. A outra em Curitiba. E os jovens dessas duas oficinas estavam agrupados, na minha opinião, segundo critérios anti-naturais, embora gerados por pessoas bem intencionadas.
Na primeira dessas oficinas, em Belo Horizonte, apesar da nossa orientação para a escola não selecionar os adolescentes e jovens participantes por qualquer critério como bom ou mau desempenho escolar, bom ou mau comportamento etc, os alunos que estavam conosco eram os “alunos-problema”, organizados por problemas, os mais diferentes problemas. Não deu certo.  Nós sequer éramos ouvidos e eles também não se ouviam, nem por um minuto. Tivemos que interromper o trabalho no meio.
Eu me senti muito frustrada por isso. Tentando entender o que acontecera, chegamos à conclusão de que aquela turma fora oferecida com muito carinho para nós, pela escola, talvez em função da idéia equivocada que as pessoas têm do que seja uma sala de aula inclusiva, uma turma inclusiva. O objetivo da inclusão não é inserir os deficientes, os doentes e os alunos-problema juntos, no mesmo ambiente, porque nesse caso estaríamos contrariando a realidade composta pelas diferenças.
Na segunda oficina, em Curitiba, trabalhamos com uma turma de aceleração de aprendizagem, na qual os alunos eram agrupados por sua dificuldade em dar conta do conteúdo da escola. A faixa etária variava de 12 a 17 anos. Apesar de ser um grupo pequeno, de apenas 19 alunos, os estudantes eram muito agitados. Em vários momentos foi preciso pedir que prestassem atenção. Participaram desta oficina dois jovens com surdez e a intérprete de Libras, levada por nós, pois, segundo a diretoria da escola, os dois jovens faziam leitura labial e não havia necessidade de se manter intérpretes de Libras para atuar junto a eles.
            Um dos momentos mais impactantes da oficina foi quase no final, quando um dos meninos sem deficiência se referiu a um dos jovens surdos como mudinho. Nós já havíamos explicado, no decorrer das oficinas, que não é correto falar que uma pessoa surda também é muda, porque todas as formas de expressão humana são legítimas, mas o menino logo se defendeu dizendo: “Ele não liga de ser chamado de mudinho, não”. Os outros alunos também afirmaram estar acostumados a tratar o colega surdo por mudinho, garantindo que ele não se importava. Pontuamos com o grupo se alguma vez eles já haviam perguntado para o próprio colega surdo se ele gostava ou não desse apelido. Os alunos disseram que não. Solicitamos, então, à intérprete, que fizesse esta pergunta ao menino. Para surpresa da garotada, ele enfaticamente disse que não gostava de ser chamado de mudinho.
Foi muito difícil realizar essa Oficina, e eu credito isso à “homogeneidade” do grupo, formado por aqueles que “não acompanham a turma” ou “não passam de ano”. Ao final da oficina, quando fomos tirar nossa foto oficial, mais da metade da turma saiu. Fiquei decepcionada e nessa hora pensei nos professores e nas professoras do Brasil, no quanto precisam ser criativos, até transgressores, para driblar as situações pouco naturais impostas pelo sistema educacional brasileiro.    
            Por tudo isso, repito: ao realizar Oficinas Inclusivas, busque e privilegie a diversidade. Lembre-se de como os bebês nascem, misturados entre si.


 Sugestão de convite

            Este convite pode ser mais formal ou menos formal, conter mais informações ou menos informações. Aqui, damos apenas uma sugestão.

Convite individual para Oficina


    O que é?

    Um encontro com adolescentes e jovens  e ... para discutir o conceito de         inclusão.

   Conceito de sociedade inclusiva

    É uma proposta da Organização das Nações Unidas (ONU)que defende a         construção de um mundo para TODOS até o ano de 2010.

     Sua participação

     Queremos que nas três horas de duração da oficina você assuma o compromisso de nos ajudar a           buscar e a  disseminar soluções para a construção de um mundo inclusivo. Centenas de                         adolescentes de várias regiões do Brasil já participaram dessas oficinas, Venha dar sua                           contribuição.
     
           




Aceito o convite,______________________________________________
Nome legível
Por favor,devolver este convite no dia da oficina



 







Para quem vai fazer sua primeira Oficina Inclusiva

1.    Leia a metodologia com atenção, anotando suas dúvidas.
2.    Entre no site www.escoladegente.org.br para obter mais informações sobre as Oficinas Inclusivas. Caso tenha dúvidas, faça sua pergunta através do site. Atenção: só serão respondidas as questões que não estejam abordadas neste livro.
3.    Também no site www.escoladegente.org.br tire suas dúvidas sobre o conceito de inclusão, lendo textos e leis sobre o assunto na íntegra.
4.    Procure ler a bibliografia sugerida neste livro.
5.    Releia a metodologia até que não lhe reste qualquer ponto obscuro nela e as cenas descritas nas Dinâmicas e nas Provocações lhe pareçam totalmente familiares, a ponto de você conseguir imaginá-las em detalhes.
6.    Exercite as Dinâmicas e as Provocações com parceiros e amigos.
7.    Esteja consciente da responsabilidade que é organizar e dirigir uma Oficina Inclusiva, instigando o pensamento e o sentimento das pessoas em relação a um assunto complexo.
8.    Defina seus critérios de avaliação das Oficinas Inclusivas em função dos resultados que deseja alcançar.

  
Para organizar as Oficinas Inclusivas

Certifique-se de que:

1.    O  local escolhido tem acessibilidade para pessoas em cadeira de rodas.
2.    O horário do recreio não coincida com o tempo de duração da oficina, caso a mesma seja realizada no pátio da escola.
3.    Haja um número mínimo de 15 e máximo de 25 participantes.
4.     A confirmação da presença de cada participante das Oficinas Inclusivas tenha sido dada por escrito.
5.     A presença de um intérprete de Libras esteja confirmada, mesmo que a possibilidade de uma pessoa surda não-oralizada participar da oficina seja remota ou inexistente.
6.     Tenha sido providenciado o material em braile, em desenho ou em figuras, em tinta com letras ampliadas, além de notebook e outras tecnologias assistivas para permitir a comunicação.
7.     Haverá uma lista de presença na entrada para os participantes das oficinas assinarem seu nome e endereço completos, a instituição que representam e outras informações importantes. Essa lista é fundamental para quando se deseja fazer uma avaliação nos meses posteriores sobre o impacto das Oficinas.
8.     Se os participantes forem receber certificados, estes deverão estar prontos e assinados para serem entregues ao final das oficinas.
9.     As pessoas de qualquer idade mobilizadas para participar das oficinas sabem exatamente qual é o objetivo da proposta.
10.  Já foram providenciadas as cópias para os questionários de avaliação que serão utilizados nas oficinas, caso este seja o modelo de avaliação adotado pelo oficineiro.

  
Antes de começar cada Oficina Inclusiva


Certifique-se de que:

1.    Já está definido qual dos dois oficineiros irá guiar a oficina. Este ficará com a responsabilidade de tomar as principais decisões relativas ao tempo dedicado à cada dinâmica, por exemplo. O primeiro e o segundo oficineiros podem também combinar e alternar a direção das dinâmicas. Não é aconselhável fazer uma Oficina Inclusiva sozinho.
2.    Os participantes estão sentados em círculo de modo que cada um seja visto com facilidade e conforto pelo outro (não comece a oficina sem arrumar a roda).
3.    Todos os participantes estão usando um crachá com seu nome legível, de preferência em letra de fôrma.
4.    O material de apoio solicitado está disponível: hidrocor, lápis de cor, caneta, papel A4 ou ofício, papel pardo etc.
5.    Há material que permita acessibilidade de comunicação: em braile, em desenho ou em figuras, em tinta com letras ampliadas etc.
6.    Os dois oficineiros estão acomodados em posições estratégicas, ou seja, um de frente para o outro, ambos sentados na roda. Eles precisam estar visíveis para todos os participantes (não comece a oficina sem ter certeza disso).
7.    Caso você vá gravar as falas das pessoas ou filmá-las, elas precisam saber qual é o objetivo dessa iniciativa. É apenas para documentação? Para um trabalho? Para ser utilizada em um programa de televisão?
8.    Há um clima de tranqüilidade e de compromisso com o que será vivenciado nas próximas três horas de oficina.
9.    Não há responsáveis nem professores dos adolescentes acompanhando as oficinas, porque, em geral, este é um fator inibidor dos jovens. Mesmo no caso de participantes com deficiência, resista a acompanhantes. Se for impossível cumprir esta sugestão, peça para o acompanhante ficar sentado fora da roda.
10. O intérprete de Libras está sentado de modo a ser visto pelas pessoas surdas do grupo. Caso nenhum participante da oficina seja surdo, não chame a atenção sobre o fato. Combine com o intérprete, antes do círculo ser formado, para ele também se sentar na roda, em qualquer lugar, como um participante comum e começar a fazer a tradução do português para a Libras tão logo os oficineiros comecem a falar. O intérprete deverá agir, portanto, com naturalidade, como se estivesse diante de alguém surdo, isso até quando os oficineiros determinarem, o que vai depender do desenrolar das dinâmicas. Nesta hora, o grupo será consultado se o intérprete deverá ou não continuar a fazer a tradução (esta é uma das provocações que compõe a dinâmica das Oficinas Inclusivas).
11.  E o mais importante: não tenha qualquer receio de assumir suas falhas, pois a                 inclusão nos traz uma reflexão nova e é muito natural que nos equivoquemos  com freqüência. A cada uma das 89 Oficinas Inclusivas do projeto Quem cabe no seu TODOS? pelo Brasil nos flagramos deixando de tomar alguma providência que deveríamos ter tomado em relação às pessoas com deficiência. E, em função de cada um desses aprendizados, reformulamos nossas ações.Na primeira semana de rodada de oficinas, de 5 a 10 de agosto de 2001, em Salvador, éramos oficineiros inexperientes. Beatriz Botafogo, estagiária do projeto, e eu ficamos perplexas ao perceber que não havíamos levado material em braile para os jovens cegos, mesmo sabendo que eles estariam lá, e que essa era uma condição nossa para a realização das oficinas. Fomos “denunciadas”, durante a oficina para estudantes do núcleo de web design do Estúdio Cipó Multimeios, pelos 24 participantes, incluindo duas jovens cegas e dois jovens com deficiência intelectual, sendo um deles com síndrome de Down. As duas meninas cegas não puderam participar adequadamente da oficina porque não tínhamos o Teste seu TODOS transcrito em braile. A solução encontrada para que as jovens pudessem marcar suas respostas foi a leitura em voz alta do teste. Não consideramos que esta tenha sido uma solução inclusiva, apenas um remendo para a nossa falha.


Ao começar a oficina:

1)    Cumprimente o grupo e agradeça a presença de todos e todas.
2)    Comente que não será mais permitida a entrada de participantes a partir daquele instante para que o trabalho não seja prejudicado.
3)    Explique que durante a oficina, o grupo irá, junto, descobrir o que realmente significa a expressão sociedade para TODOS, sinônimo de sociedade inclusiva, um conceito documentado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em dezembro de 1990, através da Resolução 45/91. Esta Resolução, assinada durante uma Assembléia Geral dos países que compõe a ONU, entre eles o Brasil, solicita aos habitantes do planeta que até o ano de 2010 nós sejamos capazes de construir um mundo no qual caibam TODOS.
4)    Distribua o questionário de avaliação e peça que cada um preencha e guarde o seu, sem assinatura (caso este tenha sido o modelo de avaliação escolhido).
5)    Peça que cada pessoa da roda diga seu nome em voz alta, e também dê outras informações que julgar importante para aquela oficina em particular. Isso varia de grupo para grupo. Quando os participantes são adolescentes e jovens, pode ser interessante saber idade, em que série estão, nome do colégio ou projeto ao qual pertencem, se trabalham e no que trabalham etc.


Dinâmicas e Provocações

            As Oficinas Inclusivas são compostas por oito Dinâmicas e oito Provocações.
            Essas dinâmicas são o fio condutor da metodologia. Juntas, formam uma espécie de jogo divertido e instigante, desses nos quais quanto mais se avança mais se quer avançar.
            As dinâmicas das Oficinas Inclusivas têm o objetivo de despertar a reflexão e os sentimentos das pessoas, ajudando-as a entender como podem participar na construção de um mundo para TODOS, o mundo inclusivo que não deixa ninguém ficar de fora, sob qualquer alegação.  São dinâmicas simples e fáceis de serem executadas. O que as faz  ganhar sentido e importância - ou não - é justamente a atitude e os comentários dos oficineiros durante as dinâmicas. O mesmo vale para as provocações, que se misturam às dinâmicas naturalmente, como será fácil perceber.
            Com a prática, em função do comentário de um participante ou de uma situação qualquer, o oficineiro que dirige os jogos até se sentirá à vontade para trocar a ordem das dinâmicas e das provocações. Mas só deve fazer isso quando tiver experiência na metodologia. 
            Cada dinâmica tem um objetivo específico e começa a partir de uma pergunta-chave ou de um pedido-chave.  
  

Dinâmica 1

O que é inclusão?

O objetivo é fazer uma sondagem inicial com o grupo para ver o que cada um entende por inclusão. No dicionário, os verbos incluir e integrar têm um significado muito parecido: ser inserido, incorporar-se ou fazer parte.
Entretanto, quando representam movimentos internacionais, inclusão e integração são palavras que representam crenças totalmente distintas, embora encerrem a mesma idéia, ou seja, a inserção de pessoas com deficiência na sociedade. São inúmeros os mal-entendidos no uso dos dois termos. A maioria das pessoas usa inclusão, mas defende mesmo é o conceito de integração.   
Para fazer esta dinâmica, será preciso entender a diferença entre inclusão e integração. Leia o quadro abaixo antes de saber mais sobre a Dinâmica 1: 

Principais diferenças
INCLUSÃO
INTEGRAÇÃO
Inserção total e incondicional (crianças com deficiência não precisam “se preparar” para ir à escola regular)
Inserção parcial e condicional (crianças “se preparam” em escolas ou classes especiais para poderem freqüentar escolas ou classes regulares)
Exige rupturas nos sistemas
Pede concessões aos sistemas
Mudanças que beneficiam toda e qualquer pessoa (não se sabe quem “ganha” mais, TODAS ganham)
Mudanças visando prioritariamente a pessoas com deficiência (consolida a idéia de que elas “ganham” mais)
Exige transformações profundas
Contenta-se com transformações superficiais
Sociedade se adapta para atender às necessidades das pessoas com deficiência e, com isso, se torna mais atenta às necessidades de TODOS  
Pessoas com deficiência se adaptam
às realidades dos modelos que já existem na sociedade, que faz apenas ajustes
Defende o direito de TODAS as pessoas, com e sem deficiência
Defende o direito de pessoas com deficiência
Traz para dentro dos sistemas os grupos de “excluídos” e, paralelamente, transforma esses sistemas para que se tornem de qualidade para TODOS  
Insere nos sistemas os grupos de “excluídos que provarem estar aptos” (sob este aspecto, as cotas podem ser questionadas como promotoras da inclusão)
O adjetivo “inclusivo” é usado quando se busca qualidade para TODAS as pessoas com e sem deficiência (escola inclusiva, trabalho inclusivo, lazer inclusivo etc.)
O adjetivo “integrador” é usado quando se busca qualidade nas estruturas que atendem apenas às pessoas com deficiência consideradas aptas  (escola integradora, empresa integradora) 

Valoriza a individualidade das pessoas com deficiência (pessoas com deficiência podem ou não ser bons funcionários; podem ou não ser carinhosos etc.)
Como reflexo de um pensamento integrador citar a tendência a tratar pessoas com deficiência como um bloco homogêneo (ex: surdos se concentram melhor; cegos são bons massagistas) 
Não quer disfarçar as limitações, porque elas são reais
Tende a disfarçar as limitações para aumentar as chances de inserção
Não se caracteriza apenas pela presença de pessoas com e sem deficiência em um mesmo ambiente
A simples presença física de pessoas com e sem deficiência em um mesmo ambiente tende a ser o suficiente para o uso do adjetivo “integrador”

A partir da certeza de que TODOS somos diferentes não existem “os especiais”, “os normais”, “os excepcionais”, o que existe são pessoas com deficiência
Incentiva pessoas com deficiência a seguir modelos, não valorizando, por exemplo, outras formas de comunicação como a Libras. Seríamos um bloco majoritário e homogêneo de pessoas sem deficiência rodeadas pelas que apresentam diferenças


Características da Dinâmica 1

  Pergunta-chave - O que é incluir para vocês? 

Introdução à pergunta-chave - Uma sociedade inclusiva é aquela que só existe na presença de TODOS. Se alguém fica de fora, por qualquer razão, mesmo que seja uma pessoinha bem pequena, que acabou de nascer, prematura, mínima, ou que está prestes a morrer, por fome ou porque é idosa ou está muito doente, se alguém fica de fora, repito, aquela sociedade deixa de ser inclusiva.
É como o conjunto Flores do planeta Terra; basta que uma fique de fora sob a alegação de que está feia, velha, sem cor e beleza, praticamente sem pétalas, que aquele deixa de ser o conjunto Flores do planeta Terra. Por ser radical e incondicional, às vezes fica difícil entender o conceito de inclusão, um conceito que não admite desculpas para deixar alguém de fora. Agora fica mais fácil entender por que a sociedade inclusiva também é chamada de sociedade para TODOS, mas para TODOS mesmo, um TODOS que é tudo, um tudo sem exceções. Então, como vocês definiriam o que é inclusão? O que é incluir para vocês?
Como a pergunta-chave deve ser feita - A todos os participantes, mas individualmente, seguindo a ordem da roda. 

Respostas mais comuns dos participantes – Incluir é “colocar para dentro os excluídos”; botar para dentro da roda ou da sociedade quem está de fora”; “ transformar os excluídos em incluídos”; “entender que somos todos iguais”; “o contrário de excluir” etc.

Comentários do oficineiro (esses comentários devem ser feitos no final, quando todos os participantes já falaram, ou começar a serem feitos já no terço final da roda, para não influenciar as respostas) - Há uma enorme diferença entre incluir como palavra no sentido que ela tem no dicionário e incluir como conceito internacional. Incluir, como conceito, não significa apenas “colocar para dentro quem está fora” (“incluir os excluídos”),  porque neste caso acreditaríamos que a exclusão é uma situação estática, que uma vez excluído, sempre excluído. E, pior, estaríamos certos de que o “dentro” da sociedade não precisa ser revolucionado a cada dia. Isso significa concordarmos que o mundo no qual vivemos vai muito bem, obrigada.
            Isso é verdade? Quem acha que a sociedade brasileira está bem e que todo o nosso problema se resume em “trazer para dentro” quem está fora? Colocar todas as crianças e os adolescentes na escola garante que o ensino seja de qualidade? Garantir que todas as mulheres tenham direito a colocar seus filhos em uma creche pública significa que as crianças desta creche sejam bem cuidadas, com higiene e carinho? Criar cotas para que afro-descendentes e alunos de escolas públicas entrem nas universidades transforma necessariamente os cursos, os currículos e os professores das instituições em exemplos de bons profissionais? É isso que o conceito de inclusão pretende provar: a qualidade dos ambientes escolares, profissionais, familiares, sociais etc só existirá se cada pessoa puder realmente fazer parte dele. E fazer parte dele não é simplesmente estar sentado em uma cadeira na sala de aula, poder se matricular em um curso de direito ou comprar o título de um clube, ou estar ali, naquele exato momento, participando da oficina.  
Sob muitos aspectos, a situação dos “excluídos” é melhor que a dos “incluídos”. Os “excluídos” pelo menos sabem que são excluídos, mas os “incluídos” nem ao menos percebem as situações de discriminação que enfrentam no dia-a-dia, desde crianças, a maioria delas na escola.   
Por isso, o conceito de sociedade inclusiva não é dirigido simplesmente a quem “é minoria”, mas sim a quem “está em minoria”. E cada pessoa estará em minoria várias vezes no decorrer da vida sob o risco de ser, então, discriminada. Assim, por sua abrangência, a expressão sociedade inclusiva também se tornou sinônimo de sociedade para TODOS, como já dissemos, um TODOS sem exceção. Inclusão, como conceito internacional, significa uma inserção imediata.
É fácil perceber o quanto também os adolescentes e jovens, graças ao exemplo dos adultos, acreditam ter o direito de excluir, sem qualquer cerimônia,  algumas pessoas de sua vida e de seus  projetos para o futuro.
O projeto Quem cabe no seu TODOS? realizou duas oficinas em Santos, São Paulo, no dia 7 de março de 2002, ambas em colégios particulares, no Stella Maris e no Pequeno Príncipe. Organizadas pela Up,Down! e pelo Grupo 25, foram boas oportunidades para pensarmos sobre o quanto nos habituamos a achar natural deixar alguém de fora.
Conosco estavam dois jovens com paralisia cerebral, um com síndrome de Down e uma jovem cega. A chegada deles nas escolas causou, para muitos adolescentes, um susto, como eles mesmos descreveram nos depoimentos que nos enviaram. A maioria deles também escreveu que aquela foi a primeira vez que interagiram com pessoas com deficiência. O fato de um dos rapazes com paralisia cerebral só se comunicar através de um álbum seriado foi a grande novidade das oficinas. Quando perguntamos a esses meninos e meninas sobre como desempenhariam suas profissões no futuro, notamos – como sempre acontece – que seus projetos profissionais não incluíam a existência de pessoas com deficiência. Um dos alunos da Escola Pequeno Príncipe depois nos escreveu:
“... a Claudia, na brincadeira, perguntou as profissões e quando chegou na minha vez de falar respondi engenheiro e ela perguntou:
- Você já pensou em fazer um prédio com condições para deficientes de qualquer tipo?
Nunca pensei em fazer um prédio com condições para deficientes. Quando cheguei em casa imaginei como fazer e cheguei à conclusão: para os cegos eu ia colocar faixas de alto relevo nas paredes e no chão. Para quem tem dificuldade de andar eu ia colocar barras nas paredes e nos elevadores”.

Atenção redobrada: Os oficineiros devem ter muita atenção na argumentação do grupo de que “todos somos iguais”. Este é, sem dúvida, o discurso da mídia e dos educadores, incluindo aqui profissionais de diversas áreas. E é também o discurso habitual do terceiro setor. Será fácil observar, tanto entre adolescentes, jovens e adultos, o quanto o grupo acredita ser isto o que os oficineiros desejam ouvir, porque dizer que somos todos iguais é o politicamente correto, o esperado, só que inclusão não é o politicamente correto ou com o senso comum.


Provocação 1 - Quem nunca se sentiu excluído na vida mesmo estando, aos olhos dos outros, incluído?
Por exemplo: uma criança está na escola, tem uniforme, seus pais a amam, ela tem o que comer quando chega em casa, faz os deveres com conforto, tem uma bela e confortável casa, parece que está tudo bem com ela. Podemos afirmar que esteja incluída na escola? Não. Podemos afirmar apenas que está integrada, mas para garantir que ela esteja incluída, precisamos saber se seus desejos, suas necessidades, suas aptidões, seu tempo estão sendo levados em consideração a cada decisão dos professores, a cada atividade, porque inclusão é sinônimo de qualidade de atendimento, de escuta, de ações  em prol daquela pessoa 
Suponhamos que essa criança não consiga aprender matemática com a mesma velocidade que a maioria de seus colegas ou que não seja ágil nos jogos, na aula de educação física, ou que desafine na aula de música, não tenha ritmo, e que os professores fiquem impacientes, deixando-a para o fim, sempre, em uma tentativa sutil de excluí-la das aulas que “atrapalha”. Em geral, são formas de exclusão bem delicadas, aceitas até por seus pais. Que formas de discriminação seriam essas que transformam “crianças aparentemente incluídas” em “crianças disfarçadamente excluídas”? “Adolescentes incluídos” em “adolescentes excluídos”, sem que isso possa ser denunciado, seja um escândalo, vire notícia em jornal e televisão?
Muitas vezes, a exclusão e a discriminação são disfarçadas sob o ganho de um prêmio. Imaginemos uma jovem que adore cantar e queira fazer parte do coro da igreja ou da escola, embora seja muito desafinada. O aconselhável seria dizer a verdade a ela, por mais desagradável que isso fosse, tentando simultaneamente ajudá-la a superar suas dificuldades ao cantar ou, quem sabe, encontrando outras formas dela participar do coro. Mas vamos supor que as pessoas, os adultos à volta dessa jovem preferissem não ser tão sinceros e adotassem outras estratégias para resolver o que consideravam um problema: a menina desafinada.
Neste caso, optariam por dar a ela o título de monitora do coro, ou de responsável pelo coro, e a jovem teria tantas atribuições, mas tantas atribuições, que não lhe sobraria mais tempo para cantar. E aí? Como desconfiar desse prêmio? Não estariam todos da família orgulhosos com o título oferecido à menina? Com a confiança nela depositada? A pergunta é: essa jovem estaria feliz, realmente feliz, já que não lhe sobrava mais tempo para cantar? Já que não tinha mais opções?
Existem outras formas de discriminação muito aceitas e valorizadas. Uma delas é freqüente no âmbito dos projetos sociais e das escolas. Trata-se de só permitir que um adolescente participe do grupo de dança, de arte, de capoeira, da banda etc, se obtiver bom desempenho escolar. Levando em conta que existem várias e possivelmente infinitas formas de inteligência (a maioria delas não avaliada nem manifestada na escola), que as atividades citadas acima são de extrema importância para a formação de qualquer cidadão (desde que ele queira desenvolvê-las) e que o bom desempenho escolar de um adolescente é algo que independe dele pela dificuldade que a maioria das instituições têm de darem conta da qualidade de ensino almejada, o critério da nota como condição para participar de um projeto é injusto, discriminatório e deveria ser banido.
A escola e o significado dela para os adolescentes são sempre um bom tema a ser abordado nas oficinas. Muitas vezes, foi só a partir de uma reflexão sobre sua escola, sua sala de aula e seus professores que os adolescentes foram captando melhor o que significava estar excluído mesmo se considerando incluído.
Houve uma oficina, na manhã do dia 8 de agosto de 2001, em Salvador, que o assunto escola ganhou força e impacto extras. O grupo de 24 jovens se constituía de estudantes do núcleo de histórias em quadrinhos do Estúdio Cipó de Multimeios, da Cipó, nossa ONG hospedeira na Bahia, mais dois jovens com síndrome de Down representando a Ser Down – Associação Baiana de Síndrome de Down, dois jovens com deficiência intelectual, da Associação para o Desenvolvimento da Educação Especial e dois jovens cegos do Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual.
            Quando, durante as dinâmicas, perguntei a um jovem com deficiência intelectual porque ele estava em uma instituição só para pessoas com comprometimento intelectual, ele respondeu: “é porque não sou bom em português e matemática”. O grupo se indignou manifestando-se: “nós também não somos! Por que ele tem que estar lá?! Por que não pode estar conosco?”. Nesse momento, sentimos na pele e na prática a necessidade e a urgência de uma escola inclusiva.
            Idêntica urgência foi sentida no Espaço Criança Esperança, no dia 16 de agosto de 2002, pela manhã, na oficina realizada para 21 jovens. O Espaço Criança Esperança fica localizado no bairro de Jardim Ângela, um dos mais violentos da cidade de São Paulo. Com o apoio do Unicef e das Organizações Globo, o ECE, como é chamado, atende jovens que vivem, em sua maioria, em situação de risco, oferecendo-lhes atividades extra-curriculares, alimentação e outras formas de apoio.
            Esta oficina teve a participação de Carla Bernardi, do Grupo 25, e de uma intérprete de Libras. Estavam também presentes um jovem com autismo e um jovem com deficiência mental, convidados. Durante a oficina, este último se destacou ao relatar que estuda em uma escola especial.  Segundo contou para o grupo, foi para lá  porque “não conseguia juntar as letras direito”. Seu depoimento demonstrou que sua deficiência e a conseqüente dificuldade para escrever são reais, assim como sua interessante maneira de raciocinar. Ele fazia colocações realmente pertinentes e lúcidas, como quando disse que “foi a diretora do meu antigo colégio que me mandou para a escola especial. Ela agia como se a escola fosse só dela. Ela acha isso, mas não sabe que, na verdade, a escola é dos alunos”.        
        Também os adultos têm dificuldade em refletir sobre inclusão e exclusão, principalmente quando não falamos de excluídos clássicos, que são os excluídos aos quais já nos acostumamos a reconhecer como excluídos. Vivenciamos isso em uma oficina para professores em Brasília, no Centro de Ensino Fundamental  02 – no Riacho Fundo, na manhã do dia 14 de junho de 2002.
            Ao final da Oficina, um professor de matemática se aproximou e disse não entender bem o que o conceito de inclusão, “tão filosófico e abstrato”, segundo disse, tinha em comum com sua aula. “Eu preciso de números para entender seu raciocínio”, solicitou. Após já termos feito mais de 60 oficinas pelo Brasil, Thaís Araújo - a estagiária que me acompanhava  -  e eu tínhamos um bom número para ele.
Explicamos, então, que em um levantamento realizado durante as Oficinas Inclusivas, observamos que mais da metade dos jovens com quem havíamos trabalhado em quase todas as regiões do Brasil afirmaram que o momento no qual se sentem mais excluídos dentro da escola é durante as aulas de matemática. “É, acho que agora eu entendi o que você quer dizer”, ele concluiu.
O professor, Thaís e eu ainda conversamos um pouco, já fora da escola, sobre o quanto a matemática, a física, a química, as chamadas ciências exatas, não podem continuar servindo como instrumento de poder para manter a disciplina e a presença nas aulas. Essas matérias têm seu valor e importância, indo além de serem meros instrumentos de avaliação, de censura, de discriminação e, conseqüentemente, de humilhação.
           
Dinâmica 2

Talentos e limitações 


O objetivo desta dinâmica é provar que cada ser humano é um conjunto de talentos e de limitações que se manifestam, mais ou menos intensamente - ou até não se manifestam - em função das oportunidades que temos desde a vida intra-uterina.
Essas oportunidades estão diretamente relacionadas ao ambiente que nos cerca, incluindo a acessibilidade arquitetônica, atitudinal, comunicacional etc. Quando falamos de ambiente, referimo-nos também a pessoas que nos rodeiam (ou nos rodearam) e a decisões tomadas por essas pessoas, no passado ou no presente.
Um jovem cadeirante, por exemplo, se tornará mais deficiente se, perto dele, a seu dispor, não existir um banheiro que possa usar sozinho em função de sua necessidade. Esse mesmo jovem será menos deficiente se estiver em um local com banheiros seguros e adaptados para lhe dar autonomia e independência. Assim, a qualidade de vida das pessoas com deficiência está diretamente ligada à inclusividade dos ambientes familiar, social ou profissional.
Com esta visão, está para ser implementada em todo o mundo a CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, da Organização Mundial de Saúde (2001). Antes, a situação de uma pessoa em processo de reabilitação era avaliada pelo Código Internacional de Doenças (CID), que apontava simplesmente o lado da doença ou da seqüela, ou pela Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapacidades (Organização Mundial de Saúde, 1980), que não foi bem aceita pelas organizações mundiais de pessoas com deficiência. Surgiu, então, a CIF, que focaliza o grau de apoios e adequações da sociedade como determinante do nível de funcionalidade das pessoas com deficiência e que deverá servir de base para novas políticas públicas. Ao contrário da classificação de 1980, esta foi feita com a participação das próprias pessoas com deficiência e não apenas de profissionais de saúde.
A partir da Dinâmica 2, durante as Oficinas Inclusivas, o grupo deverá refletir por que temos tanta dificuldade em reconhecer talentos em pessoas que não enxergam, não falam pela boca e sim por meio da Libras ou que têm um intelecto de alguma forma mais comprometido em certas funções. O conceito de sociedade inclusiva nos garante que TODA pessoa tem o direito de contribuir com seus talentos para o bem comum. Cabe a todos nós, incluindo as próprias pessoas com deficiência, enxergar esses talentos. 
Alguns relatos ajudam muito na reflexão do quanto cada um de nós faz o outro manifestar mais talentos ou mais limitações, lembrando que esse outro pode ser o aluno, o professor, o namorado, o amigo, o empregador, o empregado, o vizinho etc.
Na manhã do dia 25 de setembro de 2001, quando o projeto Quem cabe no seu TODOS? esteve em Pernambuco, trabalhando em parceria com a Auçuba, nossa ONG hospedeira em Pernambuco, e com a Save the Children da Grã-Bretanha, vivenciamos uma oficina na qual um jovem de 21 anos, com síndrome de Down, revolucionou mentalidades.
Esta oficina era para integrantes da Escola de Vídeo do Programa Canal Auçuba, ao todo 10 jovens, de 16 a 22 anos. Cristiane Félix e Ana Flávia Ferraz, coordenadora da Escola de Vídeo, participaram do trabalho. Mais do que questionamentos sobre inclusão, o jovem com síndrome de Down, baterista, propiciou à platéia um super show. Primeiro, as músicas ensaiadas. Depois, os improvisos. Ele e sua professora tocaram violão, bateria e também cantaram. O som esplêndido mobilizou toda a equipe do Auçuba. Aos poucos, jovens e educadores que estavam em outras atividades foram assistir e participar do show. Terminaram fazendo um karaokê ao som da bateria, onde cantaram e  se expressaram na música.
Foi também esse jovem que, ao perguntar como a mídia poderia praticar a inclusão em seu dia-a-dia, nos deu a oportunidade de exemplificar melhor o que chamamos de mídia inclusiva, ou seja, aquela que se empenha para que o tema inclusão permeie todas as pautas e não seja apenas abordado em matérias sobre deficiência.
Demos o exemplo de um temporal. Quando o jornalista vai às ruas cobrir uma catástrofe, por exemplo, pega o depoimento de várias pessoas atingidas pela forte chuva, mas e se passar por ele alguém com síndrome de Down? Ele o entrevistará sobre o temporal? Raramente, pois considera que pessoas nascidas com essa síndrome genética não têm capacidade para dar este tipo de informação, embora possam dar depoimentos, em uma matéria, sobre sua condição. Ao excluir a opinião de uma pessoa com síndrome de Down sobre a chuva, o repórter adota uma atitude inadequada e excludente que devemos nos unir para combater. Não que o repórter seja obrigado a entrevistar todas as pessoas, mas sabemos que, neste caso, nem passa por sua cabeça associar síndrome de Down  a chuva ou a matérias sobre  economia doméstica, leitura de livros, relação afetiva entre homens e mulheres etc.          
            Agora, retornando à questão do quanto a deficiência é resultante da relação entre as pessoas e o ambiente, veja os exemplos abaixo.
Eles serão úteis para que o oficineiro demonstre para os participantes da oficina sua posição.
            Exemplo 1: Pergunte ao grupo o seguinte: se eu sou cega e fulano não é cego, quem tem mais risco de tropeçar e cair quando as luzes estão acesas? Quem é cego, naturalmente. E se eu apago as luzes? A situação não se inverte?
            Exemplo 2: Você já deve ter percebido, à essa altura da oficina, alguém que fale muito baixo, que você tenha pedido para falar mais alto. Ali, no grupo, o fato dele falar baixo pode estar sendo visto como uma limitação, certo? Mas se ele estivesse namorando, a voz baixa e sussurrante imediatamente se transformaria em super talento. 
            Exemplo 3: Se um pedreiro está colocando cimento em uma calçada e está na hora do almoço, o que em geral ele faz para as pessoas não pisarem no cimento? Possivelmente, uma placa com os dizeres: “Cuidado, cimento fresco”. Para uma pessoa analfabeta, isso não quer dizer nada e o cuidado do operário só acentuou uma limitação que poderia estar passando despercebida. A situação é ainda mais limitadora para uma pessoa cega, pois a placa se torna um perigo extra, já que é bem pior tropeçar na placa e ficar grudada no cimento do que simplesmente ficar grudada no cimento. E o que o operário deveria fazer, então, levando em conta que ele agiu com o máximo de suas boas intenções? Pois é justamente este tipo de reflexão que as Oficinas Inclusivas deseja provocar.  
            A Dinâmica 2 se interliga à Dinâmica 1 quando pensamos que se incluir é transformar a sociedade para que ela se torne de qualidade para TODOS, temos que ter, sempre, a preocupação de fazer com que os talentos de TODOS se manifestem mais do que suas limitações, para que a construção de uma sociedade inclusiva brasileira e mundial avance mais rapidamente.  

Características da Dinâmica 2

Pedido-chave - Cada um vai revelar para o grupo um talento seu (ou o melhor talento seu) e uma limitação sua (ou a maior limitação sua), em qualquer área.

Introdução ao pedido-chave - Vamos nos olhar com atenção, olhar para o corpo todo de quem partilha conosco esta roda (dê alguns minutos para isso; esse tempo, em geral, associado ao que foi solicitado, gera um certo c
onstrangimento). Pelo que estamos observando agora, vocês acham que a maioria de nós é mais capaz ou menos capaz de fazer coisas como falar, andar, pensar, colaborar, aprender uma profissão, tocar um instrumento, namorar, escrever ou pegar um ônibus?
            A resposta a essa pergunta costuma ser que somos mais talentosos do que limitados, ou mais capazes do que incapazes no dia-a-dia. É a dica para o oficineiro pedir que cada um revele um talento e uma limitação sua. Acontece com freqüência do grupo não entender o que está sendo pedido, e isto é perfeitamente compreensível. Temos muita dificuldade em falar sobre nossas limitações, associando-as a defeitos, falhas, erros, fracassos. A propósito, não permita que o grupo confunda a palavra limitação com as citadas acima, corrija-o na hora.
            O oficineiro deve pedir que as pessoas imaginem, então, como se sentem as pessoas com deficiência nas quais, na maioria das vezes, só nos chama a atenção a limitação que têm.
            É muito importante, nessa dinâmica, reforçar que todos temos talentos e limitações, sendo que falar de ambos com naturalidade é dar um grande passo para entender o que é inclusão. Será preciso reforçar, com o grupo, a idéia de que incluir, com certeza, não é negar limitações, que todos temos, mas enxergar talentos através delas.
            Cuidado: caso o grupo insista para que o oficineiro comece falando de seu próprio talento e sua própria limitação, não ceda, pois a tendência será “copiarem” o talento e a limitação do oficineiro, informação que pode ser dada depois que todos na roda tiverem se manifestado.

Como o pedido-chave deve ser feito - A todos os participantes da roda, individualmente, seguindo a ordem. Os oficineiros respondem no final.

Respostas mais comuns ao pedido-chave - “Não consigo falar de uma limitação, nunca pensei nelas”; “não tenho talentos” etc.

Comentários do oficineiro (esses comentários devem ser feitos no final, quando todos os participantes já falaram, ou começar a serem feitos já no terço final da roda, para não influenciar as respostas) -  Como já dissemos, cada pessoa é um pacote de talentos e de limitações que se manifestam aleatoriamente. O fato de alguém  ter dificuldades para pensar tanto em suas habilidades quanto em suas limitações significa que ele supervaloriza um aspecto ou outro do conjunto de suas características individuais; talvez seja muito tímido ou bastante pretensioso. O que quase sempre observamos é o quanto as pessoas se conhecem pouco, ou pensam pouco sobre si sob a ótica do ser humano. Uma idéia é perguntar se alguém do grupo a conheça e pode falar por ela, com seu consentimento, é claro. Essa tática poderá ajudá-las no reconhecimento de suas próprias diferenças.
            Em geral, as respostas do grupo a esse pedido-chave costumam surpreender bastante. Os adultos acabam falando por alguns minutos, bem mais sobre si do que seria necessário. Os jovens tendem a ser mais diretos e a repetir o que os jovens anteriores falaram.
Há exceções. Na oficina feita na Escola Caminho Aberto, organizada pelo Grupo 25 e a Cidade Escola Aprendiz, em São Paulo, na manhã do dia 27 de junho de 2002, todos os alunos eram da 6º e 7º séries. Havia uma jovem com síndrome de Down convidada para a oficina que, nessa hora, deu um depoimento no qual disse como é ser tratada como “a” diferente.
A jovem explicou que as pessoas com quem convive na família e na escola não a deixam falar, não consideram sua opinião. Quando alguém conversa com ela, sente-se emocionada, pois isto é muito raro. Disse que tem medo das pessoas e de suas reações quando a vêem e que, por causa disso, é muito tímida, principalmente com homens.
Percebemos que essa jovem tinha a sensação de nunca ter realmente participado de sua comunidade, simplesmente porque não a deixavam. Enquanto falava para o grupo, ela parecia aproveitar cada segundo, pois sabia que não era todo dia que havia pessoas prontas a ouvi-la.
Em uma oficina realizada com meninos e meninas da Associação Beneficente São Martinho que trabalham na Petrobras, em 5 de julho de 2002, no Rio de Janeiro, obtivemos de um outro jovem com síndrome de Down, convidado para esse grupo, uma das mais complexas respostas recebidas nesta dinâmica. Perguntamos qual era sua maior limitação. Como ele não entendeu, perguntei o que ele fazia pior. Ele nos disse que sua maior limitação era sofrer. Seu talento? Nadar.
O oficineiro perceberá também que muitas vezes o que uma pessoa cita como limitação, outra cita como talento. É importante aproveitar para pontuar o fato, relacionando as respostas. Esta medida dará, aos participantes, a compreensão do quanto é impossível medir talentos e limitações, comparar pessoas, rotulá-las ou por um aspecto ou pelo outro. Jamais poderemos saber se alguém é mais talentoso ou limitado, tudo depende do ambiente que o cerca, das demandas desse ambiente, de cada momento em particular.
Vivemos uma experiência interessante na oficina realizada no Centro de Ensino Médio  417, em Santa Maria, no Distrito Federal, na manhã do dia 13 de junho de 2002, para um total de 30 adolescentes. Interessante porque provou, mais uma vez, o quanto aquele que se considera incluído agora pode ser o excluído do segundo seguinte.
Nessa oficina, além de uma intérprete de Libras, havia jovens com deficiência representando a Creche Cruz de Malta, na qual trabalhavam. Eram pessoas com síndrome de Down e com outras deficiências intelectuais. Havia também um jovem com deficiência física e uma jovem surda.
            Como aconteceu em outras oficinas, esta jovem surda aproveitou a presença da intérprete de Libras para denunciar o quanto entendia pouco do que se passava na sala de aula e na escola, ficando nesses ambientes limitada apenas à leitura labial. Estávamos nessa conversa quando começou a tocar a composição Bolero, de Ravel, muito alta, para anunciar que era hora do recreio na escola. Imediatamente, os alunos das outras turmas saíram das salas e correram para o pátio. Juntando o barulho das falas com a música, ficou impossível ouvir o que cada um do grupo falava na nossa oficina. Entretanto, a comunicação da jovem surda com a intérprete, por ser em Libras, não ficou prejudicada. Aproveitamos para chamar a atenção dos jovens: “Vocês estão vendo como as limitações são construídas ou aumentadas pelo ambiente? Até agora, nós nos ouvíamos muito bem e ela era a única surda. De repente, os surdos somos nós”.
            A presença de pessoas com deficiência, mais uma vez, é decisiva para o sucesso dessa dinâmica pois, apesar de a maioria dos participantes acharem que elas citarão como limitação sua deficiência, isso não acontece. Em inúmeras oportunidades, jovens bastante comprometidos fisicamente, por exemplo, citaram que sua limitação era comer chocolate demais ou não saber falar inglês. O restante do grupo costuma se surpreender com o fato da deficiência não ser citada como uma limitação.


Provocação 2 – Que profissão vocês querem ter (no caso de adolescentes e jovens)?
            Perguntando a cada um da roda que profissão querem seguir será interessante notar o quanto o grupo, ou alguns de seus integrantes, costumam se surpreender com os planos de futuro das pessoas com deficiência.
Lembro-me de uma oficina feita em São Paulo, em 23 de outubro de 2001, para alunos da 8º série da Escola Municipal Olavo Pezzotti, no bairro de Vila Madalena. Eram 31 alunos de 14 a 17 anos, além de duas adolescentes de 14 e 19 anos do Instituto Laramara, ambas com baixa visão, e duas jovens de 22 e 24 anos, com síndrome de Down, representando o Carpe Diem. Esta oficina concorrida, foi organizada pelo Grupo 25 em parceria com a Cidade Escola Aprendiz.
            Os participantes estavam atentos e participativos. Quando fiz a Provocação 1, no início das oficinas, perguntando se alguém ali já havia enfrentado algum tipo de preconceito, um adolescente e uma adolescente se colocaram claramente na posição de excluídos. O jovem de 16 anos, filho de classe média e, portanto, minoria entre os alunos da Olavo Pezzotti, disse ser incompreendido pela família, conservadora, por ser punk. Comentou também ter dificuldades em participar das aulas (“minha maior preocupação no momento é conseguir passar de ano”).  Já a adolescente alegou sentir-se excluída da sociedade, citando casa e escola, por várias razões, entre elas, o desejo de se dedicar à moda como profissão.
            Várias situações interessantes surgiram geradas pela presença dos jovens com deficiência visual e mental. Em determinado momento, pedi a cada um do grupo que me falasse sobre que profissões pretendiam seguir no futuro. Quando uma das adolescentes com deficiência visual disse que gostaria de ser guia turística, ou advogada, um aluno argumentou imediatamente que sua limitação visual prejudicaria seu desempenho profissional. Ela o contestou com tranqüilidade dizendo que “um cego pode fazer tudo”.
Aproveitei para instigá-los ainda mais sobre a questão dos talentos e das limitações, perguntando: "Por que nos achamos capazes de adivinhar até onde alguém pode ou não pode ir? E será que agimos assim em relação a todas as pessoas? Ou apenas em relação àquelas por nós consideradas limitadas, não detentoras de talentos suficientes para ‘vencer na vida’? Por que vocês não questionaram a meta profissional da maioria do grupo? Por que apenas o sonho de uma das pessoas do grupo que tem baixa visão foi questionado? Será que todos vocês aqui têm os talentos necessários para alcançar seus objetivos?".
            Esta oficina ainda foi pontuada pela espirituosidade de uma jovem com síndrome de Down que mereceu aplausos de toda a turma ao fazer um comentário muito sério sobre o namoro e a dificuldade dos apaixonados lidarem com suas próprias diferenças, assunto que será abordado a partir da Dinâmica 4.
            Uma outra oficina marcante foi a realizada no dia 24 de outubro de 2001, para 12 adolescentes grafiteiros do Projeto 100 muros da Cidade Escola Aprendiz, em São Paulo. A sintonia com o grupo foi imediata, embora tenha sido difícil mantê-lo atento porque não havia a presença de adolescentes e jovens com deficiência na oficina. Como já foi comentado, quanto mais diversidade, mais a metodologia das Oficinas Inclusivas se enriquece. Mesmo assim, obtivemos sucesso. O professor da turma, comentou que esta era a primeira vez que eles se reuniam para conversar e não para se manifestar através da principal forma de expressão do grupo: a arte. Ele mesmo estava curioso para ver como os adolescentes, todos homens, se comportariam.
            Por eles serem muito rápidos em suas respostas, algumas vezes precisei de um tempo extra para ser suficientemente criativa e dar conta desta oficina. No que se referia à imagem das pessoas com deficiência, entretanto, aqueles jovens tão interessantes também haviam nutrido, no decorrer de suas vidas, uma idéia ultrapassada. Isso ficou nítido quando perguntei ao grupo se um cego poderia ser grafiteiro. Inicialmente, disseram que não. Perguntei se eles já haviam pensado nesta possibilidade ou convivido com algum cego na escola ou em família. Responderam que não. Pedi que pensassem melhor no assunto.
Os meninos foram conversando sobre essa hipótese entre eles, aos poucos novos argumentos surgiram, e assim chegaram à conclusão de que estavam enganados. Um cego pode grafitar, sim. Sugeriram que ele trabalhasse com o abstrato ou com relevo. Argumentei que eles estavam sendo muito rígidos, querendo direcionar a arte dos grafiteiros cegos.
A verdade é que ninguém tem o direito de dizer até onde o outro, qualquer outro, pode chegar. Ficou claro, mais uma vez, para mim, que algumas das situações inclusivas que defendemos são difíceis de serem aceitas apenas porque nunca as exercitamos, nem hipoteticamente. Vale registrar, para nossas reflexões, o quanto um grupo de adolescentes que vive no dia-a-dia uma situação de exclusão, por não serem vistos pela maioria da população como artistas, como eles são e se consideram, mas sim como “destruidores do patrimônio alheio”, reproduzem o mesmo processo de discriminação em relação a outras minorias.


Dinâmica 3

Vocês são gente? 

            Essa é uma dinâmica instigante. Pode ser considerada o ponto alto das Oficinas Inclusivas, embora, como as demais dinâmicas, seja muito simples; e a pergunta-chave, óbvia: vocês são gente?
            O objetivo da Dinâmica 3 é apontar a tranqüilidade com que hierarquizamos condições humanas, classificando seres da espécie Homo sapiens, à qual pertencemos, em seres mais humanos ou menos humanos. Tal hábito apenas fica mais contundente quando o analisamos sob a ótica da deficiência. O maior benefício que o tema deficiência nos traz, quando inserido nas reflexões comuns, é escancarar nossas piores práticas, aguçar conflitos, desmistificar o que conseguimos esconder de nós mesmos.
            Freqüentemente, observamos na mídia o vocábulo inclusão e suas derivações, como escola inclusiva, designando experiências em instituições de ensino que nada têm de inclusivas. São instituições que decidem, com muita tranqüilidade, combinar crianças com e sem deficiência na mesma sala de aula para “ver se dá certo”.
            Nenhuma escola pode “testar combinações de crianças”, “escolher e devolver alunos” em função de uma característica humana qualquer. Isso porque as escolas devem ser o exemplo maior do encontro universal de pessoas da mesma geração, que juntas serão responsáveis pelas transformações sociais que almejamos em cada comunidade e no país.
            Caso uma criança não tenha oportunidade de se exercitar eticamente na escola, aprendendo, inclusive, que é incorreto ir tirando sem cerimônia do caminho quem atrapalha por qualquer razão o coro, o jogo de futebol, o jogo de queimado, a aula de química, em que momento de sua vida cidadã poderá ter tais ensinamentos? Ensinamentos indispensáveis para uma sociedade que diz clamar por justiça social e deseja combater a corrupção e a impunidade.     
            Existe uma grande dificuldade no entendimento do conceito de inclusão porque, para a maioria das pessoas, de qualquer classe social, formação profissional e grau de instrução, as reflexões que têm status levam em conta aspectos do social, do político, do econômico, do cultural, do religioso, do lingüístico, do regional etc, enquanto a inclusão leva em conta o humano, que é a base de todos os outros enfoques acima citados. Pensar sobre inclusão é tentar abstrair o ser social, o DNA social que nos conjuga antes mesmo de nossa concepção. Pensar sobre inclusão é pensar sobre o humano, sobre a diversidade humana que nos caracteriza como espécie.
            Fundamental, nesta dinâmica, é provar para o grupo o quanto estamos equivocados no nosso conceito de ser humano. É hora de assumir quem consideramos como gente e quem não consideramos como gente. O tema central dessa reflexão é a expressão “condição humana”. De que condições humanas falamos quando nos referimos à inclusão? De TODAS, obviamente.


Características da Dinâmica 3

Pergunta-chave – Vocês são gente?

Introdução à pergunta-chave -  É interessante aproveitar essa dinâmica para fazer um “teatrinho” com o grupo. Ao terminar as Dinâmicas 1 e 2, os oficineiros já devem ter observado algumas reações dos participantes e separado algo que possa ser usado para dar início à Dinâmica 3, como uma frase engraçada ou equivocada, sempre mantendo o cuidado de não magoar ou discriminar as pessoas.
            Caso os oficineiros não se sintam seguros para isso, é possível apenas olhar para o grupo fixamente e falar, seriamente, que está sendo difícil fazer aquela oficina, que algo está inadequado e que já foi possível entender a causa dessa inadequação. Dizer para o grupo, então, que a falha foi dos próprios oficineiros, que se esqueceram de uma pergunta importantíssima desde o início da oficina. No caso, além do oficineiro principal ter se esquecido de fazê-la, não foi lembrado pelo outro (pode até haver, nessa hora, uma espécie de discussão leve entre os dois, como se vê em algumas peças de teatro quando o público fica sem entender se aquilo é combinado ou não). Mas, continua o oficineiro, ainda há tempo de reverter a situação e torcer para que finalmente a oficina caminhe como deve ser.
            Nessa hora, o oficineiro fica sério, muito sério, explica que a indagação que virá a seguir costuma gerar constrangimentos, pois toca em um tema de foro íntimo e que, portanto, é compreensível que alguém decida sair da oficina por se sentir invadido ou agredido pela pergunta. Compenetrado e olhando fixamente a roda, de preferência de um em um, o oficineiro faz as perguntas: Vocês são gente?  Quem daqui é gente?

Como deve ser feita - A todos os participantes da roda, indistintamente, esperando para ver quem responde primeiro. O ideal é que várias pessoas respondam. 

Respostas mais comuns à pergunta-chave - “Sei que sou gente porque tenho sentimentos e me comunico”; “sou gente porque tenho inteligência”; “eu sou gente porque tento fazer com que as pessoas tenham seus direitos garantidos” etc.

Comentários do oficineiro (esses comentários devem ser feitos após cada fala dos participantes) – A tendência é que as pessoas comecem a dificultar a resposta à pergunta-chave, ou sofisticá-la. Certamente todos ali são gente, mas será interessante notar os olhares de perplexidade diante dessa indagação. Olhares que surgem quando esta pergunta é feita a pessoas de qualquer formação profissional, idade, classe social etc. O oficineiro deve ir desconstruindo cada uma dessas respostas até encontrar a correta. Diante da indecisão do grupo, será necessário ajudá-lo, e isso pode ser falado claramente. O oficineiro, então, diz que está disposto a colaborar porque percebe que há muita dúvida no ar. E imaginará algumas situações solicitando ao grupo refletir sobre elas.
            Primeira pergunta: “Um assassino cruel que mata a mãe, a corta em pedacinhos e a come com farofa é gente?” 
         Segunda pergunta: “Uma pessoa que fique em coma durante anos deixa de ser gente?”
            Terceira pergunta: “Uma criança que nasce sem cérebro é gente?”
            Quarta pergunta: “Alguém que já morreu, como um bisavô, é lembrado como gente? Ou como um jacaré? Ou um hipopótamo?”
            Os participantes chegarão à conclusão de que todos esses são exemplos de gente.
            É hora do oficineiro perguntar: “Por que é fácil para vocês afirmar que esses exemplos extremos são de gente e, ao mesmo tempo, hesitar tanto em assumir que vocês são gente?”.
            Nessa hora, a reação da turma costuma ser a risada.
            E cabe ao oficineiro afirmar: “Fico feliz, eu não tenho nenhuma dúvida de que vocês são gente”.
            A seguir, o oficineiro deverá perguntar ao grupo como eles chegaram à conclusão de que são gente e dirigir as respostas para que todos cheguem ao seguinte acordo: “Somos gente porque nascemos de gente” ou “somos gente porque somos seres humanos”.
            Diante dessa certeza, vem a última questão proposta pela Dinâmica 3: “O que é que, se eu tirar de vocês, faz com que deixem de ser gente?”.
            O oficineiro deve se preparar, muitas serão as dúvidas. Uma das respostas mais comuns é “o direito”, ou “a dignidade”. Será preciso mostrar que milhões de pessoas no Brasil vivem sem dignidade e sem direitos e continuam sendo gente.
            Em resumo, deve-se avançar até que alguém do grupo diga o que nos caracteriza como seres humanos: a “diferença” ou a “diversidade”. 
           
Provocação 3 –  Pessoas surdas devem ter como objetivo aprender a falar o português para serem incluídas na sociedade? 
            A tendência é que eles respondam que sim. E cabe ao oficineiro  provar que não. A Dinâmica 3 é particularmente útil para explicarmos que a Língua de sinais brasileira é tão humana quanto o português falado e escrito e que, portanto, a vantagem de um jovem surdo aprender a falar o português é a mesma que tem qualquer pessoa quando fala mais de uma língua. É bom falar português e inglês? É. Então também é bom falar o português e a Libras. Ser bilíngüe facilita nosso processo de inserção social? Sim. Que ótimo! Vale para o português e a Libras também. Essa postura é bem diferente de outras que exigem das pessoas surdas serem oralizadas.
            Muitas são as situações de impasse na comunicação geradas com a presença de pessoas surdas nas Oficinas Inclusivas. Aconteceu no Centro de Ensino Médio 01, em Paranoá, no Distrito Federal, na tarde do dia 10 de junho de 2002. Eram 26 adolescentes, entre eles um jovem surdo, dois com síndrome de Down, e mais dois adolescentes ditos como tendo, ambos, deficiência intelectual. Observando-os durante essa oficina, fiquei com muitas dúvidas se eles eram pessoas com deficiência intelectual ou com doença mental (ver Provocação 6). Nessa oficina, como aconteceu com freqüência no Distrito Federal e no Paraná, os jovens surdos aproveitavam o fato de o projeto Quem cabe no seu TODOS? levar um intérprete de Libras para denunciar o descaso com que se sentiam tratados em suas escolas, até mesmo pelos colegas. Aproveitávamos essas situações de denúncia para trabalhar.
            Nesta oficina, começamos a Dinâmica 3 perguntando aos participantes se eles achavam que os jovens surdos ali presentes precisavam aprender a falar pela boca. A maioria disse sim. Foi a deixa esperada para iniciar o “teatrinho” que antecede à Dinâmica 3. Como fizemos? Dissemos perceber uma confusão no ar e a razão pela qual a oficina não estava indo bem é porque nós havíamos nos esquecido de fazer ao grupo uma pergunta fundamental, sem a qual seria impossível ir adiante. Disse que, dependendo da resposta deles continuaríamos ou não a oficina. E fizemos nossa clássica pergunta: “Todo mundo aqui é gente?”.
            Os alunos, com olhares curiosos, responderam aflitivamente sim. Dissemos que se todos ali eram gente, então o jeito como o jovem surdo fala também era humano e, portanto, tinha o mesmo valor da expressão oral. E que, como não existe mais gente ou menos gente - no sentido da qualidade, e não da quantidade - pessoas surdas não são obrigadas a se expressar em um modelo de fala só porque a maioria das pessoas se comunica assim.
            O tema despertou polêmica. O jovem surdo, através da intérprete de Libras, reclamou da pouca atenção que recebia na escola: “As pessoas daqui me perguntam porque eu fico quieto e calado o tempo todo. Eu digo que como não sei ‘falar pela boca’ e quase ninguém fala Libras, eu sou obrigado a ficar na minha. Além disso, os professores não ajudam muito”. Ele também falou da dificuldade de relacionamentos: “Um exemplo disso é que quase não existe namoro entre pessoas surdas e ouvintes. Nós quase não nos comunicamos”.
            Explicamos ao grupo que não estava correto obrigar o jovem surdo a se adaptar a um sistema  já construído e que nega a diversidade. Ratificamos que a responsabilidade pela comunicação entre duas ou mais pessoas é dessas pessoas, em igual proporção. Portanto, os surdos não têm um problema de comunicação. O certo é dizer que nós todos temos um problema de comunicação.
           
Provocação 4 – Você confia em uma pessoa com deficiência da sua idade do mesmo jeito que confia em uma pessoa sem deficiência?
            A tendência é os adolescentes responderem que sim, que eles confiam. Cabe aos oficineiros provar o quanto, na prática, isso raramente acontece. O inverso também é real. Pessoas sem deficiência se tornam uma ameaça às pessoas com deficiência.
            Reproduzimos aqui uma história que “mexeu” muito com a cabeça do grupo  participante de uma oficina em Salvador, na Bahia, realizada na Cipó. Na tarde de 5 de agosto de 2001, em Salvador, começava mais uma Oficina Inclusiva para adolescentesOs estudantes da rede pública municipal estavam em roda. Chega um aluno do Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual do Estado da Bahia (CAP). Cego, ele precisou de ajuda para encontrar uma cadeira vazia. Os jovens se mobilizaram para ajudá-lo. Um deles o reconheceu e disse: "Você vai à praia em Ondina? Acho que outro dia eu estava na areia e você me pediu ajuda para ir até a água. Fomos e fiquei espantado, porque lá você saiu nadando, nadando sozinho, rápido, bem rápido e eu pensei, como que ele, sem enxergar, nada assim?". O jovem cego riu e respondeu: "Era eu sim, vou à praia em Ondina". E, com toda a delicadeza, complementou, para perplexidade do grupo: "Eu me sinto muito mais seguro no mar do que no meio das pessoas, que não estão acostumadas a conviver com cegos". Silêncio. Para a maioria daqueles jovens e das dezenas de outros que participaram das demais oficinas, estar em um único ambiente interagindo e refletindo junto a pessoas de sua geração com deficiência era uma experiência inédita em suas vidas.    

Provocação 5 - Pessoas com deficiência devem ser chamadas de “os diferentes”, “os especiais”,  “os excepcionais”, “ditos-normais” ou “anormais”?
A resposta é não. Novamente, vamos retornar àquela reflexão sobre o conceito de humanidade.  Não nascemos embaralhados, misturados e totalmente diferentes entre si? Não chegamos ao acordo de que ninguém é mais ou menos humano? Mais ou menos gente? Conclusão: não existem modelos de gente. Sendo assim, como dizer que uma pessoa é especial? Ou excepcional? Ou anormal? É especial em relação a que modelo de gente? É anormal em relação a que concepção de normalidade?
Utilizamos essas expressões em relação às pessoas com deficiência com o objetivo de valorizá-las ou, no mínimo, de não desvalorizá-las mas, na verdade, estamos fazendo o contrário, estamos qualificando-as como menos gente e, lógico, disfarçando isso através de expressões elogiosas. Quanto mais “especial” é um assunto ou uma pessoa, mais temos a sensação de necessitar de conhecimentos e de condições especiais para lidar com ela, uma fase de preparo que não tem fim. Essa situação afasta pessoas com deficiência de pessoas sem deficiência.
Aceitando existirem os especiais, os diferentes, os excepcionais, voltamos a raciocinar com base na ética da igualdade, concordando com a existência de padrões de gente e negando a diversidade humana. Como já vimos, as deficiências são uma manifestação inserida no contexto da diversidade humana.

Provocação 6 – Pessoas com deficiência são doentes?

Não, embora também possam ficar doentes. Há uma significativa diferença entre “doença” no sentido genético, abordagem comum entre cientistas e médicos, especialmente os geneticistas, e “doença” como o leigo usa. As síndromes genéticas, por exemplo, são doenças genéticas mas é totalmente indevido considerar como doente uma pessoa que tenha nascido com um cromossomo a mais ou a menos.
A confusão entre os diversos sentidos de “doença” gera o uso equivocado de expressões como: “ele é vítima de paralisia infantil” (o certo é ele tem seqüela de poliomelite) e “ela sofre de paraplegia” (o certo é “ela tem paraplegia”). Imaginemos como deve ser esquisito estarmos nos sentindo bem e as pessoas em volta jurarem que estamos doentes...
Anote também que deficiência intelectual não é sinônimo de doença mental. A primeira expressão se refere a um comprometimento originado por infinitos fatores, temporários ou não, no âmbito do funcionamento intelectual, associado à capacidade que a pessoa tem de responder às demandas da sociedade. Já na doença mental, o paciente tem sofrimento psíquico associado a quadros de depressão, síndrome do pânico, esquizofrenia, transtornos de personalidade etc. 


Provocação 7 – É correto dizer que pessoas com deficiência são mais trabalhadoras e mais eficientes no trabalho?
A resposta é não. Tem sido freqüente que, na tentativa de valorizar as pessoas com deficiência, a sociedade e a mídia façam comentários como “todo funcionário com deficiência é mais motivado e leal ao trabalho” e “toda pessoa surda é mais concentrada”. Afirmações como essas são tão absurdas quanto: “todo gordo é simpático”, “toda mulher com cabelos loiros é burra”, “todo carioca só vive na praia” ou “todo paulista adora trabalhar”.
Explique ao grupo que o conceito de sociedade inclusiva pressupõe um mercado de trabalho aberto à diversidade humana. Isto vai além de cumprir leis que garantam emprego para pessoas com deficiência. Incluir significa inserir pessoas no contexto profissional a partir de seus talentos, nunca de suas limitações (ou do que venha a ser considerado socialmente como limitação).
Suponhamos um roqueiro montando sua banda e, ao entrevistar futuros guitarristas, perguntar se eles têm a unha do dedo mindinho da mão encravada. E o dom musical? Isso não seria tão importante nesta seleção, poderia vir depois.
Esta é uma história absurda, um critério de contratação de pessoal que nos parece sem sentido. E o que dizer de agências de emprego que só cadastrem mulheres com manequim 46 ou homens calvos; descendentes de americanos ou afegãos, adeptos do nudismo ou antropófagos etc? Critérios ilógicos? Mas por que nos soa tão natural que a oferta de empregos para pessoas com deficiência seja feita exatamente assim?
Continuando: será possível existirem cursos livres ou escolas para cada uma das deficiências que existem? Imaginemos uma cidade pequena que tenha um menino cego e uma menina surda, eles deverão ficar sozinhos? Sozinhos em uma escola só para eles? Sozinhos em uma sala de aula só para eles?
A Escola de Gente recebe e-mails e telefonemas de muitas famílias que querem saber onde profissionalizar seus jovens. Nós indicamos projetos que conhecemos e, muitas vezes, recebemos o retorno de que a “deficiência daquele jovem não está prevista” ou que “aquele curso não está preparado para determinada deficiência”. Ou seja, é impossível termos cursos específicos para todas as deficiências que existem e podem existir sobre a Terra.  

Dinâmica 4

Descobrindo o outro

            As Dinâmicas 4, 5 e 6 são complementares. Destas, a 4 é a menos expressiva, podendo ser retirada se o tempo for pouco e houver necessidade de correr com a Oficina Inclusiva. O objetivo da Dinâmica 4 é fazer com que as pessoas se observem atentamente para descobrir o óbvio: o quanto elas são diferentes. Essa é a grande conclusão que deve nortear todo o trabalho das oficinas a partir dessa dinâmica. O oficineiro deve, portanto, ter como meta, deixar bem claro para o grupo o quanto os seres humanos são absolutamente diferentes entre si.
            Como as Dinâmicas 4, 5 e 6 exigem que as pessoas se levantem e se movimentem pela sala, geram um ambiente de bastante descontração. A presença de pessoas com deficiência se torna particularmente importante nessa hora, como exemplifica o relato dessa oficina que foi organizada pelo Grupo 25 e a Cidade Escola Aprendiz, em São Paulo, para alunos da 8ª série da Escola Municipal Olavo Pezzotti
            Na oficina, realizada em outubro de 2001, 28 estudantes de 14 a 18 anos formavam a roda, acompanhados de uma jovem de 23 anos com atrofia cerebral e deficiência motora e outra de 22 anos, com síndrome de Down. As duas representavam a Carpe Diem. Também participavam dois adolescentes cegos da Associação Laramara. 
            Já havia sido muito difícil para a jovem com deficiência motora subir os três lances de escada até a sala de aula na qual aconteceria a oficina. Oferecemos ajuda e ela chegou bastante cansada ao local onde já estavam em roda os alunos da Olavo Pezzotti. Sua chegada causou uma certa curiosidade no grupo. Aproveitamos para perguntar aos estudantes se, além dela, mais alguém ali precisava de ajuda. A maioria da turma respondeu que somente as pessoas com deficiência precisam de ajuda. Alguns admitiram que todos nós precisamos de ajuda, dependendo do momento.
Foi a deixa para começarmos a conversar sobre a relatividade do conceito de deficiência, tema da Dinâmica 2 que, nesta oficina em particular, virou Dinâmica 1 (depois passamos a 2). Tomamos esta decisão para potencializar a reflexão que estava no ar a partir da dificuldade que a jovem com deficiência motora tivera para chegar até a sala de aula. A falta de acessibilidade arquitetônica daquela escola tornava-a mais deficiente. Foi um deslize sério nosso não ter solicitado à escola que a oficina fosse realizada no andar térreo.
            Chegou a hora da Dinâmica 4 e nós pedimos que as pessoas, em pé, em círculo, dessem um passo a frente cada vez que nós solicitássemos, diminuindo a roda. Que exercício simples, certo? Não para a jovem com deficiência motora. O simples passo depreendia tanto esforço que a jovem preferiu se sentar e começamos a pensar como ela poderia participar, mesmo sentada, da dinâmica. Os participantes decidiram que toda vez que eles dessem um passo à frente, dois rapazes do grupo deveriam levantar a cadeira da menina para que ela pudesse se mover dentro da roda também. Assim foi feito inúmeras vezes.
            Tudo resolvido, então? Nada disso. Havíamos encontrado uma forma da jovem com deficiência motora participar, mas outros impasses surgiram porque, a cada passo que o grupo dava para dentro da roda, nós pedíamos que eles se observassem com atenção. Nessa hora, uma dúvida: como fazer para que os adolescentes cegos participassem?
Paramos novamente para reflletir e o grupo sugeriu que cada um deles se descrevesse em duas palavras - uma característica física e outra de temperamento para que os jovens cegos pudessem “olhá-los”. Foi  divertido ver como as pessoas se viam de forma muito diferente do que imaginávamos. Os aparentemente tímidos nos surpreenderam com sua auto-estima. Os mais ousados, por vezes, se descreviam de forma despretensiosa. Às vezes, três pessoas da mesma altura se definiam uma como alta, outra como média, a terceira como baixinha. A turma ria e aplaudiu muito quando o jovem cego disse que era alto e bonito.
            Os quatro jovens com deficiência rapidamente cativaram o grupo, tornando-se esta uma das mais interessantes oficinas realizadas pelo projeto Quem cabe no seu TODOS?. Tudo era novidade e descoberta para os adolescentes com e sem deficiência.
Quando o rapaz cego argumentou que os deficientes visuais estão dando a volta por cima e já andam sozinhos na rua, o grupo se surpreendeu, pois para os jovens comuns andar sozinho na rua é algo corriqueiro em suas vidas e não representa vitória nem resultado de empenho pessoal. 
            Perguntamos ainda se alguém daquela turma já havia convivido com pessoas com deficiência. Apenas três responderam que sim num universo de 28 estudantes.
            Outro momento instigante foi quando discutimos a sensação de exclusão. Os jovens com deficiência afirmaram não se sentir excluídos, enquanto os alunos da 8ª série disseram que muitas vezes se sentem excluídos.
            Os alunos da Olavo Pellozzi perguntaram aos adolescentes cegos como era estudar em uma escola pública regular (eles freqüentavam a Associação Laramara e estudavam em uma escola regular), e isso gerou uma longa e animada conversa, na qual foi explicado, por exemplo, que como os livros em braile são raros, os colegas na escola se revezavam para ditar a matéria para eles.

Características da Dinâmica 4

Pedido-chave –  A um sinal, os participantes da roda, de pé, devem dar um passo em direção ao meio. Este pedido poderá ser repetido várias vezes, até que a roda fique tão apertada que será impossível para seus integrantes não se olharem muito de perto.

Como deve ser feita - A todos os participantes da roda de uma só vez.

Introdução ao pedido-chave –  Essa dinâmica é interessante para fazer as pessoas se olharem com mais atenção e tranqüilidade. Como não somos incentivados a nos olhar, este pedido costuma gerar algum constrangimento. À medida que o grupo for se aproximando do centro da roda, as pessoas costumam ficar impacientes. O ideal é que após cada passo para frente, o oficineiro peça para o grupo se olhar com atenção. A introdução para essa dinâmica não deve exigir qualquer preparação especial. Basta solicitar que o grupo fique de pé e dizer que, a partir dali, terá início uma grande aventura, descobrir o outro.

Respostas mais comuns ao pedido-chave – “Tá muito apertada a roda”; “Não dá para ir mais para frente”; “olhar para o outro como assim?” etc.

Comentários do oficineiro (esses comentários devem ser feitos após cada fala dos participantes) – Pode ser difícil para o oficineiro lidar com o constrangimento da turma e, conseqüentemente, a pressão que é feita para essa dinâmica terminar logo. O objetivo é ir conduzindo o grupo a perceber que a maior descoberta a ser feita é o quanto eles são diferentes, principalmente quando vistos bem de perto. Uns reclamam do calor, outros têm acesso de riso, uns abaixam os olhos, outros demonstram claramente sua impaciência. De onde vem essa impaciência? Provavelmente da pouca prática que temos em observar outras pessoas como realmente são e da estranha sensação sentida por nós quando percebemos que, na verdade, somos muito mais diferentes do que iguais.
  

Dinâmica 5

Quem é o mais igual?

            Esta Dinâmica costuma gerar no grupo uma certa euforia, embora necessite ser explicada várias vezes. Consiste em pedir que cada pessoa do grupo, de pé, na roda, caminhe em direção do participante que achar mais parecido consigo por qualquer razão. Aí começam as dúvidas. Qual é o critério adotado para encontrar na roda o mais igual? A explicação é: qualquer um. Em geral, o grupo segue o que foi dito na Dinâmica 2, na qual cada participante da oficina falou de um talento seu e de uma limitação sua. 
            O que se pretende, com essa dinâmica, só vai ser concluído após a seguinte, na qual pediremos o contrário: que cada um do grupo se dirija para aquele ou aquela da roda que considerar o mais diferente de si.
           
Características da Dinâmica 5

Pedido-chave – Ao ouvir o número três (o oficineiro conta de um a três), cada um, de pé na roda, vai se dirigir para a pessoa do grupo que considerar mais parecida consigo, por qualquer razão. Ao tocar essa pessoa, deve ficar junto dela. E caso ela ainda esteja andando atrás do seu “mais parecido”? Vá atrás dela até tocá-la ou até ouvir o oficineiro dizer “parou”. Na prática, às vezes temos 4, 5 pessoas juntas, porque foram sendo seguidas. Ao ouvirem o “parou” do oficineiro, as pessoas devem novamente se organizar em uma grande roda, mas agora em um novo lugar, perto da pessoa que procuraram ou por quem foram procuradas. Todos rearrumados? Então o oficineiro pede a cada um da roda que diga por qual razão procurou esta ou aquela pessoa. Caso o tempo esteja curto, não pergunte a todos. Escolha umas duas ou três pessoas para falarem. Ou simplesmente pergunte: “quem quer falar?”.

Introdução ao pedido-chave – A introdução a esta dinâmica é muito simples. Basta pedir que os participantes se levantem e ouçam com atenção o oficineiro. Não há necessidade de qualquer explicação extra, a não ser que no grupo existam pessoas aparentemente sem condições de participar da dinâmica. Costuma ser o caso de pessoas cegas que não conhecem os demais integrantes da roda. De que forma vão poder participar? Este é o desafio desse jogo. Caso as pessoas com deficiência visual ou cegas não se manifestem alegando que por não conhecerem o grupo e/ou não poderem se locomover sozinhas estão impossibilitadas de participar, o oficineiro deve ele próprio parar tudo, provocar o impasse, e pedir ao grupo sugestões de como esses jovens podem ser inseridos na dinâmica. Este é um momento importantíssimo das oficinas. A seguir, veja alguns exemplos de como lidamos com esta situação.
Na oficina da tarde do dia 8 de agosto de 2001, em Salvador, para estudantes do núcleo de teatro do projeto O Cidadão de Papel, da Cipó, os dois jovens cegos presentes logo se manifestaram dizendo não poderem participar da dinâmica, pois eram convidados e não conheciam ninguém. Questionado para encontrar uma solução, o grupo ficou em silêncio por alguns minutos até que  sugeriu aos jovens cegos que eles apalpassem o rosto de um a um, idéia considerada constrangedora pelos dois, embora aceita pelo resto do grupo. Levamos cerca de 10 minutos procurando uma solução capaz de agradar a todos. Ela foi dada por um dos meninos cegos e aceita prontamente: as pessoas se descreveriam oralmente para eles.
Uma solução diferente foi encontrada pelo grupo que participou, no dia 23 de outubro de 2001, em São Paulo, do projeto Quem cabe no seu TODOS?. Eram adolescentes de 15 a 19 anos, integrantes de dois programas do Núcleo de Design Social da Cidade Escola Aprendiz.
Estavam conosco duas jovens cegas, representando a Associação Laramara, e mais duas com síndrome de Down, convidadas a participar das oficinas pela Carpe Diem. Quando solicitamos a este grupo que cada adolescente procurasse na roda uma pessoa que fosse bem parecida consigo, as jovens cegas logo perguntaram como poderiam participar. A solução encontrada após um caloroso debate foi original: cada pessoa, da roda, deveria se descrever com uma palavra. Todos se descreveram, mas nos descuidamos na hora H. Quando contamos até três e pedimos a cada um que se unisse aos seus pares mais iguais, as jovens cegas ficaram paradas. Ninguém, inclusive eu, se lembrou de guiá-las ou de ajudá-las a se locomoverem na direção de quem haviam escolhido para par.
            No dia 25 de junho de 2002, em uma Oficina Inclusiva com apenas 13 jovens no Barracão dos Sonhos, no Morumbi, em São Paulo, não havia cegos, mas rápidas reformulações foram exigidas para que essa dinâmica acontecesse. O alerta foi dado por um jovem com paralisia cerebral que disse ser muito difícil para ele se levantar da cadeira e andar na direção de quem considerava ser o mais igual. O grupo pensou e chegou à seguinte conclusão: ao comando do oficineiro, eles não se dirigiriam ao “mais igual”, apenas o apontariam, mantendo os braços esticados. Isso foi possível porque o grupo era pequeno, de apenas 13 pessoas. Que solução encontraríamos se fosse grande? 

Como o pedido-chave deve ser feito - A todos os participantes da roda, que devem agir simultaneamente assim que o oficineiro pronunciar o número três. Atenção oficineiro: só dê início a esta dinâmica depois de se certificar que todos os participantes da oficina a compreenderam e têm como realizá-la, inclusive as pessoas com deficiência. 

Respostas mais comuns ao pedido-chave – “Igual como?”; “pode ser por causa do cabelo?”, “pode ser por causa da roupa?” etc.

Comentários do oficineiro (devem ser feitos ao final da dinâmica) – Pode tudo, mas o oficineiro deve ser cuidadoso para que suas explicações sobre a dinâmica não influenciem os participantes a procurar esta ou aquela pessoa. Evite dar exemplos. Depois que os participantes se manifestarem, o oficineiro deve apenas perguntar: “foi fácil ou difícil procurar o mais igual?”. A resposta do grupo costuma ser: “fácil”. A resposta do oficineiro deve ser: “é porque nos ensinam desde pequenos a nos agruparmos pelas semelhanças”.  

Dinâmica 6
Quem é o mais diferente?

Aprender a não discriminar é um exercício novo que exige dedicação e estudo. Primeiro passo: diagnosticar o que são ações de discriminação; segundo passo: entender o que são ações de não-discriminação; terceiro passo: começar a se exercitar no processo de não-discriminação. Estamos tão habituados a discriminar e a hierarquizar condições humanas que achamos naturais algumas reações nossas e de outras pessoas que, muitas vezes, são altamente segregadoras. A maioria  das ações de discriminação ocorre em nome do excesso de proteção a quem consideramos estar em desvantagem por qualquer razão, principalmente em “desvantagem intelectual”.
Em 8 de outubro de 2001, a presidência da República assinou o Decreto nº  3.956 que ratifica, como Lei brasileira, a chamada Convenção da Guatemala, nome genérico para a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Vimos no início do livro que esta Convenção é a base para qualquer estudo sobre o que é ou não discriminar pessoas com deficiência. 
            Esta dinâmica, que busca apontar “o mais diferente”, tem por objetivo valorizar as diferenças como o único caminho para o exercício de direitos iguais entre as pessoas. Ao contrário do que caracteriza o senso comum, não há nada de errado em apontarmos nossas diferenças, elas não são erros, equívocos, problemas, defeitos etc. São partes de nós mesmos. Procurar as diferenças - próprias e dos outros - é um exercício que expande e estimula as reflexões que nos levarão à construção de uma sociedade inclusiva.        
           
Pedido-chave – Essa dinâmica funciona de maneira parecida à anterior. Ao ouvir o número três (o oficineiro conta de um a três) cada um, de pé na roda, vai se dirigir para a pessoa do grupo que considerar mais diferente de si própria, por qualquer razão. Ao tocar essa pessoa, deve ficar junto dela. E caso essa pessoa esteja andando atrás do seu “mais diferente”? Vá atrás dela até tocá-la ou até ouvir o oficineiro dizer “parou”. Na prática, às vezes temos 4, 5 pessoas juntas, porque foram sendo seguidas. Ao ouvirem o “parou” do oficineiro, as pessoas devem novamente se organizar em uma grande roda, mas agora em um novo lugar, perto das pessoas que procurou ou pelas quais foi procurada. Todos rearrumados? Então o oficineiro pede a cada um da roda que diga porque razão escolheu esta ou aquela pessoa. Caso o tempo esteja curto, não pergunte a todos. Escolha umas duas ou três pessoas para falarem. Ou simplesmente pergunte: “quem quer falar?”

Introdução ao pedido-chave – A introdução a esta dinâmica é tão simples como a da anterior. Basta pedir que os participantes se levantem e ouçam com atenção o oficineiro. Não há necessidade de qualquer explicação extra, a não ser que no grupo existam pessoas sem condições de participar. Todas as recomendações da Dinâmica 5 valem para esta também. 

Como deve ser feita - A todos os participantes da roda, que devem agir simultaneamente assim que o oficineiro pronunciar o número três. Atenção oficineiro: só dê início a esta dinâmica depois de se certificar que todos os participantes da oficina a compreenderam e têm como realizá-la, inclusive as pessoas com deficiência. 

Respostas mais comuns ao pedido-chave – “Diferente como?”; “pode ser por causa da roupa?”, “pode ser por causa do jeito de falar?” etc.

Comentários do oficineiro – Pode tudo, mas o oficineiro deve ser cuidadoso para, com suas explicações sobre a dinâmica, não influenciar os participantes a procurar esta ou aquela pessoa. Evite dar exemplos.
Depois de terminada a dinâmica, o oficineiro deve apenas perguntar: “o que é mais fácil, procurar o mais igual ou o mais diferente?”. As pessoas costumam responder que procurar o mais diferente é mais difícil. Essa é uma constatação natural porque, apesar de sermos mais diferentes do que iguais, não nos ensinaram a nos unirmos ou a nos agruparmos pelas diferenças, e sim pelas semelhanças. Caso o grupo responda que o mais difícil é procurar o mais igual, o oficineiro deve ter a resposta na ponta da língua. Procurar o mais igual contraria a própria diversidade da natureza humana, mas fomos treinados para agir assim. Qualquer pessoa na roda pode ser o mais diferente, mas isso só pode ser falado ao grupo como a conclusão dessa dinâmica.
            Várias são as situações interessantes vividas durante a Dinâmica 6; vamos relatar três, uma em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, outra em Manaus, no Amazonas, e a terceira em Curitiba, no Paraná.
            No dia 20 de maio de 2002, à tarde, realizamos em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, uma oficina para adolescentes que contabilizou 19 participantes, incluindo uma intérprete de Libras, um adolescente com autismo, dois jovens com surdez, um com síndrome de Down e outro com deficiência intelectual.
            Um jovem comum escolheu como o mais diferente um jovem surdo, explicando que “ele é surdo e fala através da Libras”. Apesar dessa diferença óbvia, é raro que a deficiência entre como um critério quando as pessoas procuram o mais diferente. Isso porque geralmente o grupo fica inibido, envergonhado, receoso de apontar a deficiência do outro. A opção do jovem comum pelo jovem surdo pode até parecer ofensiva para muitos, mas seria normalíssima em uma sociedade inclusiva, porque nela reconhecemos e valorizamos nossas diferenças. Não mais tememos o que passamos a conhecer bem.
            Ainda na escolha do mais diferente, o adolescente com autismo justificou sua opção por outro jovem, este comum, com uma resposta bem inclusiva: “Ele é ele e eu sou eu”. É exatamente isso, cada um, todos nós, somos diferentes e o simples fato de ser é o melhor critério para escolher qualquer um como diferente. As oficinas em Mato Grosso do Sul foram realizadas pela Girassolidário, nossa ONG hospedeira no estado.
            Em Manaus, realizamos oficinas com muita diversidade, todas organizadas pela Agência Uga-Uga de Comunicação, nossa ONG hospedeira no Amazonas. No dia 26 de fevereiro de 2002, pela manhã, atuamos com 18 jovens. Estavam conosco um rapaz cego e cinco adolescentes que cumpriam medidas socioeducativas. A entrada destes gerou, nos meninos e meninas presentes, alguma desconfiança. Os demais adolescentes eram alunos de várias escolas de diversos pontos da cidade. Na hora de procurar o mais diferente, foi particularmente interessante notar a interação entre um dos adolescentes - talvez o mais jovem do grupo - e aqueles que cumpriam medidas socioeducativas, alunos da Escola Dagmar Feitosa. O menino, decidido, atravessou a roda e se dirigiu a esses jovens, ficando perto deles até o fim da oficina.

Em Curitiba, nossa ONG hospedeira foi a Ciranda. No Colégio Estadual 19 de Dezembro, que já realiza um trabalho pró-inclusivo, trabalhamos no dia 7 de agosto de 2002 com 28 adolescentes. A escola possui vários alunos com deficiência em suas turmas regulares. Para a oficina foram convidados três adolescentes angolanos cegos e refugiados de seu país e, também, um adolescente com surdez, além da intérprete de Libras.
A faixa etária dos jovens participantes era de 13 a 16 anos e eles pertenciam a 4ª, 7ª e 8ª séries. Na hora de procurar o mais diferente, devido à presença dos jovens cegos, o assunto precisou ser exaustivamente discutido com o grupo. Como eles iriam escolher alguém e se dirigirem a essa pessoa sem enxergá-la? A sugestão aceita foi que os colegas falassem suas características exterior e interior. Entretanto, apesar de todos os nossos cuidados, os três jovens angolanos acabaram não participando da dinâmica, o que gerou frustração em todos.

  
Dinâmica 7

Teste seu TODOS

Este teste, com 37 itens, foi criado e publicado em 1999 no livro Sociedade inclusiva. Quem cabe no seu TODOS?. Seu objetivo é proporcionar uma reflexão sobre o uso leviano da palavra TODOS por pessoas comuns, empresários, líderes governamentais e não-governamentais, TODOS nós, enfim.
Essa forma generosa e leviana - pois livre de questionamentos - por meio da qual nos referirmos ao conjunto de pessoas que queremos e devemos atender é incompatível com os ideais da sociedade inclusiva, que pressupõe, como tantas vezes já comentamos nesta metodologia, um TODOS incondicional, um TODOS-Tudo.
A proposta do Teste seu TODOS é provar o quanto costumamos ser excludentes mesmo quando acreditamos estar agindo no sentido contrário. Então, como saber de que TODOS estamos falando? Quem cabe no TODOS de cada um de nós? Quem cabe no TODOS das políticas públicas? E quem está interessado em responder a estas perguntas? Poucas pessoas, visto que o vocábulo TODOS tem sido utilizado para que os indivíduos possam garantir que estão comprometidos e, ao mesmo tempo, fiquem isentos de dizer com quem. 
Desde meados do século passado, o uso inadequado de expressões como “escola para TODOS”, “saúde para TODOS”, “governo para TODOS” gera confusão até mesmo em documentos nacionais e internacionais com foco nos Direitos Humanos, começando pela própria Declaração Universal dos Direitos da Humanidade, de 1948, que também deve ser questionada na sua abrangência.
O Teste seu TODOS é fácil de ser aplicado porque tem como meta fazer as pessoas pensarem sobre sua própria falta de compromisso ao optarem por expressões como “TODO mundo já acabou?” (comum em salas de aula, dita pela professora). Esta frase em geral é seguida da resposta “TODO mundo”, dada pelos alunos que raramente dão uma mera olhadinha para o lado tentando se certificar do que respondem com tanta naturalidade, convictos, em coro.

Características da Dinâmica 7

Pedido-chave
            Cada um vai marcar com um x, no Teste seu TODOS original, que deverá ser distribuído para cada participante da roda, qual ou quais daquele(s) grupo(s) cabe(m) no seu TODOS. Caso o oficineiro deseje guardar os testes, deverá recolhê-los ao final e distribuir um outro teste, este em branco, para que os participantes possam levá-lo consigo e multiplicá-lo. 

Introdução ao pedido-chave - O oficineiro lembra que sociedade inclusiva é sinônimo de sociedade para TODOS, mas que para garantir isso é preciso sabermos de que TODOS estamos falando.
            O ideal é dar alguns exemplos bem simples. Percorremos o Brasil antes da Copa do Mundo de 2002. Havia a torcida para que o técnico da seleção brasileira de futebol, o Felipão, convocasse o jogador Romário, sendo que dessa torcida participava explicitamente o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (pelo menos era isso que a mídia veiculava), nós fazíamos a seguinte pergunta aos adolescentes e jovens: “Romário cabe no TODOS do Felipão?” e ouvíamos aquele NÃÃÃÃÃOOOOOO bem forte do grupo. Depois, perguntávamos: “Romário cabe no TODOS do presidente? “SIIIIIIMMMMM”, retrucava em uníssono o pessoal.
            Também perguntávamos se eles já haviam chegado alguma vez para a mãe ou avó e falado que desejavam comemorar o aniversário com TODO mundo do bairro, ou da rua, ou da escola. A maioria dizia que sim. Perguntávamos então se neste TODO mundo cabia o menino ou a menina que estava azarando o namorado ou a namorada deles e delas. Diziam que não. Perguntávamos também se neste TODO mundo cabia o vizinho que vivia dizendo que ia pôr veneno para matar o gato ou o cachorro deles. Diziam que não. E assim íamos dando várias opções de pessoas que dificilmente convidaríamos para nossas festas ditas para TODO mundo. O grupo chegava à conclusão de que o TODO mundo era, na verdade, um quase TODO mundo, um TODO mundo bem pequenininho.
            O teste deve começar depois que os exemplos dados tiverem convencido os presentes do quanto eles usam a palavra TODOS sem pensar, como os governantes, os empresários, os professores...  A conclusão do oficineiro, quando o teste acabar, deve ser provar que não importa muito o tamanho doTODOS de cada um de nós, mas principalmente o quanto ele é capaz de crescer. Importante reforçar nessa hora, sempre, o ideal das escolas inclusivas, que por serem abertas à diversidade humana, permitem que o TODOS de cada criança e adolescente cresça rápido, tornando-os cidadãos mais aptos para a vida em sociedade e para colocar em prática o conceito de inclusão.

Como deve ser feito - Ao grupo, pedindo que as pessoas marquem com um x suas opções. Distribua o teste e peça aos participantes que não o leiam até o oficineiro acabar de falar, de explicar o teste e dar os exemplos necessários. Deixe bem claro que este teste não vale nota e que não é preciso nem assiná-lo (seria importante pedir apenas que se coloque a idade e o sexo, para futuras avaliações). Explique também ao grupo que não adianta colar, porque cada um tem seu próprio TODOS em função dos amigos que fez, do bairro ou da cidade onde mora, de sua família etc. O objetivo deste teste é fazer as pessoas pensarem sobre suas dificuldades e sobre as mentiras que contam para si mesmas. Não há respostas certas.
A aplicação do Teste seu TODOS gera, no grupo, muitas contribuições interessantes. Na Escola Estadual Francisco Murgel, em Belo Horizonte, na qual atuamos no dia 15 de abril de 2002, em parceria com a Oficina de Imagens, nossa ONG hospedeira em Minas Gerais, não foi diferente.
Dos 21 jovens, dois eram cegos – um menino e uma menina. Nessa escola, quando começamos a distribuição do Teste seu TODOS, essa jovem deu um exemplo interessante do uso leviano da palavra TODOS no dia-a-dia: “Há algumas semanas um homem esteve aqui na escola oferecendo um curso de informática para todos os alunos. Fiquei bastante animada e procurei saber se eles estavam mesmo preparados para receber pessoas cegas. Ele disse que não. Então não era para TODOS!”, ela lamentou.
            Na Escola Estadual José Bonifácio, também em Belo Horizonte, a oficina tinha 26 adolescentes e aconteceu no dia 16 de abril de 2002. Nesta oficina, houve a predominância de estudantes surdos - eram dez - além de um cadeirante, todos alunos desta escola. Havia também uma intérprete de Libras.
            Ao final da oficina, o grupo estava bem afiado. Perguntamos se o fato de um país ter total acessibilidade garante que ele seja uma sociedade inclusiva. Eles responderam que não, pois se a acessibilidade for considerada alguma coisa para os deficientes apenas e não um ganho para TODOS, o modelo ali instalado continuaria sendo o da integração.
            Na hora de aplicarmos o Teste, colocamos em prática a ideologia da inclusão. Por causa do grande número de pessoas surdas nesta oficina, demoramos o dobro do tempo que normalmente levamos. Como já comentamos neste livro, a inclusão nos trará um novo e revolucionário tempo de comunicação, o qual teremos que aprender e exercitar. A diretora da escola, que nos acompanhava, deu uma sugestão que consideramos excelente, que foi ter o Teste seu TODOS desenhado, pois esta medida, tão simples, facilita o acesso de pessoas surdas às informações ali contidas.

Reações mais comuns ao pedido-chave - “Não estou entendendo”, “é para marcar pelo o meu TODOS de hoje?”, “mas eu não tenho um TODOS definido”, “que critério devo usar?” etc.

Comentários do oficineiro a essas reações - Não entender o Teste seu TODOS é absolutamente natural, pois ele demanda um raciocínio novo, complexo, sendo que só o fato de não ser para nota já deixa os jovens perplexos (sabendo que não é para passar de ano, mais ainda). Quando essas dúvidas surgirem, tranqüilize-os dizendo que cada pessoa ali vai usar seu critério, porque cada um sabe de si, este é um teste de foro íntimo. Nosso TODOS se altera a cada instante...
            Um exemplo que costumávamos dar era que antes de começar a oficina, como  não os conhecia e vice-versa, nós não cabíamos no TODOS um do outro, mas agora já cabíamos, certo? Errado, porque pode ser que eles ali não estivessem gostando nada de mim, do estagiário de comunicação que nos acompanhava e, ao ir embora, jamais pensassem em viajar conosco, nos chamar para sair, para ir ao cinema.
            Com o objetivo de explicar melhor o Teste seu TODOS, dávamos também o exemplo do jornalista, porque jornalista é o primeiro item do teste. Perguntávamos: jornalistas cabem no seu TODOS? Bem, pode ser que o pai, o irmão, a irmã de vocês seja jornalista, e que a casa de vocês viva cheia de jornalistas, que o padrinho de vocês seja um jornalista. Então, é lógico que neste caso jornalistas cabem no seu TODOS. Não, pois pode ser que você não se dê com sua irmã jornalista, ou que ache uns chatos os jornalistas que freqüentam a sua casa, e que seu padrinho jornalista ignore você, nunca tendo ao menos lhe desejado feliz aniversário. Neste caso, sua memória afetiva em relação a jornalistas é péssima. E mais, mesmo vivendo cercada deles, talvez essa pessoa tenha a convicção de que jornalistas não cabem no seu TODOS. Mas pode ser que mesmo assim, você seja tão apaixonada pelo Caco Barcelos ou pela Fátima Bernardes, e aí o que vale acima de tudo é o amor e a admiração que você sente por esses jornalistas, de forma que possa dizer sem remorsos que TODOS os jornalistas cabem no seu TODOS, sim. E por aí vai... É uma linha de pensamento que não tem fim. E se eles continuarem confusos? Ótimo. O teste é para fazê-los pensar e não para obrigá-los a tomar decisões irreversíveis.

Depois do Teste....
            Ao acabar o teste, o oficineiro deve dizer que os enganou, porque este teste tem uma resposta certa sim, revelada agora. Abra um cartaz com os dizeres: “Quem deixou de marcar pelo menos um item deve rever imediatamente o uso que faz da palavra TODOS”. Ou seja, TODOS ali. O oficineiro deve esperar como quase certo que pelo menos um do grupo vá dizer que marcou TODOS os ítens. A explicação é a seguinte e este esclarecimento deve ser dado à roda. Quem marca TODOS os itens, confunde a meta com a realidade. A meta que a sociedade inclusiva propõe é um TODOS enorme, sem tamanho, do qual ninguém fica de fora, o TODOS da inclusão. Mas a realidade mostra que ainda temos um TODOS bem pequeno. Portanto, dificilmente alguém tem condições de marcar todos os itens do teste

A seguir, conheça o Teste seu TODOS e lembre-se de procurar em vários dicionários o significado dos termos que não conhecer antes de começar as oficinas.   

 Teste seu TODOS

Marque com um X quem cabe no seu TODOS
(  )  jornalistas                                                               (  )  operadores
                                                                                           de telemarketing
(  )  políticos                                                                  (  )  deficientes físicos
(  )  deficientes intelectuais          (  )  deficientes sensoriais                                                      
(  ) deficientes motores                                                 (  ) deficientes múltiplos
(  ) antropófagos                                                           (  )  imigrantes
(  ) refugiados                                                               (  )  pernas-de-pau
(  )  seringueiros                                                           (  )  caudilhos
(  )  homossexuais                                                        (  )  catadores de papel
(  )  empregadas domésticas                                        (  )  vendedoras de acarajé
(  )  ciganos                                                                  (  )  nômades
(  )  gueixas                                                                  (  )  sanfoneiros
(  )  sem-terra                                                               (  )  ex-presidentes
(  )  palhaços de circo                                                  (  )  presidiários
(  )  filhos de presidiários                                             (  )  mendigos
(  )  filhas de presidiárias                                             (  )  hermafroditas
(  )  índios                                                                    (  )  índias
(  )  astros de Hollywood                                              (  )  prostitutas
(  )  assassinos                                                            (  )  aposentados
(  )  negros                                                                   (  )  doentes mentais


  
Dinâmica 8
Partilha dos sonhos

            É hora do grupo se despedir e de compartilhar seus sonhos, já realizados ou ainda por realizar. A dinâmica da partilha dos sonhos é uma livre adaptação da vivência que tive junto a vários grupos indígenas em Porto Seguro, Bahia, no ano de 1999, durante o II Encontro das Tribos Jovens, organizado pela Corpos Íntegros e demais parceiros, como o Instituto Arapoty, de São Paulo, coordenado pelo índio Kaká Werá Jekupé. Há um capítulo descrevendo essa experiência em meu livro Sociedade Inclusiva. Quem cabe no seu TODOS?.
            No último dia do encontro, na Reserva da Jaqueira, na floresta, vivi a partilha dos sonhos, precedida pelo Toré – conjunto de manifestações artísticas e danças que representam a filosofia Kariri. Por quase uma hora, dançamos o Toré. Depois, jovens e adultos, índios e não-índios, dividiram-se em grupos pelas clareiras da Reserva. Sentados em círculo, cada integrante da roda revelava seu sonho.
            Com autorização de Kaká Werá, comecei a fazer a partilha dos sonhos em alguns workshops e depois, também, nas Oficinas Inclusivas. O que sugiro aos oficineiros é fazer algo muito simples, distante da complexidade e da beleza da verdadeira partilha, apoiada em crenças indígenas – um ritual. Mas como dividir sonhos evoca sempre emoção e entrega, as partilhas costumam agregar bastante valor à proposta das oficinas.
            Lembramos que a Dinâmica 8 pode ser substituída por qualquer outra cujo objetivo seja arrematar com fé no ser humano e no futuro da humanidade o trabalho realizado. Em algumas oficinas, por sugestão dos participantes, cantamos ou dançamos músicas deles. É importante estar aberto a sugestões do grupo. Aliás, esse é um bom teste para saber se os oficineiros estão realmente abertos à diversidade.

Características da Dinâmica 8

Pedido-chave - Cada um vai revelar para o grupo um sonho seu já realizado ou que deseje muito realizar, qualquer sonho, de qualquer natureza, relacionado ou não ao que vivemos juntos nas últimas horas.

Introdução ao pedido-chave - O oficineiro deixa claro que está terminando a oficina, e o quanto foi importante para ele conviver por três - ou mais - horas com o grupo. Solicita aos participantes da roda que se tornem multiplicadores do conceito de sociedade inclusiva, disseminando as dinâmicas aprendidas e as reflexões para seus familiares, amigos, vizinhos, professores, companheiros no esporte etc. É interessante perguntar se alguém do grupo já imagina como fará isso (melhor ainda é quando, após a oficina, há um tempo reservado para organizar esse processo de multiplicação). Após essa pré-despedida, o oficineiro pede para todos se levantarem, mantendo-se no mesmo lugar. Solicita que o imitem e começa a esfregar as mãos abertas uma na outra, palma com palma, sempre a direita sobre a esquerda. O encontro da palma direita com a palma esquerda deve formar uma linha horizontal na altura do queixo. Essa fricção dura alguns minutos. Quando o oficineiro se certificar de que todos do grupo já conseguiu fazer o que foi pedido corretamente por algum tempo (um ou dois minutos), pára de esfregar suas mãos. E inicia um novo movimento: mantendo a direção horizontal das mãos, vai afastando-as; a direita caminha para a direita, a esquerda caminha para a esquerda, como se estivessem deslizando, até que encontrem as mãos de quem está ao lado. O grupo, então, fica de mãos dadas que, sem se desgrudarem, podem ficar relaxadas ao longo do corpo. Neste instante, o oficineiro diz que será iniciada a partilha dos sonhos. Cada pessoa vai descrever seu sonho.  

Como deve ser feita - A todos os participantes da roda, individualmente, seguindo a ordem. Os oficineiros ficam para o fim.

Respostas mais comuns ao pedido-chave - “Não tenho sonhos”, “tenho tantos sonhos que não consigo escolher um” etc.

Comentários do oficineiro a essas respostas - O oficineiro deve transformar este em um momento sagrado. Cada sonho é sagrado, do mais simples ao mais rebuscado, do mais óbvio ao mais secreto, do mais prático ao mais ideológico. Caso algumas pessoas hesitem em falar, peça ao restante da roda que abaixe a cabeça, em sinal de respeito ao sonho do companheiro que está prestes a se manifestar. Esta é uma forma de deixar os mais tímidos à vontade, pois de cabeça baixa, ninguém conseguirá olhar ninguém.

 Agora é com você

             E assim termina uma Oficina Inclusiva.
            Leia, a seguir, um resumo da bibliografia que deverá ser utilizada para o estudo do conceito de inclusão na escola, no trabalho, na legislação e nos espaços sociais.
            No site da Escola de Gente há mais sugestões, além de textos que irão ampliar diferentes aspectos do conceito de sociedade inclusiva abordado neste livro.
            Imagine o que ainda temos para contar dessas 89 oficinas! Também estaremos aguardando, para reproduzir em nosso site, os relatos, as histórias e os textos que os novos oficineiros irão nos enviar. Vamos estar juntos sempre, trocando informações e aprimorando a metodologia das Oficinas Inclusivas.
            No mais, um grande abraço. E, bem, não resistimos à tentação de dar os últimos recados...

·         Mantenha acessa a chama de sua curiosidade sobre o próximo para que você se torne um oficineiro capaz de se surpreender e de transformar.
·         Tenha sempre visão crítica sobre os livros e textos que ler. Será que eles são mesmo sobre inclusão? Ou sobre integração?
·         Defina de que forma vai avaliar e monitorar cada oficina, em função dos resultados desejados, antes mesmo de começar a organizá-la. Peça ajuda para quem entende do assunto.
·         Ofereça aos participantes, ao final de cada oficina, propostas concretas de como eles podem se tornar multiplicadores do conceito e da prática da inclusão. No caso de adolescentes, essa medida é ainda mais importante. Discuta com seus parceiros, já durante a fase de organização das Oficinas Inclusivas, quais serão as oportunidades oferecidas para os jovens Agentes da Inclusão começarem a atuar imediatamente.


 Sugestões de bibliografia


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